Saga do Nelore vai da Índia até protagonismo na produção da carne brasileira

Presidente da Nelore Minas lembra chegada da raça ao Brasil e destaca aquecimento do mercado de genética e objetivos da associação para 2020

Nesta terça, 10, o Giro do Boi exibiu entrevista com o presidente da Associação Mineira dos Criadores de Nelore, Roberto Mendes Alves, economista e pecuarista titular da Fazenda do Sabiá, um dos principais criatórios de todo o país.

Em sua participação, Alves falou sobre a Expoinel Minas 2020, lembrou a saga do Nelore desde a chegada no País até se consolidar como a raça-mãe do rebanho brasileiro na produção de carne bovina e ainda falou sobre como os pecuaristas superaram um momento de indefinição para o setor ao final de 2018, retomando as expectativas e aquecendo o mercado de genética.

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Roberto iniciou destacando o sucesso da Expoinel Minas, evento ocorrido no início de fevereiro reunindo para julgamento 600 cabeças entre animais das raças Nelore, Guzerá e Girolando. Na ocasião, a Fazenda do Sabiá, recebeu os títulos de melhor criador e melhor criador supremo.

O pecuarista lembrou da história do criatório, muito ligada às raízes do Nelore no Brasil. “Criar Nelore envolve uma coisa que se chama paixão. Eu não conheço um nelorista, um zebuzeiro, para ser mais abrangente, que não tenha paixão envolvida. Eu estava há pouco tempo lá em Uberaba e eu nunca tinha entrado no Museu do Zebu, você acredita? Porque é sempre correria, leilão, eu fico muito envolvido nas atividades. E fui ver o documentário sobre a importação de 1962 e aquela história. O Dico (tratador José da Silva) nos ajudou bastante. Para os que estão assistindo, que são novos na história, o seo Dico é um ícone do Nelore. Na época ele não tinha formação acadêmica nenhuma, não falava inglês nem nada e foi desbravar o interior da Índia e simplesmente achou o Karvadi. Se você for lá atrás em toda genética da Sabiá, você vai ver o Chumak e vai ver o Karvadi. E o arrojo e o empreendedorismo do seo Torres (Torres Homem Rodrigues da Cunha) em importar um touro, pegar um navio… Ele vendeu um prédio para comprar o Karvadi. Um prédio em Belo Horizonte. Você vê o risco disso hoje”, relembrou Alves.

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O presidente de Nelore Minas contou ainda como os pecuaristas superaram recente momento de indefinição que teve seu auge no período eleitoral de 2018 para aquecer de forma expressiva o mercado de genética no Brasil. “O ânimo deste mercado, e eu acompanho na pele porque eu que recebo os produtores lá (na Fazenda do Sabiá) e eu sinto o que eles estão falando. E realmente houve uma mudança de rumo muito grande de 2018, em que naquele período de indefinição eleitoral foi para mim o fundo do poço de expectativa, mas dali de novembro de 2018 a novembro de 2019, até fevereiro de 2020, nós tivemos uma mudança de expectativa espetacular”, celebrou.

O criador destacou que a procura esteve tão aquecida que inclusive no dia 31 de dezembro do ano passado havia compradores de touro visitando a Fazendo do Sabiá. Roberto frisou que em 2019, o leilão da marca aumentou em 50% o faturamento líquido, enquanto o shopping cresceu 70%. Já neste ano, por exemplo, a oferta foi superada pela demanda e o volume de animais acabou sendo insuficiente para que o criatório pudesse organizar seu leilão.

Para Alves, esta procura por genética está vinculada aos incentivos que os pecuaristas recebem para a produção de carne em volume e qualidade. “Esse incentivo através deste programa estimula desde o produtor e isso vai chegar em nós, porque eles vão buscar genética em quem? No produtor de genética. Então ele é um programa que vai (impactar) sobre toda a cadeia do Nelore”, comentou, fazendo referência ao Programa Nelore Natural, protocolo de bonificação que premia com até R$ 10,50 animais da raça pela qualidade da carcaça (veja mais detalhes abaixo):

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Segundo Roberto, a lição que o setor traz desta superação recente é que mesmos nos momentos de indefinição, investimentos em genética, em manejo do gado, em pastagens e em nutrição acabam compensando. O presidente da Nelore Minas advertiu ainda que o pecuarista não pode confundir custos com investimentos.

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Alves falou em sua entrevista também sobre as prioridades da Associação Mineira dos Criadores de Nelore para 2020. “O objetivo nosso é cada vez fomentar mais as exposições dentro de Minas Gerais, dando apoio logístico aos sindicatos rurais, à captação de novos expositores, ao fomento da raça. A gente está precisando principalmente dar um apoio maior ao norte de Minas que tem potencial […], é uma região que sofreu muito com aquela seca de 2013”, acrescentou. Segundo o presidente da entidade, a associação conta atualmente com 62 integrantes, número com potencial significativo para expansão devido ao tamanho do estado e ao número de criadores da raça.

“Em termos de (Fazenda do) Sabiá, é continuar (o trabalho). Começamos com o pé direito, fomos o melhor criador e o melhor criador supremo dentro da Expoinel Mineira, temos os desafios da Expozebu, da Expoinel nacional, das regionais. Vamos disputar o ranking este ano, se Deus quiser, nos sagrar o melhor criador. Este prêmios são muito importantes para agregar valor, mas eu falo que é um rally de regularidade. A Sabiá, desde que começou a fazer pista no início, sempre se mantém ali no topo. Ser o melhor não é o objetivo, é uma consequência. A gente quer sempre estar no comparativo, estar no topo, fazendo campeãs e dando genética nova ao mercado”, concluiu.

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Veja a entrevista completa com Roberto Mendes Alves pelo vídeo abaixo:

 

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