“Reunião taca pedra” ajudou criador a corrigir problema e acelerou engorda de bois em SP

Através de reunião com a equipe, pecuarista soube do risco de escassez de água que tinha em sua fazenda e colaborador indicou a solução para o problema

A seca da última safra foi, possivelmente, um fator importante no aumento médio da mortalidade de gado nas fazendas brasileiras de pecuária. Foi o que constatou em entrevista ao Giro do Boi nesta sexta, dia 09, o zootecnista Antonio Chaker, diretor do Inttegra, analisando os números das fazendas para as quais ele presta consultoria e que integram sua base de dados para o benchmarking.

Mas uma das propriedades se antecipou ao problema e, para diminuir os riscos de tomar prejuízo, utilizou uma ferramenta que faz parte da metodologia do Programa Fazenda Nota 10, focado em capacitação em gestão e comparação de resultados. A Fazenda Ciriana, localizada em Ipeúna, estado de São Paulo, resolveu seu problema usando a “reunião do taca pedra”.

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“Quando eu coloquei o nome de ‘reunião de revisão de tendência trimestral’, um pecuarista até me falou ‘esse nome tá muito chato. Precisa até usar blazer pra fazer reunião com esse nome. Então vamos mudar para taca pedra?’ Eu falei: ‘perfeitamente!’ Porque o que a gente mais faz nessa reunião é tacar pedra, então vamos tacar pedra! Aí a gente adotou imediatamente e daqui para frente é só reunião do taca pedra, mas ela é organizada, é estruturada. A reunião tem início analisando os dados, o que foi combinado no último trimestre, analisa meta, o que está dentro e fora do estabelecido. E o que está fora do que foi combinado, é onde entra o momento de tacar pedra”, explicou o consultor Antonio Chaker, coordenador do programa Fazenda Nota 10.

“Na verdade, tem pedrada carinhosa. […] O taca pedra tem mais a nossa cara, onde as pessoas ganham justamente essa coragem ou essa liberdade para falar o que está ruim, já que a gente não evolui apenas comemorando o que está bom. A gente evolui, inclusive, encontrando o que está ruim. E ninguém melhor do que a própria equipe da fazenda para dizer que não concorda com aquilo, que não está bom. Então o taca pedra é o momento em que todo mundo ganha liberdade de realmente falar o que não está bom. Por isso que a gente apelidou ela de taca pedra”, justificou.

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TEM QUE COMBINAR COM OS RUSSOS

Segundo Chaker, a reunião serve para organizar um momento propício para encorajar os funcionários a tomarem atitude. “As opiniões dos colaboradores são bem vindas a todo momento, porém existe um ritual que é justamente você combinar um momento quando as pessoas ganham mais força para falar. Nós criarmos uma cultura em que as pessoas têm a liberdade de falar, de combinar, de dar a sua opinião, é o ponto mais importante de uma empresa”, destacou.

“Você lembra daquela história de combinar com os russos, da Copa de 1958? Foi quando chegou o técnico (da Seleção Brasileira Vicente Feola) e falou para o Garrinchafaz isso, faz aquilo, dribla um, dribla dois e chuta e faz o gol’. E o Garrincha olhou para o técnico e falou: ‘mas o senhor já combinou com os russos que nós vamos fazer isso?’. Então ‘combinar com os russos’ é estar sempre alinhado e dar opinião é fundamental. Porém quando você tem uma rotina em que as pessoas se preparam para levar as melhores ideias e analisam número, esse feedback, esse momento de ouvir a equipe e ouvir gente de fora leva a fazenda para outro nível. Então é ouvir todo dia opinião, porém com um marco em que as pessoas realmente levam a ideia de uma forma mais profunda”, frisou o especialista em gestão de fazendas.

“TACA PEDRA” NA PRÁTICA

O pecuarista Rangel Denardi, proprietário da Fazenda Ciriana, explicou como usou a “reunião do taca pedra” para solucionar um problema que aumentava muito os riscos de sua fazenda. “Foi interessante porque essa ‘reunião do taca pedra’, quando a gente combinou com o pessoal, com a equipe, todo mundo ficou com um pé atrás e nós tranquilizamos, dissemos que era para falar o que devia ser dito. E sentamos junto com o Antonio (Chaker), com o Rodrigo (Gennari), e a gente fez a reunião e ficou focado em número, ganho de peso, ração e rodízio de pasto. Mas o Ramalho (funcionário) trouxe uma dificuldade na hora de cada um falar o que achava que estava ruim. Ele, que cuida das águas do confinamento, na ânsia de crescer e melhorar, falou que estava preocupado com a água porque no ano passado a seca foi ‘braba’, as minas ficaram em situação complicada. E ele tinha razão. A gente fica olhando tanto número e às vezes esquece o básico. E era a água. Então ele levantou esse problema e a gente tentou resolver”, recordou Rangel.

Para solucionar o problema, Rangel adotou a simples medida de construir um poço artesiano na Fazenda Ciriana. “Na verdade, a gente estava correndo um risco de faltar água. Mas agora, como diz o pessoal, hoje ‘nóis tamo carçado! Tamo no páreo’”, contou, bem humorado, o pecuarista.

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IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA NA “REUNIÃO DO TACA PEDRA”

Chaker ponderou que é essencial que para que um programa de gestão, como o Fazenda Nota 10, e suas ferramentas pontuais, como a “reunião do taca pedra”, surtam efeito, a propriedade precisa de um bom líder – e enalteceu o papel do pecuarista na construção de uma propriedade mais eficiente e produtiva.

“O Rangel tem uma característica de liderança muito forte, ele tem uma abertura para ouvir a equipe, ele tem prontidão de fazer as mudanças necessárias quando a equipe sugere. O Rangel é batedor de meta. Para dar um exemplo do que aconteceu no último fechamento, nós tínhamos uma meta, por exemplo, para os machos ganharem 550 gramas e a Fazenda Ciriana bateu 670 gramas. A meta das fêmeas era para ganhar 450 gramas e elas ganharam 556 gramas. Então eles têm uma atitude com a equipe deles muito forte, que é com o Renato, com o Richard, que trabalham lá e fazem as coisas acontecerem muito bem feitas. Ao mesmo tempo, eles têm o desafio de seguir outros avanços. Quando eles chegaram em 670 gramas, o Ramalho, que é outro dos colaboradores mais importantes de lá, disse que agora quer buscar os 700 gramas. Foi quando o Rangel perguntou o que ele precisava para chegar nesse ganho e aí, naturalmente, a equipe responde. Então ele tem essa prontidão, ele gosta de número e dá condições para a situação evoluir. Tanto que ele passou de 18 para 23% de margem (sobre a venda) agora do segundo para o terceiro trimestre”, revelou Chaker.

Ganho de peso médio diário de machos e fêmeas ficou acima da meta estabelecida em reunião do programa Fazenda Nota 10.

Rangel contou ao Giro do Boi a contribuição do Programa Fazenda Nota 10 na evolução da Fazenda Ciriana. “A gente começa a ver nos números que a plataforma te entrega onde está ruim. A gente, por exemplo, estava com um volume de arrobas produzidas um pouco baixo, a margem estava abaixo da média, o resultado em reais por hectare também estava um pouco baixo. Mas não é só ver os problemas. Com esses números a gente começa a ver as oportunidades, tem bastante coisa para você ver. Para atingir determinado número, é claro que não é de um dia para o outro. Você começa a mudar e chega devagarzinho. Com o tempo, você melhora os seus próprios números. Isso é o mais importante. A gente colocou meta de ganho de peso. E quando você tem números, fica mais fácil para você atingir”, destacou.

“Eu conheci (o Fazenda Nota 10) através do Giro do Boi. Eu vi que na pecuária faltava um sistema para a gente ter mais números e ingressei no programa. E aí lançando os dados na plataforma do programa, a gente começa a ter bastante números, começa a ver e comparar com outras fazendas. Essa é a grande sacada – você começa a ver onde está indo bem, onde você não está bem para corrigir o que não está indo tão bem”, opinou.

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Equipe da Fazenda Ciriana pronta para “tacar pedra” em busca de mais produtividade.

“O Rangel está lutando, já buscou profissionais que ele está trazendo para a fazenda para equilibrar os problemas. O que está bom, ele vai comemorar. O que está ruim, ele vai resolver e seguir adiante. E o mais importante é que ele vai superar as 11 arrobas por hectare que a gente busca no ciclo completo em um baita esforço dele. Então ele manteve os ganhos sempre acima da referência”, reconhceu Chaker.

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Confira no vídeo a seguir a entrevista completa com Antonio Chaker, do Inttegra, e Rangel Denardi, da Fazenda Ciriana:

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