Nesta quarta-feira, dia 31, o engenheiro agrônomo Wagner Pires, pós-graduado em pastagens pela Esalq-USP e consultor do Circuito da Pecuária, respondeu mais uma bateria de perguntas de telespectadores sobre manejo de pastagens.
Entre as considerações, Pires alertou que o produtor não deve misturar duas ou mais variedades de forrageiras e um mesmo piquete. Veja as justificativas entre os esclarecimentos listados abaixo:
– Gostaria da sugestão do Wagner Pires sobre a correção do solo a partir do resultado da análise de solo. Vou produzir pastagem para semiconfinamento. Só o calcário dolomítico resolve? Pretendo plantar BRS Piatã, Mombaça, sorgo Santa Elisa; BRS Capiaçu. (Águimon Rocha, de Correntina-BA)
Pires: Não, senhor! Primeira coisa: só calcário não vai resolver. Calcário é o primeiro passo. O que é o calcário? Cálcio e magnésio. Depois do calcário, você pode vir com o gesso, que vai levar o cálcio lá para baixo e vai aumentar o enraizamento. Depois você deve trabalhar com fósforo – é essencial. E aí vem potássio e nitrogênio. Então você tem que trabalhar com essa escadinha de fertilidade aos poucos.
Outra coisa: você citou uma gama enorme de gramíneas. Plante elas separadas. Não vá inventar de misturar porque não dá certo.
E toda gramínea é uma lavoura e você deve tratar ela como tal. Então adubação é essencial. Quer ter resultado? Adube o seu pasto!
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– Posso plantar o capim Mombaça em cima da braquiária? (Paulo Vieira, de Santo André-SP)
Pires: Pode, não tem problema. Só que mate a braquiária, pelo amor de Deus! Não misture braquiária com Mombaça porque sabe o que vai acontecer? O gado não vai comer o Mombaça e vai comer a braquiária e o Mombaça vai passar do ponto. Então mistura de capim é uma porcaria, para não falar outra coisa. Então não faça, não. Agora se você quiser substituir a braquiária pelo Mombaça, passe o glifosato, mate a braquiária e plante o Mombaça.
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– A região é fria e queria plantar um pouco de capim. Qual variedade de braquiária você me recomenda? (Charles Guimarães, de Barra da Estiva, no sertão da Bahia)
Pires: O problema seu não é a temperatura, não. Esse friozinho que você tem aí na Bahia não atrapalha capim nenhum. O problema é a seca. Então você pode trabalhar com qualquer braquiária, pode botar um Paiaguás, pode botar o Mulato, que tolera incrivelmente a geada – o que não é o seu caso – e é altamente produtivo. Você pode trabalhar com essa geração nova, o Ipyporã. Não tem problema, não. Pode plantar. Mas não esqueça da fertilidade.
– Quantos hectares deve ter um piquete de pastejo no sistema rotacionado? (Danilo Soares, de Joaquim Felício, município próximo a Montes Claros em MG)
Pires: É muito relativo, Danilo. Eu tenho fazenda onde eu trabalho desde um hectare a até dez, vinte hectares cada piquete. Isso depende muito do tempo que você vai girar. O que você tem que colocar na conta? O tamanho do lote que você quer trabalhar. E esse lote tem que conseguir comer o pasto em, no máximo, estourando, em até dez dias. E dependendo da gramínea, muda o período de descanso, então tem que fazer conta.
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– Queria saber quais os capins com alta produtividade que posso plantar em áreas com declividade? Minha área não é de morro muito acentuado. (Roger Ribeiro Ferreira, do distrito de Porto Velho do Cunha, em Carmo-RJ)
Pires: Desde que não seja muito acentuado, você pode entrar com uma braquiária. A braquiária tende a fechar bem. No caso você pode colocar uma braquiária Brizantha, pode colocar o Paiaguás, um Piatã… Tem várias braquiárias que você pode colocar, mas procure fechar bem antes de começar a trabalhar com o gado. Na hora de você fazer a semeadura, aumente a quantidade de sementes para realmente o capim fechar.
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– Como fazer um silo de qualidade de Capiaçu? (Ademir da Silva Lança, de Mutum, na Zona da Mata em MG)
Pires: Não tem segredo. Você vai cortar o capim no momento em que ele está bom para ser pastejado. Se ele está bom para ser pastejado, ele está bom para fazer silagem. Procure fazer o tamanho da partícula não mais do que dois centímetros. Faça também uma boa compactação. O capim, na hora que você começa a passar o trator em cima, perde água, então ele desaparece. Esse é um problema do capim. E não se esqueça de usar um bom inoculante. Fazer uma boa compactação e usar um bom inoculante. Pronto, vai ficar uma silagem top.
– Como fazer a silagem do capim Mombaça? (Edinílson Scherer, de Maravilha-SC)
Pires: Mombaça é top também para fazer silagem. Todo capim é bom, mas faça no momento certo. Pode cortar ele rente ao solo. Outra coisa, que serve tanto para o Edinílson quanto para o Ademir (pergunta anterior): vocês vão fazer uma extração de praticamente 100% do capim, então faça uma nutrição de reposição para não estragar o pasto.
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– Cresce capim em área de baixada, sujeita a alagamento constante? Gostaria de saber que capim poderia servir para o gado. Se possível, poderia informar as características agronômica, como teor de proteína, palatabilidade, exigência em fertilidade, taxa de lotação e forma de proliferação? (Leonardo Macieira, de Magé-RJ)
Pires: Tem dois capins muito top mesmo que você pode plantar até debaixo de água. Um é o Canarana. O Canarana é um Echinochloa, e é um capim de plantio por muda que você vai plantar. Ele aguenta o encharcamento que é uma maravilha. Tem também um cruzamento natural, que é a Brachiaria mutica x Brachiaria arrecta, que é o Tango ou Tangola. Esses dois são capins são específicos para você plantar dentro da água em área com lâmina, área sujeita a encharcamento. Nós vamos ter uma braquiária que vai se chamar Cayman, essa braquiária também tolera encharcamento.
[…]
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+ Qual capim devo usar em área de encharcamento?
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– Tem pastagem propícia a ser adaptada em local sombreado, como dentro de um pomar? (Carlos, de Mandirituba-PR)
Pires: Hoje a braquiária Decumbens é uma das que melhor toleram o sombreamento. A braquiária Brizantha cv. Marandu também tem uma boa tolerância. Eu acompanhei um trabalho feito em Macaé muito bom […] e foi excelente. Esses dois capins despontaram. E n nós vamos ter entrando nos próximos anos no mercado uma braquiária específica para áreas sombreadas, já que tem muita gente fazendo silvipastoril no Brasil, então a demanda está aumentando.
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– Gostaria de saber sobre o sombreamento com plantio de eucalipto entre as praças de confinamento. Quais seriam os riscos? (Leandro Graeff, de Vera Cruz do Oeste-PR)
Pires: É claro que toda árvore que está em pé, se vier um vento muito forte, pode cair e matar o boi. Esse é um perigo. Mas uma praça de alimentação, praça de confinamento, se você tiver água, sal e sombra, é o ideal. Então a sombra faz parte desse projeto. Pode plantar.
– A maior vantagem do rotacionado é a altura do pastejo, comendo o capim na altura perfeita, quando ele está com maior valor nutritivo. Como meus pastos são rotacionados, entendo ser a grande vantagem a altura de pastoreio, que permite pastorear no momento de maior porcentagem nutricional. Evidente que sem a perda de várias outras vantagens já colocadas. Está certo meu raciocínio? (Adílson Rosa, de Itapaci-GO)
Pires: Toda planta precisa de um repouso, de um descanso após ser pastoreada justamente para ela crescer e voltar naquela altura ideal. A pior coisa para você acabar com o pasto é você deixar o boi permanentemente comendo ele. Saiu um broto, o boi vai lá e come, saiu outro broto, o boi come de novo. Aí você acaba com o pasto, tira a força de rebrota da planta e aí começa a surgir invasora, planta daninha e você acaba com seu pasto! Então é fundamental dar um descanso. Esse descanso é que levou ao raciocínio e à filosofia do rotacionado.
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– Tenho quatro hectares de várzea. Qual seria a melhor pastagem para se plantar? Pensei na braquiária MG-5.
Pires: Vai, sim. O MG-5 Xaraés é uma braquiária muito boa e tem uma característica própria dela: ela cresce muito rápido. Para rotacionado, ela é ideal. Qual é o problema do MG-5? A palatabilidade dele não é a melhor. Mas como você vai fazer o rotacionado só dele, o gado vai ficar rodando só lá dentro e o gado acostuma com isso, principalmente vaca. E aí você pode manejar tranquilamente o MG-5 que você vai ter um bom resultado.
– De três anos pra cá, o pasto de Braquiarão fica bonito nas águas, mas fica lotado de cigarrinhas. Quais as providências devo tomar? (Marco Antonio Barreiras Carvalho, de Belo Vale-MG)
Pires: A cigarrinha que você tem aí em Minas Gerais, a Deois flavopicta, é uma cigarrinha muito fácil de morrer. Hoje tem um produto que eu tenho trabalhado com ele com muito resultado. Ele é um acetamiprido mais bifentrina, se chama Sperto. É um produto muito bom, você usa na faixa de 200 a 300 g por hectare e você vai ter um excelente resultado. Agora é o seguinte: com a cigarrinha você faz controle preventivo. O que é isso? Começou a época da chuva, você já entra controlando a cigarrinha. Agora você está caminhando para o final das chuvas, o estrago já está feito, ela já introduziu a toxina dentro da planta e já fez o estrago. Então vamos nos preparar para o próximo período de chuva e aí você entra com o Sperto, fica você esperto e estará resolvido o problema.
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– Gostaria de saber se o milheto é uma boa comida para vacas leiteiras? (Marcondes Rezende, de Gavião Peixoto-SP)
Pires: O milheto é uma gramínea fantástica, muito boa. Qual é o problema dele? Ele é anual. Você planta, ele vai dar dois a três cortes, depois ele desaparece, ele morre. Mas ele é muito rápido para sair. A gente tem recomendado o milheto para plantar, por exemplo, junto com a braquiária, porque o milheto sai primeiro que todo mundo e aí você tem condição de colocar o gado inicialmente comendo só o milheto, sem atrapalhar a braquiária. Então é uma estratégia para botar o gado mais cedo. Mas o milheto é de três cortes, depois desaparece. Então eu não vejo vantagem nisso. Tem muito capim, muita braquiária muito boas de produção de massa e principalmente para leite. Então não há necessidade de você ficar todo ano plantando milheto e ficar uma parte do ano, depois desses três cortes, sem capim.
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– Tem informações sobre engorda de boi em pasto irrigado? (Marcinho Gomes, de Curvelo-MG)
Pires: Vai bem demais! Eu tenho trabalho feito em Alagoas, na Fazenda São Sebastião, muito bom. Nós estamos produzindo hoje lá em torno de 20 a 30 arrobas por hectare/ano nessa fazenda. Dá alta lotação também, nós estamos trabalhando na faixa de 10 UA/ha. Tem outro projeto que eu trabalho com irrigação no Piauí, que também está dando muito resultado. Estou montando outro projeto de irrigação, mas esse é para cavalo, aqui no estado de São Paulo. E lá no Ceará eu tive visitando uma fazenda fantástica do meu amigo Rafael, também irrigado, mas lá é gado de leite. Olhe, com água, luz, temperatura e fertilidade não tem pra ninguém, como a gente tem aqui no Brasil.
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– Gostaria de saber qual o melhor capim para pastejo rotacionado. (Jonathan Ziebell, de São Lourenço do Sul-RS)
Pires: É o capim que produz mais massa, então normalmente os Panicuns são os queridinhos de todo mundo, são os que produzem mais massa. Agora hoje, por incrível que pareça, a braquiária está chegando e emparelhando com Panicum porque nós estamos desenvolvendo cada vez mais materiais mais produtivos, mais fáceis de serem manejados. Qual é a vantagem da braquiária? O manejo é mais fácil porque o Panicum é mais taludo. Por exemplo, nós temos o Quênia, que tem pouco talo, temos o Massai, que tem pouco talo, mas as braquiárias estão chegando perto. Só que hoje, ainda, os Panicuns são os mais produtivos.
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– Qual o melhor capim para terra fértil, mas com temperaturas altas como a do Nordeste, acima dos 30º C? (Marcos Alexandre,de Salvador-BA)
Pires: Todos eles. Altas temperaturas não são problema. Falta de chuva, aí sim, é problema. Então na alta temperatura do Nordeste, manda bala. Com luz e calor, o capim está crescendo!
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– Qual sua opinião sobre o Panicum Quênia? Ele é muito exigente em questão de solo? (Mauro Junior, de Brasilândia-MS)
Pires: É exigente, mas é fantástico. Eu recomendo muito o Quênia, gosto muito dele, ele não é um Panicum alto e tem uma rebrota rápida que, no frigir dos ovos, é tão produtivo ou às vezes até um pouco mais do que o Mombaça. Eu gosto muito dele.
Assista as respostas na íntegra pelo vídeo a seguir:
