Uma vaca mal nutrida vai gerar um bezerro que, lá na hora do abate, vai render cerca de 1,5 arroba a menos de carne. Assista ao vídeo abaixo e confira os detalhes disso.
Essa é a constatação de um estudo do Polo Regional de Alta Mogiana da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), no município de Colina (SP).
A autarquia está vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O problema está relacionado a um termo que pode parecer esquisito: programação fetal. O tema foi o destaque do Giro do Boi desta segunda-feira, 9.
A reportagem do programa conversou com os pesquisadores da APTA, o doutor em zootecnia, Gustavo Rezende Siqueira e Iorrano Cidrini, doutorando em zootecnia.
O que é programação fetal?
“Programação fetal é pensar na nutrição do bezerro ainda dentro da barriga da vaca”, diz o Siqueira.
A nutrição da fêmea pode afetar o bezerro, determinando o potencial de ganho de peso do bovino do quanto de alimento ela tem à disposição.
O pesquisador lembra que esse tipo de estudo nasceu analisando humanos, mas que, agora, também passa a ser estudado em animais de produção de carne e de leite.
A vaca é uma fábrica de carro
O pesquisador faz uma analogia entre a vaca e uma fábrica de carros. Num país onde há pouco combustível, o fabricante vai produzir carros menos potentes, com motor 1.0, e que consomem menos gasolina.
Já se o país tem combustível à vontade. A produção de carros mais potentes sobe, com motorização, 2.0. A referência se encaixa bem para mostrar que o pasto é o país e a vaca da fábrica de carro.
Portanto a vaca vai gerar um bezerro com maior ou menor potencial de ganho de peso, dependendo do nível de alimento que ela vê ao redor dela.
“Então a vaca gestante no cerradão brasileiro, passando fome num pasto rapado, já manda uma mensagem para o bezerro: ‘Meu filho, nasça com um motor 1.0 por aqui está faltando gasolina’”, diz Siqueira.
A consequência disso é o nascimento de um bovino com potencial genético muscular baixo, o que vai influir num ganho de peso bastante limitado, segundo o pesquisador.
Pesquisadores fazem a prova dos nove sobre a programação fetal
O pesquisador Iorrano Cidrini foi o responsável por conduzir o estudo que fez a prova dos nove sobre a programação fetal das vacas.
A avaliação acompanhou as fêmeas 150 dias antes do parto, e monitorou os bezerros nascidos até o momento de abate, com terminação em confinamento.
Foram avaliadas dois lotes de fêmeas prenhes. Um piquete tinha vacas com boa oferta de pasto, e, no outro, vacas com restrição de pasto por conta da alta taxa de lotação.
“O estudo foi feito com vacas com escore corporal semelhantes com a mesma condição de sal mineral e água, porém, em um dos pastos, dobramos a lotação”, diz Cidrini.
O resultado foi de uma safra de bezerros de peso mais baixo vinda das vacas com restrição nutricional. O animal foi desmamado e foi terminado no sistema de Recria Intensiva a Pasto.
No momento do abate, o boi gordo, filho da vaca que passou fome, tinha 20 quilos (1,3 arrobas) a menos em comparação ao gado nascido de vacas com boa oferta de alimento.