Qual é o conceito moderno de pegada hídrica e por que ele é importante? E para o pecuarista preocupado em seguir a tendência de consumo de perto, qual é a primeira atitude para que ele diminua a pegada hídrica da produção de carne bovina? Embora na pecuária de corte a informação ainda esteja em uma fase mais ligada à definição, outras cadeias, como a do queijo, já utilizam o cálculo como indicador de sustentabilidade em algumas marcas. Foi o que disse em entrevista para a série especial Embrapa em Ação o pesquisador Júlio Palhares, da unidade Pecuária Sudestes, em São Carlos-SP, e exibida pelo Giro do Boi nesta sexta, 10.
Palhares, que é zootecnista, mestre em agronomia e doutor em ciências da engenharia ambiental, explicou que pegada hídrica é a mais nova entre “três irmãs” da mesma natureza: pegada de carbono e a pegada ecológica, que avaliam a sustentabilidade de determinada atividade ou cadeia produtiva como um todo. Na pecuária de corte, ela é composta pelo somatório do consumo de água verde, que é a proveniente dos alimentos que consumiram água para a sua produção, como pasto, soja e milho, resultado de sua evapotranspiração; água azul, que é o consumo de fontes superficiais ou subterrâneas, como poços, nascentes, rios e açudes; e água cinza, que é aquela necessária para processar todos os resíduos gerados pela produção. O resultado disso mostra a eficiência em litros de água utilizados para produzir quilos de carne, seja da cadeia produtiva como um todo ou de uma operação mais específica, como o confinamento.
E por que saber isto é importante? “Isso não é mais moda. As questões ambientais chegaram pra ficar e a sociedade cada vez mais contesta: ‘sim, nós queremos consumir proteína animal com qualidade, com segurança, mas também com valores ambientais’. Então nós temos que mostrar para a sociedade que nós estamos praticando esses valores ambientais”, indicou o zootecnista.
Júlio Palhares apontou ainda qual é o primeiro passo para quem busca justamente diminuir sua pegada hídrica na produção de carne bovina. “O primeiro passo se a gente quer ganhos a curtíssimo prazo é fazer nutrição bem feita. E fazer nutrição bem feita é fazer pastagem, fazer agricultura bem feita”, resumiu.
“Então se eu quero dar mais mais eficiência hídrica à minha produção de carne, eu deveria começar pela nutrição. E o que é basicamente? Fazer a nutrição bem feita, hoje se fala muito em zootecnia de precisão, nutrição de precisão. Se nós realmente exercitarmos esses conceitos, certamente, por tabela, nós vamos ter um produto hidricamente melhor”, explicou.
“Um pasto que esteja degradado, o que vai acontecer? O animal vai ficar mais tempo sob aquele pastejo para conseguir atingir o peso de abate esperado pelo pecuarista. Um pasto que esteja degradado também vai ter menos água na sua composição e o pasto, como qualquer alimento, é uma fonte de água para o animal, então se eu estou dando pasto que já está passado, o animal tende a beber + água do bebedouro, que é uma outra fonte de água para esse animal. […] Se eu erro minha formulação de concentrado e estou colocando proteína em excesso na minha dieta, isso para a ciência da nutrição animal já é muito bem conhecido – excesso de proteína faz com que o animal beba mais água, então eu estou consumindo mais água azul porque o boi está bebendo mais água e eu também estou consumindo mais água verde porque eu perdi a mão na minha fonte proteica, que ou é a soja ou qualquer outro alimento da fonte proteica. Tudo isso vai inflacionar o teu valor de pegada hídrica”, exemplificou Palhares.
O pesquisador ressaltou que é importante que o produtor esteja adiantado em relação a esta demanda. “O que cabe a nós é não sermos reativos, porque quando a gente é reativo é muito mais sofrido, o remédio é muito mais amargo quando a gente reage a um movimento. Então (o ideal) é sermos preventivos para que, quando isto chegar, nós tenhamos dados, informações e dizer: ‘sim, produzimos carne, precisamos de água para isso, mas fazemos isso com a máxima eficiência’”, recomendou.
Veja a entrevista completa pelo vídeo abaixo:
Foto: Juliana Sussai / Embrapa Pecuária Sudeste