Produtora que queria ser agrônoma teve o sonho realizado pela filha

Conheça a trajetória de Marinês Christofolli Parisenti, catarinense que deu sequência ao trabalho dos pais no MT e já prepara os filhos para a passagem do bastão

Seus pais saíram de Santa Catarina para tomarem suas chances de prosperar em terras mato-grossenses, precisamente em Diamantino, a 200 km da capital Cuiabá. Vencendo as dificuldades, transformaram o pedaço de terra de 200 hectares em na próspera Fazenda Hervalense, que hoje tem quase 50 mil hectares de lavoura e pecuária e é administrada pelos filhos. Nesta segunda, 14, a produtora rural Marinês Christofolli Parisenti contou sua história de sucesso como mulher do agro em entrevista ao Giro do Boi.

“São 35 anos desde que meus pais deixaram o Sul do País e vieram em busca de novos horizontes neste estado promissor, que é o nosso Mato Grosso, na cidade de Diamantino. Foi difícil, as coisas não foram muito fáceis porque quando se chega num lugar novo, começando tudo do zero, tinha que fazer todo o processo de abertura, não tinha estradas, não tinha luz, armazenagem nem pensar naquela época. Foi um período bem desafiador, mas meu pai e minha mãe tinham um espírito de muita luta, de empreendedorismo, então não desanimaram, não desistiram, começaram a plantar do zero os hectares e, ao longo do tempo, a fazenda foi aumentando, a cada ano um pedaço, e hoje estamos aqui nós, os sucessores, tocando aquilo que eles começaram”, recordou Marinês.

O incentivo pra deixar a cidade de Herval D’Oeste-SC rumo ao Centro-Oeste partiram dos tios de Marinês, conforme contou a produtora. “Meu pai tinha irmãos que moravam já no Mato Grosso e eles diziam que com tudo que ele trabalhava no Sul – e ele tinha um espírito muito de luta, muito trabalhador, muito visionário – se ele viesse ao Mato Grosso ele iria crescer muito. Então eles incentivaram para que ele viesse e, em determinado momento, surgiu a oportunidade de vender as terras no Sul e comprar aqui no Mato Grosso. Então ele acabou fazendo esta venda e vindo para cá”, lembrou.

Os primórdios da fazenda da família em Herval D’Oeste-SC.

Por sua vez, o próprio pai de Marinês foi seu grande incentivador para que ela se envolvesse nas atividades da família. “Meu pai era um grande incentivador para que as filhas mulheres trabalhassem em alguma coisa mais rentável do que ser apenas dona de casa. Desde novinha ele nos incentivava para que a gente estivesse à par dos negócios, sempre acompanhando. Ele levava a gente junto no banco, na reunião que tinha no sindicato e a gente acabou, nesse período, vivenciando tudo que a agricultura ia passando no decorrer do tempo. Nós vimos as crises do agronegócio, participamos de tudo isso”, observou.

Viver de dentro do agro todas as crises e transformação deu a Marinês uma experiência que hoje faz com que ela seja a agricultora do futuro, pronta para perpetuar seus negócios para as próximas gerações.

“Isso serve para gente crescer. Todas aquelas crises que a gente viu passar no agronegócio, o Plano Collor, Plano Bresser, Plano Real, e foram dificuldades muito grandes que o produtor enfrentou, fizeram com que hoje, já há muito anos, não ocorra novamente porque nós estamos já trabalhando de forma diferente. Hoje a gente está sempre olhando mercado futuro, o que eu posso estar fazendo, o que já estamos planejando fazer na próxima safra. Nós já estamos planejando vender a próxima safra para que chegue na hora e não tenha surpresa de câmbio entre Dólar e Real. Tudo isso ensinou muito a gente e ter uma bagagem para que hoje a gente consiga trabalhar com sucesso e minimizando os riscos. Se a gente tivesse completamente por fora naquela época, a gente não teria experiência para evitar certos problemas”, relacionou Marinês.

Viver as experiências ao lado do pai preparou Marinês para os desafios do agro.

A produtora afirmou que a transformação passou pelo setor como um todo. “O agricultor também cresceu muito ao longo dos anos, foi aprendendo que tem que estar sempre olhando lá na frente. Hoje o agricultor já não está só olhando a safra 20/21, ele já está olhando a 21/22. Já estamos vendendo e comprando insumos para o ano de 2022. O que é isso? É o agricultor que já passou por muitas situações difíceis e hoje ele não é apenas agricultor, ele se tornou empresário”, comparou.

Marinês, então, adotou o mesmo método para planejar a sucessão para a próxima geração, um plano bem sucedido em que seus filhos já estão integrados à atividade. Enquanto seu filho, Samuel, formou-se em direito e adquiriu experiência trabalhando em outra empresa do agro no MT antes de começar a se dedicar aos negócios da família, sua filha Sarah realizou o sonho que Marinês não pôde realizar – formar-se em agronomia. “Agora, para a felicidade da gente, minha filha acabou crescendo no meio da lavoura e aí pegou amor pelo agro também e quando cresceu quis ser agrônoma, então acabou que o sonho que eu tinha foi realizado por ela”, celebrou.

“Cada um, como dizem, tem um dom. Ele tem mais o dom para esta parte do direito e ela acabou tendenciando para a parte mais da agricultura técnica. Mas como se diz, acabam se completando porque são dois setores que precisam ser cuidados em uma propriedade, tanto a parte de escritório como essa parte técnica”, salientou.

A empreendedora comparou o processo de sucessão com uma semente a ser cultivada. “Essa questão da sucessão tem que ser uma sementinha plantada lá desde que as crianças são pequenas, já levando para a fazenda, fazendo com que eles conheçam o negócio e vão adquirindo o amor por aquele setor. Porque se deixar o filho a vida inteira só na cidade, a hora que você quiser levá-lo depois que ele está mais velho para o campo, ele vai estranhar porque lá vai estar muito calor, vai ter mosquito. O negócio é, desde pequeno, já ir plantando a sementinha. E nós mesmos, com meus filhos, foi sendo assim, desde pequenos levando para o campo”, enalteceu.

A Fazenda Hervalense hoje: quase 50 mil hectares de integração lavoura-pecuária.

Marinês, ela mesma uma egressa da Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio, iniciativa da Corteva Agriscience em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC) e Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), reforçou que sempre é tempo de a mulher se inserir na atividade. “Quem ainda não está no negócio, sempre é tempo de começar. Não interessa se você tem quinze ou mais de sessenta anos: você pode contribuir muito, ajudar a sua família. A mulher não vem para competir com o homem, ela vem para andar junto, nem à frente, nem atrás, mas ao lado dele. E a gente vê a cada dia mais mulheres aderindo a isso”, aprovou. Entre as formas de a mulher participar mais do setor, Marinês citou o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, que neste ano terá sua 5ª edição 100% online.

“E a união dentro do negócio é tudo. Eu agradeço imensamente aos meus familiares, minha irmã, meu irmão, meu marido, a todos os nossos colaboradores, que são mais de 160 famílias que vivem do nosso negócio. Se não existir essa união, o negócio não vai para frente. E também o meu eterno agradecimento aos meus finados pais que foram os grandes desbravadores, que fizeram e talharam tudo isso. A gente sabe que não foi fácil para eles, teve um preço alto para tudo isso, mas a gente está aqui honrando todo o esforço deles e dando sequência a esse Brasil velho e que, se Deus quiser, em poucos dias vamos dar largada na safra 20/21! Só esperando a chuva!”, concluiu com um sorriso.

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Veja a entrevista completa e mais fotos da trajetória da Marinês Christofolli Parisenti no player a seguir:

 

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