Por que começar a monta com cruzamento terminal é erro para quem quer repor matrizes?

Segundo veterinário, produtor deve dar prioridade para as fêmeas que são a base de seu plantel logo no início da estação reprodutiva; entenda

Reflexo da valorização do bezerro, a retenção de matrizes para a reposição foi fato de destaque na pecuária de corte ao longo de 2020, conforme disse em entrevista ao Giro do Boi desta terça, 13, o médico veterinário Tiago Carrara, especialista em gestão de pecuária e gerente do departamento de mercado da Alta Genetics.

E em tempos de estação de monta, muitas propriedades que precisam repor as fêmeas do plantel cometem um erro comum – iniciar a estação reprodutiva fazendo cruzamento industrial terminal – aquele que será destinado direto para a engorda.

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“Para quem quer fazer reposição de qualidade, um erro muito comum e que a gente deve evitar é abrir a estação de monta fazendo cruzamento industrial pensando em animais terminais. Isso deve ser feito somente por quem compra 100% da reposição de matrizes fora da fazenda. Para quem faz a própria reposição, a gente precisa iniciar a estação de monta com a raça base e touros de excelente avaliação genética materiais. Por exemplo, se você tem a sua reposição Nelore, faça a sua primeira IATF com touros Nelore com excelentes características maternais”, sustentou Carrara.

“O que seriam essas características maternais? DEPs para habilidade materna, fertilidade, precocidade, acabamento de carcaça, que está muito ligado à adaptação. E a gente vai pegar as suas melhores matrizes, que são essas que estão entrando em cio no início da estação ou que estão ciclando, estão disponíveis no início da estação e colocá-las para parir a sua reposição. Isso vai garantir para você que a sua reposição seja mais longeva dentro do rebanho. A gente já tem diversos estudos apontando que as bezerras que nascem no cedo ficam mais tempo ativas como matrizes dentro do seu rebanho e elas são as primeiras a emprenhar também na primeira estação de monta dela enquanto novilhas. A principal recomendação minha é: pense que a sua reposição sairá da cabeceira do seu rebanho e a cabeceira do seu rebanho são as matrizes que vão entrar no cedo na estação de monta”, resumiu o especialista.

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Carrara celebrou o avanço do mercado de inseminação artificial no Brasil e apresentou o contexto deste crescimento. “A gente está vivendo um momento muito forte de precificação do valor da arroba e de diversas categorias dentro da pecuária de corte, como o preço do bezerro, preço da reposição e, coincidentemente, a pecuária leiteira também está muito boa. Então é um cenário único! E quando a gente pensa no cenário de pandemia, é algo que, num primeiro momento, não parece que seja possível acontecer e o agro vem mostrando para o Brasil que é possível, que a gente não parou, que segue firme, adiante e com excelente resultados para todos”, valorizou.

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“O produtor tem cada vez mais percebido que para ele ser mais eficiente, ele precisa investir em tecnologia. Sem sombra de dúvida, a tecnologia é o grande carregador do aumento de produtividade e a inseminação artificial e a IATF são tecnologias que estão à disposição do criador para ele promover esse aumento de produtividade. A gente tem que lembrar que a IATF é um tratamento reprodutivo em busca de melhores resultados. Cada vez mais o produtor enxerga isso e adota essa tecnologia. […] A gente tem um cenário extremamente otimista para venda de sêmen, para comercialização de sêmen”, celebrou.

Segundo o gerente do departamento de mercado da Alta Genetics, o aumento das transações do setor verificado no primeiro semestre do ano deve se sustentar até o fim de 2020. “O crescimento que a gente já teve no primeiro semestre, de 47% das vendas de sêmen de gado de corte, está se mantendo no segundo semestre, permitindo com que a gente alcançasse o recorde de um milhão de doses vendidas apenas em agosto”, comemorou.

ESCOLHENDO O TOURO

Para não errar na escolha do reprodutor para inserir genética melhoradora em seu plantel, Carrara listou algumas dicas ao produtor. “O animal que traz um biotipo interessante associado a uma avaliação genética, que traz robustez para esse produto, é o touro de eleição. E em especial, o que é interessante é que a turma tem buscado ganho de peso, o que é óbvio, mas tem muito um olhar sobre as características maternais pensando na reposição da fêmea. […] Com certeza o sucesso da venda passa pela avaliação genética em primeiro lugar, associada a um biotipo carniceiro”, explicou.

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“Essa questão da parte visual acontece hoje com o mesmo olhar do passado, onde as pessoas valorizam a questão do biotipo porque a gente está falando de características de alta herdabilidade. Então o que você vê realmente é que existe uma possibilidade grande de acontecer. Mas como em qualquer outro negócio, o produtor brasileiro tem que trabalhar com dados mais confiáveis, com mais acurácia nas suas tomadas de decisões. O que ele faz? Soma resultados de diversas tecnologias, que vão do olho dele, passa pela inseminação artificial, passa pela avaliação genética, passa pela genômica para conseguir tomar sua decisão. Quanto mais informações ele agrega, mais assertiva é a sua decisão”, reforçou.

Ainda de acordo com Carrara, o uso da inseminação artificial no Brasil beneficia não só o pecuarista. “É pedido nosso e até do consumidor brasileiro, porque se a gente quer produzir carne de qualidade, se quer aumentar produtividade e ter um alinhamento com as questões ambientais também, a gente precisa usar a inseminação artificial para alcançar esses resultados”, opinou.

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SELECIONANDO FÊMEAS PARA A IATF

Para o veterinário, ao selecionar as fêmeas que vão receber protocolos de IATF, o produtor deve ter em mente que são justamente as de pior escore corporal que precisam do protocolo para ter chance de reproduzir – e não o contrário.

“A época de a gente fazer uma correção de escore corporal da vaca é sempre no período seco. É quando a gente gasta menos para fazer esta correção nutricional e promove melhores ganhos para esta fêmea. Depois que ela já pariu, que é a maioria dos casos das fazendas brasileiras, que já estão finalizando a sua estação de nascimento, a gente não tem muito o que fazer. Eu sou radicalmente contra mudar a data do início da estação de monta porque depois, para você recuperar este tempo perdido nas próximas safras, pode virar uma bola de neve e você nunca mais voltar. Essas matrizes vão estar atrasadas. Então para as fêmeas que estão com baixo escore de condição corporal, o mais indicado é intensificar o uso de IATF. É exatamente isso muitas vezes a gente fica pensando: qual é a fêmea que vai me dar o melhor resultado na IATF, pensando em altas taxas de concepção. Mas a forma certa de pensar é: qual fêmea precisa mais de ajuda de IATF? E normalmente são primíparas, com baixo escore de condição corporal. Essas fêmeas vão entrar no anestro, que é uma situação que elas não vão ciclar, não vão dar cio, e elas vão conseguir ciclar só no final da estação ou nem vão entrar em ciclo. Elas precisam da IATF no início da estação para começar a ciclar”, observou.

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CONDIÇÃO DE PASTO REFORÇANDO A REPRODUÇÃO

“A gente tem que pensar no tipo de capim que a gente tem na propriedade. Agora logo no início da chuva, os capins do gênero Paninum vão sair com mais força e mais rápido do que os capins do gênero Brachiaria. Então essas fêmeas que estão mais magras, que estão precisando de mais ajuda, ajude elas inclusive com a pastagem. Feito isso, a gente precisa associar com tecnologia, como, por exemplo, tecnologia de manejo de pastagem ou até suplementação, especialmente com minerais de reprodução, que tem várias linhas no mercado. A gente precisa associar à tecnologia da IATF porque sincronizar hormonalmente essas fêmeas é a gente tirar ela dessa condição de anestro. Ela é vital para quem está querendo melhores resultados. Então, por exemplo, se você vai fazer três IATFs durante a estação de monta, você tem que começar no primeiro dia de estação de monta já com a pri

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PLANEJANDO A ESTAÇÃO DE MONTA… 2021

O especialista fez também recomendações aos produtores que buscam sucesso na estação de monta… de 2021!

“Eu brinco que a estação de monta começa na hora que terminou a do ano anterior. Então com o DG (diagnóstico de gestação) final, você já sabe certinho quando as suas matrizes vão parir e você consegue planejar a sua estação de monta baseado em quando as suas fêmeas vão estar disponíveis para a inseminação. Feito esse planejamento, a gente consegue saber quanto de hormônio vai utilizar, quanto de sêmen e já adiantar essas compras. Geralmente as compras feitas no final do primeiro semestre têm melhores condições comerciais do que as compras feitas em cima da hora e sem o risco de não localizar, por exemplo, o touro que você desejaria utilizar por falta de estoque.

Além disso, tem que pensar muito na equipe. A gente precisa ter realmente uma equipe capacitada porque um bom manejo dentro do curral garante segurança para os seus peões e a gente ter equipe de qualidade hoje é um negócio difícil. Então zelar por eles é parte do papel. Também o bom manejo garante melhores resultados na IATF e em ganho de peso. A gente tem que pensar também nas questões nutricionais, que a gente já citou quais são os caminhos. E, por último, a gente ter um bom trabalho durante a estação de nascimento para a gente garantir que essas fêmeas e os bezerros cheguem com saúde dentro da estação de monta, inclusive lançando mão de vacinas reprodutivas para a gente garantir melhores resultados, principalmente em fazendas que passam por desafios com doenças reprodutivas”, destacou.

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“Eu brinco que na estação de monta, às vezes, a gente tem que ter um olhar de trás para frente. Qual o resultado eu quero colher lá na frente? E aí eu olho quais ferramentas disponíveis eu tenho para chegar nesse resultado, olho a viabilidade financeira e aplico”, ilustrou.

Veja a entrevista completa de Tiago Carrara no vídeo a seguir:

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