O zootecnista Carlos Zilioti, que gerencia o departamento de vendas da Alltech, participou de uma sessão de perguntas e respostas sobre suplementação de bovinos de corte no programa desta segunda-feira, dia 18.
Em síntese, o especialista opinou que o setor passou por evolução de tecnologia, mas carece ainda de planejamento para seu uso, sobretudo na safra, quando ele consegue reservar alimento para a próxima estação seca.
“Eu acho que a gente precisa pensar um pouquinho mais também não só na suplementação, mas no cocho, para ter essa reserva de volumoso na fazenda para o inverno”, sugeriu.
Confira a sessão de perguntas e respostas sobre suplementação de bovinos de corte a seguir:
– Como fazer um confinamento para 100 bezerros Angus? Quero confinar com baixo custo. Qual o tempo que sugere para a entrada da bezerrada no cocho? (Luiz Felipe, de Mineiros-GO)
Zilioti: “O primeiro ponto é que baixo custo não quer dizer baixo desembolso. Gastar pouco não quer dizer que vai ter dizer baixo custo. A gente sempre comenta que a fase mais barata, que você tem mais retorno do investimento em suplementação ou fornecimento de ração para o animal, é quando ele está na fase inicial, quando é bezerro ou na recria. E geralmente é quando a gente negligencia mais a suplementação de bovinos de corte. Então se você der um ou dois quilos de ração para um bezerro num creep feeding ou na recria, o retorno dele em ganho de carcaça vai ser muito maior do que você der um quilo ou dois para um animal já adulto, que está em fase de terminação. Se você quer fazer um confinamento com baixo custo, se for baixo custo de estrutura, a gente tem opção de fazer essa suplementação de bovinos de corte a pasto, uma terminação intensiva pasto, você pode chegar a até 2% do peso vivo de suplemento para o animal. Mas um ponto que eu te falo é o seguinte: para baixar custo, você deve otimizar ganho de arrobas no pasto e, principalmente, nesta fase de bezerro, na recria. E na terminação, aí a eficiência do animal cai um pouco porque ele vai depositar muita gordura. Mas intensifique essa fase do animal jovem, que aí você vai reduzir custo de produção. Mas não quer dizer que você vá gastar pouco”.
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– Gostaria de saber se posso usar a ureia agrícola para a fórmula do sal proteinado? (Wellyton Henrique Vieira Nepomuceno, de Bom Sucesso-MG)
Zilioti: “Essa é fácil: não! Para explicar para quem não conhece, a gente tem diferença da ureia pecuária para a agrícola e é uma questão de impureza. A ureia agrícola pode ter algum resíduo de adubo, ela tem um pouco mais de impureza misturada. Quem já viu um bag de adubo na roça, sabe que vai ter ali às vezes um pouco de mistura com outros ingredientes, como cloreto de potássio, alguma fonte de outro fertilizante, e corre risco de ter metais pesados, alguns componentes que vão atrapalhar tanto o desempenho como dar algum problema para o animal. […] E a ureia pecuária é a indicada para nutrição animal, então ela tem menos impureza, ela tem um processo de qualidade, de limpeza, de padronização melhor do que a agrícola. E a gente, como técnico, tem que orientar que a indicação do Ministério da Agricultura é o uso da ureia pecuária”.
– Qual o proteinado bom para gado de leite e gado de corte ao mesmo tempo? (Weverton Gomes de Sousa, da região de União Bandeirantes, da capital Porto Velho-RO)
Zilioti: “Eu preciso saber qual é a produção desse animal. Então, por exemplo, se eu tiver uma vaca de leite que tenha uma produção baixa, em torno de cinco a dez litros por dia, é mais ou menos o que uma vaca Nelore, dependendo da genética, vai produzir ali no começo da lactação se eu tiver um volumoso adequado, seja pasto ou alguma fonte de forragem. E o suplemento vai ajustar somente a proteína, deficiência de minerais. Aí eu posso usar o mesmo. Mas, por exemplo, se eu tiver uma vaca holandesa, de 30 litros (de leite por dia), e um animal de corte de recria, cuja exigência de minerais é um pouquinho mais baixa, não vai combinar. Então primeiro é verificar se a taxa de produção dos animais, tanto de corte ou de leite, são próximas. Muitas vezes as pessoas perguntam, já que a fazenda é pequena, se vai ter que usar sal para vaca, um para recria, outro na engorda… Às vezes dá para gente usar um meio termo e ajustar o consumo, um proteinado. Mas o ideal é saber um pouco mais da produção do corte e do leite para ver se elas estão no mesmo nível de performance para ver se é comparável. Mas, no geral, o proteinado vai corrigir a deficiência do pasto. Então, se eu estou na seca, com um pasto com baixa proteína e eu coloco uma fonte de suplemento com proteína, vai ajudar”.
– Qual a importância da nutrição e da automatização mecânica no fornecimento do trato em relação a prevenção sanitária da boiada? (Lyron Alves, de São Carlos-SP)
Zilioti: “Uma silagem bem feita, se a gente compara com uma silagem que teve algum problema no processo de produção, ou o próprio milho, com um milho que é colhido com mais umidade da roça e não passa por secador, que fica armazenado na fazenda de maneira incorreta, você pode criar algumas situações desafiadoras. Por exemplo, se tiver fungos da ração ou silagem e isso passar para o animal, tem ali um desafio de micotoxinas, por exemplo, e levar até a morte ou baixar a imunidade, ter problema de aborto, de perda de desempenho. Então, com certeza, precisa cuidar dessa qualidade não só dos ingredientes, mas do fornecimento para os animais. É essencial”.
– “Qual a importância dos suplementos minerais no aumento da lotação de UA por hectare? O suplemento pode ser o principal alimento para o gado? (Aureliano Rocha, de São João dos Patos-MA)
Zilioti: “Uma brincadeira que a gente faz quando, às vezes, você visita uma propriedade que está, como você falou, no final da seca, sem pasto, tudo ‘rapado’, aquela situação de fim de seca, e aí o produtor fala que o suplemento não está segurando o gado, aí eu costumo brincar. Eu digo que vou colocar ele para carpir o dia inteiro e, ao invés de levar uma marmita na hora do almoço, eu vou dar um comprimido para ver se vai dar a energia e a proteína que ele precisa. Realmente, a suplementação de bovinos de corte é o complemento. Você tem ali um animal que, se você pegar uma vaca de 400 kg de peso vivo, ela vai comer dez quilos de matéria seca de pasto. Se for um pasto verde, são quase 40 kg de pasto por dia. Então, 100 g de suplemento mineral não vão substituir 40 kg de forragem, de pasto.
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– Quais os possíveis problemas que os bovinos podem ter, ao serem alimentados com dietas não convencionais, para baratear o custo de produção, em alternativa à soja e o milho? (Arthur Costa, de Maceió-AL)
Zilioti: Essa dúvida cresce muito quando tem alta de insumos, dos mais tradicionais, como milho e soja. Aí surgem os subprodutos, coprodutos, ou resíduos, enfim, alternativas para baixar o custo. Mas esse é um ponto muito importante: tem coisas que estão proibidas por lei, como a cama de frango e alguns outros resíduos que possam conter produtos de origem animal. A gente não pode usar aqui no Brasil e eles pode causar problemas nacionais, de exportação e tudo mais. Mas vamos pensar no que é possível usar. Por exemplo, resíduo de soja, alguns ingredientes que são subprodutos de outras indústrias. Tem uns muito bons, por exemplo, a polpa cítrica, o caroço de algodão, a casca de soja. Se usados corretamente na formulação (da dieta), eles ajudam a melhorar o suplemento, a ração, e baixar custo, sim. Mas, por exemplo, a casca de soja: se eu substituir uma ração em que vão 80% de milho e colocar 80% de casca de soja, eu vou baixar o custo, mas eu estarei desbalanceando esse suplemento e vou ter um resultado de ganho de peso, de ganho de carcaça ou produção de leite menor. Então o risco seria mais para esse lado, de ter um alimento que não está seco, não está bem armazenado, por ter fungo, micotoxina, e causar morte dos animais. Mas a utilização de produtos alternativos a gente faz e para isso é legal consultar um técnico de empresa comerciais ou professores de universidade, profissionais de suporte técnico da sua região para adequar a formulação”.
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Pelo vídeo a seguir é possível assistir a sessão de perguntas e respostas com o especialista da Alltech na íntegra:
Foto ilustrativa: Ureia + Sulfato de Amônio – Dalízia Aguiar / Reprodução Embrapa