Conforme revelou ao Giro do Boi desta quarta-feira, dia 12, o pesquisador da Embrapa Solos Aluísio Andrade, engenheiro agrônomo, mestre e doutor em agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a erosão, umas das maiores inimigas da agricultura tropical, pode ser contida facilmente em seu início ou mesmo prevenida com práticas simples de serem aplicadas no dia a dia das fazendas.
“A erosão pode ser considerada um dos maiores inimigos da agricultura tropical e a cada ano arrasta toneladas de solo, diminuindo a capacidade de produção do nosso solo, trazendo uma série de problemas tanto dentro quanto fora da propriedade. […] Podemos estimar que aproximadamente 20% das nossas terras apresentam algum tipo de degradação e a erosão acaba avançando nestas áreas que já sofreram algum impacto”, apresentou o pesquisador.
No entanto, de acordo com Andrade, o problema não fica restrito somente às áreas mais desgastadas nem respeita fronteiras geográficas. “E aí a gente tem problemas desde áreas de antiga ocupação, como, por exemplo, esta região do médio Vale do Paraíba, do Rio Paraíba do Sul, onde a gente teve muita geração de riqueza com a produção do ciclo do café e hoje em dia várias destas áreas encontram-se fortemente degradadas. Também tem problemas em áreas novas, principalmente em áreas de solos mais frágeis, solos arenosos. Se a gente der um giro por esse nosso Brasil, a gente vai encontrar problemas nas diferentes regiões, mesmo em áreas com grande índice de preservação, como a região amazônica, a gente tem problemas porque são regiões em que chove muito e a erosão acaba avançando muito”, alertou. O doutor em agronomia indicou que o Pantanal sofre processo similar com o assoreamento do Rio Taquari, por exemplo, cujo curso foi inclusive alterado e causou erosão em partes do bioma por conta do excesso de sedimento arrastado para a planície.
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O especialista ajudou o produtor interessado no diagnóstico precoce da erosão, feito a tempo de prevenir o agravamento do problema. “Estes primeiros sinais estão relacionados à falta de cobertura de plantas no solo. Quando a gente começa a observar que o solo está ficando muito exposto, é um alerta que pode nos orientar que aquilo ali não está funcionando muito bem. Estes solos que estão expostos, mesmo que pequenas áreas, quando a gente vai somando isto no conjunto da propriedade, a gente acaba tendo um sério problema”, disse o especialista.
Aluísio avisou que as áreas sem cobertura vegetativa podem começar a sofrer com as chuvas, principalmente se as precipitações foram muito volumosas, facilitando o início do que se entende por erosão laminar. “A cada chuva, os impactos das gotas de água incidem sobre estas áreas sem cobertura vegetal e começam um processo mais superficial, que a gente chama de erosão laminar. E muitas vezes as pessoas só começam a dar alguma atenção quando esta erosão se transforma num sulco ou até mesmo numa voçoroca, que aí o estrago já está feito, já é muito grande, são aqueles enormes buracos que se formam na terra. Mas o ideal é que a gente consiga barrar este processo, segurar esta erosão já no início, naquela fase de lavagem superficial, como gente chama, quando a enxurrada está arrastando mais na superfície, ainda não se aprofundou no sulco. Eu diria que este é o primeiro sinal, o primeiro alerta é observar se a área está bem coberta, está protegida e se não está tendo muito arrasto de sedimento nestas áreas”, indicou.
Embora seja um processo natural, a erosão pode ser desencadeada por ação humana, segundo indicou o agrônomo. Práticas inadequadas de manejo, como as ações de maquinário morro abaixo ou morro acima podem danificar a estrutura do solo, a superlotação de pastagens ou o uso de máquinas pesadas podem levar a uma compactação que também facilita o início do processo erosiva, alterando cursos de água e levando toneladas de solos e sedimentos a rios, matas e reservatórios, disse Andrade.
Para contribuir com os produtores que querem prevenir o problema, o engenheiro agrônomo resumiu os princípios das boas práticas de manejo de solo de modo a evitar a erosão. “O agricultor, em geral, já é um grande guardião das suas terras. Ele sempre quer, claro, melhorar a sua produção, mas muitas vezes, como a erosão é um processo natural, ele não considera, ele não consegue identificar aquilo como um problema. Então o que a gente pode fazer?”, anunciou.
OBSERVAÇÃO
“O primeiro passo é ficar atento, observando se esta terra está sendo lavada, se estão sendo formados sulcos nestas áreas ou processos maiores (como a voçoroca)”.
PLANEJAMENTO
“O ideal é a gente planejar inicialmente muito bem a nossa atividade. Como? Escolhendo as áreas mais propícias para a produção na propriedade, ou seja, as áreas que têm mais potencial para produção agrícola, e utilizando culturas mais indicadas para cada uma das faces da propriedade. Eu diria que o primeiro passo é planejar muito bem a atividade agropecuária dentro de cada propriedade rural. E mesmo que esse planejamento seja mais antigo, é necessário que a gente possa replanejar esta propriedade, por exemplo, indicando culturas perenes, culturas que têm ciclos mais longos para as áreas um pouco mais inclinadas, seguindo a nossa legislação ambiental, preservando as áreas de proteção permanentes na propriedade”.
DIVERSIFICAÇÃO DE CULTURAS
“Procurando sempre, de certa forma, diversificar a nossa produção. A monocultura acaba que também interfere neste processo porque como só tem uma cultura, a área radicular desta planta explora uma única camada do solo. Quando eu diversifico estas culturas, eu estou propiciando uma maior retenção de solo, uma melhor exploração deste solo e também uma maior cobertura deste solo”.
ADOÇÃO DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS
“O segundo passo é adotar as práticas conservacionistas, que envolvem coisas simples, como, por exemplo, o plantio em nível. A gente deve sempre plantar seguindo as curvas de nível do terreno, isso é muito importante, principalmente em área com maior inclinação.
[…]
“É fundamental que a gente maneje a fertilidade desses solos e também que a gente inclua algumas práticas que a gente considera práticas mais estruturais, como práticas mecânicas, por exemplos, os terraços, as bacias de captação, tudo isso visando barrar a força da enxurrada e aumentar a infiltração de água no terrenos. Os princípios da agricultura conservacionista passam pela ausência de mobilização do solo, e nós temos exemplos magníficos no nosso país, como sistema de plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, os sistemas agroflorestais. A gente tem uma série de exemplos que segue estes princípios”.
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NUTRIÇÃO DAS PLANTAS
“A gente também não pode esquecer que as plantas precisam estar bem nutridas, então é necessário que a gente faça análise desse solo, siga as recomendações de adubação e correção desse solo”.
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MANUTENÇÃO DA COBERTURA DE SOLO
“O terceiro princípio é que a gente mantenha esse solo sempre coberto, seja utilizando resíduos da cultura anterior ou seja, por exemplo, utilizando uma cobertura viva. Tudo isso visando proteger o solo e, ao mesmo tempo, melhorar as suas propriedades. Melhorar, principalmente, conteúdo de matéria orgânica deste solo, que vai favorecer agregação, estruturação e, certamente, vai melhorar também a infiltração de água, vai melhorar a produção de água nesta propriedade”.
Segundo o pesquisador, o produtor pode escolher as plantas de cobertura conforme seus objetivos (tipo de cobertura e resíduo que quer deixar no solo), sua região e perfil de solo, entre outros. Aluísio acrescentou que as plantas de cobertura não necessariamente precisam ser de interesse econômico e podem servir ao mero objetivo de proteger este patrimônio do produtor.
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DIÁLOGOS PARA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
O pesquisador destacou ainda em sua entrevista o lançamento que a Embrapa promoveu no último dia 28 de julho, Dia do Agricultor, da série “Diálogos para conservação do solo e da água”. A primeira edição trouxe um webinar focado no combate à erosão, reunindo especialistas no tema e também exibindo os três vídeos vencedores de um concurso que serviu de primeiro ato para a Campanha Nacional de Combate à Erosão.
O webinar serviu também para promover o PlanoSoloÁguaBr. “A fim de combater o aumento da degradação do solo e da água, a equipe da Embrapa Solos aprovou uma projeto para elaboração do Plano Nacional de Gestão Sustentável do Solo e Água (PlanoSoloÁguaBr), que vai atuar em cinco frentes: legislação, integração ensino-pesquisa-extensão e fiscalização, prevenção, conservação, recuperação e monitoramento”, diz material divulgado pela Embrapa.
Andrade convidou os produtores e demais agentes da agropecuária brasileira a acompanharem a série “Diálogos para conservação do solo e da água” e levarem suas contribuições para as discussões em torno do tema.
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Assista a participação completa de Aluísio Andrade no Giro do Boi desta quarta, 12:
Foto: Agência de Notícias / Embrapa