Seu olho está calibrado? Saiba como fazer seleção visual para gado de corte

Zootecnista ajuda criador a interpretar características do método EPMURAS para equilibrar o rebanho comercial ou selecionar reprodutores

O olho do dono é que engorda o boi? A frase pode ser parcialmente verdadeira, desde que a “ferramenta” do olho humano esteja bem treinada e calibrada, disse em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, dia 18, o zootecnista e doutor em produção de ruminantes João Gonsalves Neto, criador do canal Portal da Pecuária no Youtube, que conta com 114 mil inscritos e mais de 11,5 milhões de visualizações em seus vídeos.

“Esse olho humano é a ferramenta mais antiga que você tem para avaliar bovinos. Então o produtor rural já usa isso, só que ele precisa treinar, calibrar, precisa saber o que olhar. […] Se ele vai comprar uma bezerrada, ele usa, se ele vai comprar um reprodutor, ele usa, mas ele precisa treinar e calibrar esse olho, saber o que olhar e avaliar. Isso realmente não é fácil, mas, com a prática, você vai treinando esse olho, calibrando esse olho, e você fica um expert. Lembrando que a avaliação visual é apenas mais um método de seleção. Nós temos, por exemplo, ganho de peso, as provas de ganho de peso… mas a avaliação visual é importante porque vai dizer a composição deste peso, quais as proporções de musculatura, gordura e osso que esse animal tem e isso é muito importante para ajudar o produtor a selecionar os animais mais precoces e produtivos”, apresentou Gonsalves.

Para auxiliar o produtor a sintonizar o olho com as demandas modernas da pecuária de corte, o zootecnista desenvolveu um curso a partir do método de avaliação visual EPMURAS, que leva em consideração os seguintes aspectos físicos de um animal: Estrutura Corporal (E), Precocidade (P) e Musculosidade (M), Umbigo (U), Raça (R), Aprumos (A) e Sexualidade (S).

“Se um produtor, por exemplo, quer comprar uma bezerrada, ele vai saber identificar a bezerrada (veja na ilustração em destaque acima) cabeceira, meia e fundo? Se ele quer comprar um reprodutor, ele vai saber identificar qual reprodutor é melhor para o seu rebanho? Isso é importante também. Avaliação visual não é uma verdade que serve para todas as fazendas, vai existir um reprodutor melhor para a sua realidade e outros para outras realidades. Então você precisa identificar o biotipo ideal para o seu manejo, para a sua realidade. Não existe um biotipo ideal para todas as realidades”, ponderou.

Na sequência, o especialista detalhou como identificar e trabalhar cada característica visual dos animais. “A estrutura corporal vai avaliar a altura do animal, o comprimento de carcaça. Quanto maior a estrutura corporal, você vai ter carcaças mais pesadas. […] Se você selecionar animais com alta estrutura corporal, são animais de alto porte, vai aumentar a exigência nutricional. Principalmente as matrizes grandes têm uma menor eficiência reprodutiva e são menos precoces, e periodicidade é fundamental para se abater um animal precoce, abater um animal com 18 a 20 meses. E é fundamental que esse animal tenha uma acabamento de carcaça. Você vai identificar animais que vão apresentar um acúmulo de gordura melhor, você vai ter musculosidade, que vai dar um rendimento de carcaça melhor, você vai ter umbigo, que é fundamental para reprodutor. Se o reprodutor tem o umbigo penduloso, vai lesionar com mais facilidade, vai dar muito problema. A parte racial tem um valor de mercado, é importante. […] Bons aprumos são fundamentais, pois nós estamos num país tropical em que 90% da engorda é feita a pasto e a criação nossa é a pasto, então o animal precisa ter bom aprumo para caminhar, pastejar, comer sal mineral, andar longas distâncias. E no reprodutor também é fundamental para fazer a monta, o salto. E tem a parte sexual, em que o macho tem que ter cara de macho, fêmea tem que ter cara de fêmea e isso é fundamental para a reprodução, ter os órgãos sexuais bem desenvolvidos”, resumiu.

Gonsalves reuniu dicas para o produtor trabalhar as características dentro de seu plantel e sua relação com produtividade. “Quanto à estrutura corporal, você vai ver o animal de lado e vai traçar um retângulo imaginário (imagem abaixo). Quanto maior a área ocupada dentro desse retângulo, melhor vai ser a estrutura corporal. A estrutura corporal avalia a altura do animal e o comprimento da sua carcaça, então animais com alta estrutura corporal vão ser mais pesados ao abate, vão ter carcaças mais pesadas, maiores. Então o animal realmente tem que ter um tórax amplo, largo e profundo e isso é fundamental tanto para produção de carne quanto para a precocidade. Na prática, essa questão de tórax amplo, largo e profundo é fundamental, o animal vai apresentar uma maior capacidade de digerir alimentos, maior consumo de matéria seca, mais capacidade respiratória e circulatória, vai ser um animal com maior área de olho de lombo, maior rendimento de carcaça”, explicou.

O zootecnista indicou que o produtor deve fugir dos extremos na avaliação pelo método EPMURAS. “Quanto mais alto o animal, quanto mais comprida a sua carcaça, maior vai ser a sua estrutura corporal. Então quando você vai comprar um reprodutor ou uma bezerrada, avalie a a estrutura corporal. E estrutura corporal é fundamental para carcaças maiores, carcaças mais pesadas, mas não são em todos os sistemas de produção que você vai querer animais muito altos. Sempre o ideal não são os extremos. Não é o animal com alta estrutura corporal, nem o animal pequeno. O ideal é o animal que vai se ajustar ao sistema. Às vezes o animal com escore corporal 5 para estrutura corporal é melhor do que o animal 6, que é muito grande, muito alto, e animais muito grandes apresentam uma maior exigência nutricional também”, explanou.

“Quanto maior a proporção de profundidade de costela e a altura dos membros, quanto maior essa proporção, mais costela e menos perna, mais precoce é o animal”, simplificou.

“Ele cessa o crescimento muscular mais rápido e começa a acumular gordura de forma mais precoce, por isso que a raça Angus tem uma perna mais curta, a Hereford (foto abaixo) tem a perna mais curta, o Brahman […] São animais com excelente acabamento de carcaça, são animais precoces que vão acumular carcaça de forma mais precoce”, ilustrou João.

Porém, ao optar por animais maiores, o produtor deve ter consciência do desempenho do bovino, conforme observou o zootecnista. “Esse animal que tem um porte muito elevado, uma estrutura corporal alta, ele vai ter uma carcaça pesada, mas ele não vai ter um acabamento de carcaça precoce. Isso nós temos que entender: tem que ter um equilíbrio entre estrutura, precocidade e musculosidade. Ele tem uma boa estrutura, ele é alto, mas ele não tem uma boa precocidade, ele é um animal pernalta (foto abaixo) e esse baixo arqueamento de costela vai ser um animal mais tardio, vai atingir o ponto de abate mais tardiamente e isso o produtor não quer. Ele quer a pecuária de ciclo curto, girar rápido e abater o animal o mais rápido possível com um bom acabamento de carcaça”, sustentou.

O doutor em produção de ruminantes também explicou qual deve ser o frame ideal quando o produtor encara o animal de frente. “Ele tem que ter um peito amplo, largo e profundo, uma boa amplitude torácica, e isso reflete na capacidade do animal sempre andar, circular, pastejar. O animal que tem um tórax amplo, largo e profundo vai conseguir pastejar em longas distâncias, vai ter uma profundidade de costela maior. Ter um tórax amplo, largo e profundo reflete em um bom arqueamento de costela também, isso se reflete em maior área de olho de lombo e rendimento de carcaça. Um animal com peito amplo, largo e profundo vai apresentar também um maior rendimento de carcaça”, relacionou.

Goncalves advertiu que para que o produtor faça a avaliação adequada, a comparação entre animais deve seguir certos critérios. “É importante que, entre esses animais que serão avaliados, a diferença máxima de idade seja de 30 dias pra você não ser injusto com o animal mais novo. Os animais têm que ser criados no mesmo manejo, você não pode dar ração para um e sal mineral para o outro e querer avaliar, querer que sejam iguais. Tem que tirar todos os fatores ambientais do meio, tem que ser criados no mesmo manejo”, reforçou.

Para a avaliação de reprodutores, o zootecnista destacou a relevância da altura do umbigo. “Você tem umbigo (nota) 1, que é muito curto, e umbigo (nota) 6, que é muito penduloso. A gente não quer nem o umbigo muito curto, porque interfere na monta, o umbigo muito colado no corpo é ruim, e nem o umbigo muito penduloso, que também é ruim porque o animal está mais predisposto a lesões”, explicou.

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Na escolha dos reprodutores, tanto machos, como fêmeas, os aprumos bem alinhados também são essenciais. “Tanto para a monta, para fazer o salto, como para sustentar o peso dele no jarrete, quando ele faz o salto, o seu peso todo está centrado nas duas pernas traseira e é o jarrete que segura aquele peso ali. Então o angulação de jarrete com os aprumos é fundamental para o touro sustentar aquelas duas patas quando ele faz a monta e também para o salto. Se ele não tiver bons aprumos, ele não consegue saltar. Aquele touro que tem a perna de frango, que tem a perna muito reta, ele não consegue ficar em pé quando monta na vaca. Então os aprumos são fundamentais tanto para o salto quanto para sustentar o touro – e é importante para a matriz também sustentar o peso do touro”, contextualizou.

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Segundo o zootecnista, o curso completo de avaliação visual seguindo o método EPMURAS está disponível em seu próprio site, o Portal da Pecuária, junto com cerca de 1.300 vídeos com acesso gratuito voltados à capacitação na pecuária de corte. “É um curso prático, é um curso objetivo, não tem enrolação, é um curso que eu ensino passo a passo como ele vai avaliar esses animais para compra ou para seleção”, justificou.

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Assista no vídeo a seguir a entrevista completa com João Gonsalves Neto ao Giro do Boi:

 

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