Em entrevista concedida para a 3ª reportagem da série especial Embrapa em Ação, desta vez gravada na Unidade Cerrados, com sede em Planaltina-DF, o pesquisador Roberto Guimarães, médico veterinário, mestre em zootecnia e doutor em ciência animal, apresentou usos alternativos dos sistemas integrados que servem até mesmo para os pecuaristas que não desejam trabalhar com maquinário.
“Eu costumo falar que isso é uma coisa que não se faz mais. Você vai corrigir solo, vai virar solo, no caso de uma área de pastagem degradada, vai fazer adubação corretiva, vai fazer adubação para pastagem para colocar só capim? O pecuarista às vezes pensa que não quer fazer agricultura, não quer colher, nem mexer com maquinário naquele momento. Então a gente aconselha a fazer o consórcio com milheto ou com sorgo pastejo. Existem várias alternativas hoje para você amortizar o custo de formação da pastagem”, apresentou Guimarães.
“Nós temos situações reais que, às vezes, o consórcio da pastagem mesmo com o milheto e a antecipação do pastejo que este sistema viabiliza, com o ganho de peso que os animais vão ter na área faz a amortização dos custos de formação da pastagem, que hoje são muito altos. As estimativas mostram para a gente que você formar um pasto de Brachiaria brizantha hoje é em torno de R$ 2.000,00 por hectare. Agora se você for usar agricultura, você vai ter um custo mais elevado, vai gastar em torno de R$ 200,00 a mais por hectare com a semente do capim e vai fazer um dois em um: vai colher a silagem ou o milho grão e depois de um certo tempo, 60 dias, dependendo da região, vai ter um pasto estabelecido e muitas vezes a um custo zero porque a venda do grão ou a venda da silagem amortiza o custo de formação da pastagem”, exemplificou o especialista.
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Outra alternativa que o pecuarista tem é estabelecer parceria com um agricultor – e o oposto também. “Nós temos visto na nossa vivência a integração de agricultores com pecuarista e vice-versa. Nós temos visto que é possível você fazer essa integração na prática porque o custo de aquisição do animal é alto, então o agricultor muitas vezes faz parcerias com pecuaristas, que estão necessitando engordar seus animais e vê que o agricultor tem tudo ali na mão. Do outro lado, o pecuarista também faz parcerias com agricultores que já têm o know-how para renovar áreas de pastagens, para fazer plantio de soja e entregar a área formada. Essa integração é ampla, mas é possível ser feita e funciona”, sustentou o veterinário.
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O pesquisador da Embrapa Cerrados justificou sua defesa dos sistemas integrados de produção. “O Brasil hoje tem todas as ferramentas possíveis para poder aumentar e até duplicar sua produtividade, tanto agrícola como da pecuária e sem desmatar um hectare. Mas isso só vai ser possível com o uso de tecnologia e financiamento acoplado. Do ponto de vista de tecnologia, a pesquisa já tem mostrado que o caminho para a intensificação é associação entre agricultura e pecuária, esse é um casamento que é um ganha-ganha, velho conhecido nosso porque, para o pecuarista, a utilização da agricultura é uma ferramenta muito interessante e eficiente para renovação de áreas de pastagem. Do ponto de vista econômico, é muito vantajosa porque você pode amortiza os custos de formação da pastagem vendendo os grãos, vendendo silagem. E do ponto de vista técnico, isso é muito possível de ser feito”, comentou.
Nas soluções pesquisas pela Embrapa, nota-se que os benefícios não ficam restritos ao “dentro da porteira”. “Hoje a Embrapa e seus parceiros já desenvolveram várias alternativas tecnológicas para poder intensificar fazendo o uso de consórcios das pastagens com grãos, com cereais. Nós temos o uso do milho, do sorgo, do milheto, da soja consorciada com a pastagem, então a gente tem trabalhado na área e visto que não só a produtividade aumenta sensivelmente, mas outros indicadores muito importantes para nós, como o econômico, o ambiental e o social também melhoram. Nós temos percebido que em áreas de pastagem onde nós temos agricultura as produtividades sensivelmente melhoram e não só no período chuvoso, mas como no período seco. E os agricultores que passam a utilizar a pastagem no seu sistema de produção também têm melhoria em vários indicadores, como teor de matéria orgânica no solo, aumento na fertilidade do solo e redução do uso de fertilizantes. Então é um casamento perfeito. A gente é entusiasta, mas é entusiasta com base em números”, valorizou o pesquisador.
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O veterinário ponderou, entretanto, que o produtor faça a implementação do sistema com auxílio técnico, sobretudo para quem não tem intimidade com a ILP ou ILPF. “A consultoria, o aconselhamento técnico é muito importante para que a tecnologia não seja queimada. Nós já sabemos que ela é possível de ser feita, então para o pecuarista, principalmente que ainda não tem experiência com agricultura, a gente aconselha que ele tenha um acompanhamento técnico próximo e que ele comece a fazer isso em pequenas áreas da fazenda para ele ir aprendendo com o tempo, porque é um aprendizado. Não tem um modelo que sirva para todas as fazendas, cada fazenda tem sua peculiaridade, tem o seu tipo de solo, condições climáticas e operacionais que são muito importantes. […] Vá aprendendo aos poucos. E eu posso garantir para você, pecuarista, que começar a fazer agricultura, não tem volta”, projetou.
Além de auxílio técnico, o produtor tem à disposição no Brasil linhas de crédito específicas para a integração. “Hoje já tem vários bancos que oferecem crédito a taxas de juros interessantes. Nós temos uma política nacional, o Plano ABC, que tem o programa de financiamento, que é o Programa ABC, que também tem financiamento para adoção de práticas agrícolas sustentáveis. A integração lavoura-pecuária, a recuperação de pastagem e o plantio de florestas são exemplos dessas tecnologias. Então realmente nos angustia porque às vezes a gente vê um produtor […] que está descapitalizado, está com a fazenda degradando e não tem forças, não tem recurso para fazer aquilo, mas o financiamento, a linha de crédito é muito importante nessa hora, porque senão realmente ele não consegue sair dessa situação. Não basta só vontade, é preciso ter investimento a uma taxa acessível que possa ser paga e que o produtor continue na atividade”, comentou.
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Confira no vídeo a seguir a reportagem completa da série Embrapa em Ação: