Nesta terça, dia 08, o Giro do Boi apresentou como destaque entrevista com a doutora em zootecnia Janaína Martuscello, professora da Universidade Federal de São João Del-Rei, em Minas Gerais. Em sua participação, a especialista tirou dúvidas sobre manejo de pasto e de solo, como forrageira ideal para pisoteio do gado, silagem, integração, entre outros.
Confira na lista a seguir os telespectadores que tiveram suas situações esclarecidas por Martuscello, que também é líder da área de capacitação em pastagens do programa Fazenda Nota 10:
1 – Como controlar uma invasora que está se alastrando nas pastagens de Pangola nas áreas úmidas? Como seria o controle sem atingir o pasto? (Macks Sandro Oliveira, de Jacundá-PA – confira vídeo enviado pelo telespectador no player mais abaixo nesta página)
Martuscello: Planta invasora, o quanto antes a gente entrar com combate, o quanto antes a gente entrar com ataque, menos nós vamos gastar. Então é muito importante que ele faça o controle, nesse caso, seletivo. Isso está parecendo um tiriricão. […] Existe herbicida seletivo para essa planta. Ele tem que fazer aplicação localizada o mais rapidamente possível. Porque essa planta forrageira compete fortemente com a planta por nutrientes e vai haver uma diminuição na produtividade do pasto. E, consequentemente, queda na taxa de lotação. Além disso, essa é uma planta que tem um valor nutritivo horrível, é refugada pelos animais, então não vai trazer resultado. Então é importante que ele faça o quanto antes esse combate localizado para retirar essas plantas da pastagem. […] O tipo de herbicida, a dosagem que vai aplicar, o efeito residual, tudo isso um profissional vai poder dizer para ele. Mas o mais importante é que ele não demore para tomar essa ação.
2 – Quero começar a criar garrotes em pastejo rotacionado. Tenho oito hectares e queria saber quantos animais consigo criar. E partindo do tamanho da área, qual será meu custo? (Lucas Ribeiro, de Barreiras-BA)
Martuscello: Isso a gente vai ter que responder com o nosso bom e velho ‘depende’. Não é esquivando da resposta, não. Mas dizendo que realmente depende. Antes de a gente falar qualquer coisa, o que eu gostaria de deixar claro é que a gente sempre tem que pensar em taxa de lotação, não em cabeças. É muito importante a gente fazer essa avaliação. A taxa de lotação é medida de unidade animal por hectare, que leva em consideração o peso. Então esses seus garrotes vão ter variação de peso o tempo que eles forem ficar com você. Eles entram com 300, vão sair com 450 kg, então é uma variação de peso. Por isso a gente não pode falar em cabeças.
Então nós vamos falar em taxa de lotação, sendo que uma unidade animal é um animal com 450 kg de peso. Então a quantidade de animais que você vai colocar nesses seus oito hectares vai variar de acordo com a planta forrageira que você vai escolher, porque determinadas plantas produzem mais. Elas vão suportar uma maior taxa de lotação. Outras plantas produzem menos, então vai ser uma menor taxa de lotação.
Só que vale salientar que quanto mais produtiva for a planta, mais exigente em fertilidade ela vai ser. Provavelmente também mais exigente será o manejo. Então para que você aumente o número de animais, você tem que ter uma dedicação maior ao seu sistema de pastagens. Então é o manejo que vai determinar o número de animais e é importante salientar isso. E o custo também vai depender da planta, vai depender do número de piquetes, do nível tecnológico que você vai adotar. Se você quiser intensificar um pouco mais, você vai ter maior custo. Vai depender da distância da água até os seus piquetes. Então tudo isso vai variar no custo, por isso a pergunta é muito relativa mesmo. E depende.
3 – Qual melhor forma de controle de espinho de juá? Existe algum produto para aplicação? (Roberta Prado, de Primavera do Leste-MT)
Martuscello: Isso é muito comum em pastagens. Tem como controlar e ele tem uma vantagem, por ser sensível a herbicida. Então a gente pega qualquer herbicida de folha larga e consegue exterminar. Mas eu quero aproveitar um gancho para poder falar para o pessoal que muitas dessas plantas invasoras que surgem são oportunistas por causa de acidez de solo. Então é importante a gente sempre fazer uma análise e fazer um controle porque aí fica mais fácil a gente acabar. A gente faz esse controle integrado em que a gente não usa só o herbicida. A gente usa junto também o bom manejo de pastagem, fazendo uma reposição de nutrientes. […] O pecuarista já entendeu que precisa fazer reposição.
4 – Em minha propriedade, faço aplicações periódicas de herbicidas para controle de ervas daninhas na pastagem. Gostaria de saber se existe algum produto que possa misturar no herbicida com a finalidade de demarcar o local onde já foi aplicado, para que não ocorra de jogar novamente no mesmo espaço ou deixar de jogar. (José Rômulo Dutra Soares, de Caputira-MG)
Martuscello: Essa pergunta dele é interessante. Primeiro porque ele faz o controle anual, isso já é bom porque ele já sabe que a planta invasora compete com a planta dele. Perfeito, ele está fazendo esse controle. Então parabéns para ele por estar tomando essa atitude!
Agora, o mais interessante disso tudo é que a própria planta invasora é que vai dar para ele a demarcação. Então é muito importante que ele faça aplicação somente mesmo, como ele colocou, em locais que estão infestados. A gente não tem como demarcar isso porque a gente não sabe onde vai aparecer (a planta daninha). Então ele vai ter que fazer aplicação, se eu entendi bem a pergunta dele, onde efetivamente a planta daninha aparece.
Mais uma vez eu falo da importância de o produtor fazer uma análise de solo para fazer o controle integrado de plantas invasoras. Quando a gente faz o controle integrado, a gente tem mais sucesso. Então é importante que, além da aplicação do herbicida, ele faça também o controle dos nutrientes que estão faltando para completar e para que essa luta contra a planta invasora a gente consiga vencer mais rapidamente.
5 – Posso fazer silo ensacado com o capim molhado? (Sidnei Rodrigues, de Augusto de Lima-MG)
Martuscello: O grande inimigo do processo de fermentação, porque a silagem é um processo de conservação por fermentação, é água. Água é um grande inimigo. Então é muito importante que a gente faça colheita do capim quando ele estiver com os níveis de água adequados para fermentação.
E se esse capim estiver molhado, eu não recomendo você fazer ensilagem porque o processo fermentativo não vai acontecer. Você vai gastar com sacos, já que você está falando de silagem ensacada, e são sacos próprios. Não é qualquer tipo de saco que você pode usar no processo de ensilagem. Vai apodrecer, não vai fermentar e você não vai ter o resultado esperado. Então, colher a planta forrageira no momento correto é muito importante.
E se você perceber que a forrageira não está com o teor de matéria seca adequado, pode-se adicionar alguns produtos, aditivos que podem sequestrar essa umidade. Por exemplo, fubá é um bom aditivo. A gente trabalha com uma porcentagem em torno de 10% do peso total que vai ser inserido no saco. Então é importante sequestrar essa água para que o processo fermentativo se dê de forma adequada.
6 – Qual a melhor forma de plantio, espaçamento e melhor época do plantio para o consórcio capim com milho e capim com sorgo? (Daniel Silva, de Paulistana-PI)
Martuscello: Essa pergunta é muito interessante, também bastante recorrente. Então hoje os processos de renovação, recuperação de pastagens via integração lavoura-pecuária têm sido muito utilizados. E isso é extremamente interessante. Essa foto que você estão vendo é um consórcio que nós fizemos na universidade de capim Tamani com sorgo (veja foto à esquerda abaixo).
Nesse caso, o espaçamento foi de 0,7 m entre as linhas de sorgo e nós colocamos o capim nas entrelinhas. Qual é a melhor época que a gente vai fazer isso? Exatamente no começo do período chuvoso. Por quê? Porque o ciclo da lavoura é mais rápido, você vai colher o milho e o sorgo. Essa foto é o capim Tamani após a colheita do sorgo, veja que maravilha de capim ficou (veja foto à direita abaixo). Ficou muito bom isso, a gente retirou o sorgo, fez a ensilagem desse sorgo e o pasto está lá até hoje, já tem três anos que o pasto está lá, é maravilhoso, com uma boa taxa de lotação, manejado em sistema rotativo. E foi feito integração lavoura-pecuária. Nós recuperamos essa área em integração lavoura-pecuária.
Então o início do período da chuva é o momento correto de se fazer esse processo de integração. Você vai respeitar o espaçamento da variedade que você está escolhendo. Você tem várias formas de colocar o capim nesse sistema. Pode fazer o capim a lanço primeiro, depois plantar o milho ou sorgo na linha, normalmente. Você pode colocar o capim junto com adubo na hora que você for fazer semeadura do milho ou do sorgo, coloque ele na caixa do adubo, a semente de capim na caixa do adubo. Ou então você pode fazer o capim no momento da cobertura da lavoura. Quando você for fazer adubação de cobertura, coloque a semente junto.
A gente tem essas três formas e é uma metodologia extremamente interessante. Isso diminui muito o impacto financeiro porque você vai utilizar esse material, ou o grão pra você vender ou para fazer silagem e você vai amortizar os custos da recuperação daquela área. Assim, dependendo da região que você está, é interessante você contratar um técnico, conversar com o pessoal para realmente começar esse sistema que é uma beleza e realmente funciona.
Consórcio de capim Tamani com sorgo descrito pela professora Janaína Martuscello (esq). Ao lado, o Tamani solteiro pós-colheita do grão.
7 – Tenho um terreno e quero plantar nele o pasto tifton 85. Quais os processos para ter esse pasto de qualidade? (Jhonatã, de Bueno Brandão-MG)
Martuscello: O Tifton é complicado de manejar, embora pareça fácil. Mas ele é uma forrageira excelente.
8 – Aqui é terra de arroz, com poucos lugares altos, mas tenho uma parte que dá para plantar milho. A minha dúvida é: qual pasto posso plantar junto com milho? (Jakson Piaszczinski, de Santana do Livramento-RS)
Martuscello: Eu aconselho você a escolher uma planta forrageira que tenha certa resistência a geadas e baixas temperaturas. Das tropicais, o capim Aruana tem sido muito bem utilizado.
9 – Telespectador Eduardo Duarte, de Rondonópolis-MT, disse que sua região está infestada de um capim taludo, parecendo um Andropogon, que o gado não come. Ele quer saber se existe algum produto para combater.
Martuscello: Pode ser o capim Rabo-de-burro ou pode ser o capim Capeta. Então se for Rabo-de-burro, a gente tem herbicida para poder utilizar. É só olhar na sua região o que o pessoal está acostumado a recomendar. Se for o capim Capeta, a gente ainda está estudando para fazer uma recomendação de utilização de herbicida porque esse capim é o tal do capim Capeta, ou Capim-pt.
10 – Quero plantar uma lavoura de Capiaçu para tratar de vacas parideiras no período seco. Isso é viável? (Hélio Ribeiro Pinto, de Presidente Médici-RO)
Martuscello: Vai dar certo, desde que ele combine isso com uma suplementação estratégica. Porque o NDT do Capiaçu é menor e a silagem tem uma menor qualidade quando comparada com o milho. Mas a suplementação resolve. Funciona e é uma boa segurança alimentar.
11 – Qual pasto plantar onde existe bastante movimentação, que aguenta pisoteio do gado? (Astolfo Fernandes, médico veterinário em Aquidauana-MS)
Martuscello: Paspalum. A nossa boa e velha grama batatais.
12 – Como fazer para combater a Taboca na pastagem? (Thiago Nascimento, de Sítio Novo-MA)
Martuscello: Essa Taboca, eu vou falar… É aquele bambuzinho espinhudo nativo que a gente conhece. Isso aí um negócio horrososo. Isso é feito por controle físico e químico. Tem que arrancar mesmo, não tem jeito. E aquele negócio: ele enfia aqueles espinhos debaixo da terra e sempre volta. Então é bem complexo esse controle, mas a gente tem que arrancar e, quando começar (a infestação), bate o herbicida.
13 – Estou com o mesmo problema de invasão de erva parecida com a Tiririca. Ela tem uma folha bem áspera e cortante. (Carlos Augusto Araújo Silva, de Águas Lindas de Goiás-GO)
Martuscello: Tem herbicida registrado específico para tiririca. Faça a aplicação. O custo é alto, mas vale a pena porque ele é efetivo. Eu sei porque eu já usei. Funciona.
14 – Qual o melhor capim para plantar na minha região? A seca por aqui dura quatro meses. (Márcio, telespectador de Lucas do Rio Verde-MT)
Martuscello: Paiaguás, Massai, Buffel, Andropogon. A gente tem algumas opções que vão atender você muito bem.
15 – Qual capim indicado para o terreno com pH 5? (Aureliano Rocha, de São João dos Patos-MA)
Martuscello: Você pode trabalhar com as braquiárias. Mas isso depende também da saturação por base. Só o pH não diz muita coisa.
Por último, assista a entrevista com Janaína Martuscello e assista as respostas na íntegra:
Foto ilustrativa (Grama Batatais): Marcelo Cavallari / Reprodução Embrapa
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