Ao passo que no primeiro trimestre de 2021 as vendas do setor de sêmen bovino no Brasil cresceram 28%, as comercializações de genética das raças Hereford e Braford evoluíram acima da média – 48% e 56%, respectivamente. Foi o que confirmou em entrevista ao Giro do Boi nesta segunda, dia 19, o médico veterinário Miguel Ferreira, consultor em pecuária de corte, titular da MF Assessoria Genética e inspetor da Associação Brasileira de Hereford e Braford. O especialista comentou também quais foram as principais razões para o aumento expressivo.
Ferreira celebrou o fato de que as raças estão pulando a cerca das fronteiras da Região Sul, ganhando mais território Brasil afora. “A gente está muito contente com essa evolução, com essa expansão das raças saindo da fronteira dos três estados. […] A gente nota que o pessoal está experimentando uma outra opção de cruzamento industrial, visando produzir carne de qualidade em quantidade porque no momento que a gente trabalha com Hereford em cima da vacada Nelore, a gente tem algumas vantagens que são únicas dessas raças. Então o pessoal está começando a descobrir isso, o que é muito gratificante”, observou.
“Existem características que são inerentes à raça Hereford e temperamento é uma delas. Temperamento, para que saibam, é uma característica de média herdabilidade, ou seja, a raça consegue, no cruzamento com a vacada Nelore, transferir essa característica, que é altamente positiva para seus filhos. A gente já sabe hoje, e a pesquisa nos mostra, que temperamento brando é igual a maior desempenho, seja a pasto, seja no cocho, e isso se traduz em eficiência alimentar, que é uma coisa que a gente vem falando e a pesquisa vem nos mostrando o melhor caminho para a gente ser mais eficiente, ou seja, consumindo menos alimento para entregar o mesmo ganho de peso. E a raça Hereford é pioneira nesse quesito”, apontou Miguel.
O veterinário quantificou as vendas de genética Hereford e Braford como os primeiros números consolidados de 2021. “Houve um crescimento de vendas no primeiro trimestre de 2021 em relação a 2020 de 28% (geral). A raça Hereford cresceu 48% e a raça Braford cresceu 56%. Elas cresceram acima da média de crescimento de vendas. A gente fica muito feliz e a gente está percebendo que não só nos três estados do Sul. A gente observa também em São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Minas, que cada vez mais vêm testando e usando o Hereford em cima da vacada Nelore. Também quem já tem algum cruzamento, já tem alguma meio-sangue, usando o Braford, que é das sintéticas que anda muito bem em cima de qualquer meio-sangue. Então a gente está muito contente mesmo com esse crescimento”, destacou.
Miguel informou quais as recomendações da associação e dos especialistas quanto ao uso dos touros a campo. “A gente sempre recomenda que o touro Hereford seja usado até o estado do Paraná em função de temperatura e do Paraná para cima, use Braford à vontade. Como gerente de fomento, eu viajo bastante Brasil afora e tenho visto clientes que têm touros Hereford em Minas Gerais trabalhando bem na vacada branca. Não é o que a gente recomenda, mas a raça, devido ao seu temperamento, à sua pelagem vermelha, se adapta muito bem. Mas quanto ao Braford, nós temos modelos de produção, se quiser, no Maranhão. Eu digo produtores de genética, e o que dirá do pessoal que tem touro rústico cobrindo a campo… Tem no Sergipe, Pernambuco, tem no Pará… Então, como o touro Braford carrega toda essa rusticidade que vem do zebuíno e temperamento e pelagem que o Hereford concede, ele se adapta muito bem, sim, e a gente cada vez mais tem conseguido produzir animais para trabalhar nos diversos biomas do país. A questão de carrapato mesmo, nós já temos animais de linhagens identificadas que menos suscetíveis. Então a gente vem fazendo um trabalho muito consistente, muito sério para entregar ao produtor essa alternativa para produzir carne de qualidade com quantidade”, declarou o consultor.
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Ferreira resumiu algumas das ações da Associação Brasileira de Hereford e Braford para fomentar a expansão das raças no País. “A associação é pioneira no programa de carne de qualidade. Ela criou o primeiro programa de carne de qualidade nacional, que foi o Programa Carne Pampa, hoje o programa Carne Hereford e, nesse sentido de difundir as raças, a gente teve a ideia de mensurar os resultados dessa F1, dessa meio-sangue Hereford x Nelore. A gente foi buscar parcerias na Embrapa Cerrados, com o doutor Cláudio Magnabosco, onde fomos muito bem recebidos, e a gente levou a ideia para ele, já que ele, como fez doutorado nos EUA, conhece e teve a oportunidade de trabalhar, de viver o que é o Hereford. Então ele mesmo comenta que às vezes viu Hereford na parte boa, parte média e na parte ruim dos sistemas produtivos. Então ele acreditou no projeto e a gente montou essa parceria que a gente tem lá em Nova Crixás e em Mundo Novo nas fazendas da Agro Tamareira, onde estamos com a vacada inseminada e elas vão parir nessa estação para a gente começar a avaliar desde o peso ao nascer desses animais, passando por peso à desmama, peso ao sobreano. E os animais machos serão avaliados para eficiência alimentar e serão abatidos, quando nós teremos, no final do processo, a validação da qualidade da carne. Então veja que é um trabalho bem complexo, mas eu tenho certeza que a gente vai poder estar entregando ao produtor, ao pecuarista nacional touros que realmente façam aquele novilho que o produtor deseja”, projetou.
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A ideia é extrair os melhores indivíduos para o cruzamento industrial e acelerar a expansão das fronteiras da genética britânica do Hereford nos trópicos. “Hoje o produtor que faz cruzamento senta no escritório, abre o catálogo de quatro, cinco ou seis centrais de inseminação e tem uma enorme gama de touros e de dados desses touros. Mas daí a saber qual o touro que vai andar melhor no cruzamento com o zebuíno, o criador já não tem muita referência. A gente está tentando justamente criar um atalho para esse caminho, buscar fazer esse caminho ficar mais rápido e entregar para o produtor touros que funcionam melhor que outros em cruzamento. Com isso, a gente vai ficar com esses dados mais na mão para o produtor errar menos, porque é uma gama muito grande de touros e, às vezes, a gente erra na escolha […] e o criador acaba se frustrando para fazer cruzamento industrial. Mas com essa parceria com a Embrapa, a gente quer pesquisar e validar esses dados. […] Acho que em breve teremos muito bons resultados para estar entregando aos produtores de gado de corte nacionais”, antecipou Miguel.
Miguel comentou ainda os registros de alguns lotes que foram destaque no Giro do Boi dentro do quadro Giro pelo Brasil e que foram certificados para o Protocolo 1953, que produz a linha homônima de carnes premium. “A gente que vive pecuária, que trabalha com pecuária há bastante tempo, fica muito feliz de ver o resultado. O que esse gado agrega desde dentro da porteira, que é a nossa grande preocupação? Porque é evidente que ele se habilita para o Protocolo 1953, o que é ótimo, bárbaro e o produtor teve bonificação por isso, mas a gente também preconiza que se esses animais (novilhas) ficassem na fazenda, se fosse precocinhas, acasalariam com 12 meses fácil, porque a precocidade é muito grande”, salientou.
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Além da precocidade sexual, o veterinário listou outras características que fazem com que o Hereford e seus cruzamentos retornem margem para o bolso do criador. “A pelagem a gente sabe […] que é importante. A pelagem vermelha reflete muito os raios solares, ao contrário da pelagem escura, que absorve os raios solares, e isso se traduz em menor desempenho. Veja que o desempenho do Nelore é fantástico e o Nelore tem pelo branco. O Nelore consegue refletir até 90% dos raios solares que batem sobre o pelo e a pele. Então isso é mais desempenho. Outra coisa que é importante falar é a questão do temperamento. O temperamento também se traduz em desempenho. E outra grande vantagem que a gente fala desses ganhos dentro da porteira é que a raça Hereford […], nas várias simulações que fizeram (estudo de uma empresa canadense sobre eficiência alimentar), conseguiu consumir em torno de 230 gramas a menos para entregar o mesmo ganho de peso. […] Isso é ganho dentro da porteira, ou seja, se você tem um cruzamento em que o animal come menos para entregar o mesmo ganho, que produza a mesma carne de qualidade, com marmoreio, com o mesmo peso e nesse tempo de abate e confinamento em torno de 100 a 120 dias, opa, você tem que fazer as contas”, indicou.
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Ao final da entrevista, Miguel Ferreira deixou os contatos da Associação Brasileira de Hereford e Braford à disposição dos criadores que desejaram mais informações a respeito das raças e seus cruzamentos.
+ Acesse aqui a área para contatos no site da ABHB
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A entrevista completa com o veterinário e consultor Miguel Ferreira está disponível pelo vídeo a seguir: