Pesquisa descobre que vale a pena o pecuarista pôr o boi na sombra

Estudo constatou que consumo de matéria seca do gado na sombra foi 8% menor para produzir o mesmo ganho de peso dos animais expostos ao sol no confinamento

Com o boi na sombra. Em linhas gerais, a expressão é usada para definir alguém em uma situação confortável. A expressão confirmou que tem também valor literal após uma pesquisa conduzida pela Nutron/Cargill descobrir que vale a pena – e vale dinheiro – a instalação de alguma forma de sombreamento nos confinamentos de gado de corte.

Quem tratou do tema em entrevista ao Giro do Boi exibida nesta segunda, dia 02, foi o engenheiro agrônomo pela Esalq-USP Felipe Bortolotto, consultor técnico nacional de bovinos de corte da companhia.

“Hoje as principais pesquisas de sombra são feitas no México, nas Austrália e nos Estados Unidos. No Brasil, a gente ainda está começando com estas pesquisas, mas já são pesquisas muito promissoras. A gente começa a ver que, em climas tropicais, a resposta à sombra é positiva, sim”, adiantou Bortolotto.

O agrônomo explicou como foi realizada a pesquisa pela empresa. “Especificamente sobre esse trabalho que a gente fez, foi em um cliente nosso no Triângulo Mineiro, onde a gente sempre se questionou. É um ambiente que na época da seca a umidade relativa do ar é muito baixa. […] A gente realmente viu um certo desconforto dos animais. Então, revisando a literatura, principalmente do México e da Austrália, que têm climas um pouco mais parecido com o nosso, a gente propôs ao cliente fazer esse estudo lá”, informou. “O cliente colocou ficha nisso, acreditou no que a gente falou, construiu uma estrutura de sombra, colocou os animais, a gente conseguiu fazer um comparativo”, completou.

O agrônomo traduziu os efeitos do clima quente nos animais fechados no cocho. “A gente tem que lembrar que o animal já tem, por si só, por consumir o alimento no cocho, um incremento calórico muito grande para digerir esse alimento. Então nós temos que lembrar: imagine um animal com rúmen todo cheio fazendo fermentação, tendo incremento calórico e aí ele está às 14h no Centro-Oeste brasileiro a 10% de umidade relativa. Isso vira uma bomba calórica e esse calor faz com que o animal tente voltar para homeostase dele, é tentar voltar a temperatura dele para a normal. E isso ele começa a alterar batimento cardíaco, jogar mais sangue para a periferia, ele tenta se oxigenar para tentar equalizar esta temperatura e nisso ele está queimando energia para fazer isso. Ao respirar, ele está queimando fósforo, ele está queimando energia. Então, sim, a gente conseguiu comprovar que o animal na sombra respira numa taxa mais lenta e, sim, a temperatura corporal dele foi mais baixa do que o animal que estava em pleno sol. Isso faz com que haja menos dreno de energia, ou seja, sobra mais energia para o animal”, resumiu.

Para validar as leituras, diversos indicadores foram monitorados. “A gente mediu o consumo de matéria seca, nós medimos o consumo de água, nós medimos as performances em ganho de peso dos animais e realmente o resultado foi muito relevante. Os animais que estavam na sombra beberam menos água para produzir a mesma arroba, eles conseguiram melhorar o ganho de peso deles. […] O animal estava num conforto melhor e conseguiu desempenhar melhor o potencial genético dele”, constatou.

O consumo de matéria seca foi 8% menor para os animais submetidos ao tratamento com sombra, sem efeito sobre o ganho de peso”, consta em divulgação oficial do estudo da companhia. Além disso, outros números de desempenho chamaram atenção: a conversão alimentar e biológica para animais com sombra foi, respectivamente, 11 e 15% melhor; enquanto na sombra apenas 1% dos animais apresentaram respiração ofegante, 16% dos animais sem sombra tiveram quadro de ofegação e a pegada hídrica também foi beneficiada: na sombra, os animais consumiram quatro litros de água a menos na comparação com os animais que estavam no sol, o que representa, por exemplo, quatro milhões de litros em um giro de confinamento que tenha capacidade estática para dez mil cabeças.

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“A sombra está atendendo tanto o meio ambiente, quanto o animal e o produtor. Então você ser mais efetivo na conversão alimentar é uma coisa fantástica. A gente sabe que a conversão alimentar é diretamente relacionada à rentabilidade, à lucratividade. Muita gente fica muito focada claro no ganho de peso […], mas o boi comeu quanto? Qual foi a taxa de conversão? Então a conversão é uma métrica muito justa nisso”, indagou Bortolotto.

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O especialista descreveu como a sombra deve ser instalada para obter tais benefícios. “É importante dar pelo menos três metros quadrados de área por boi e pelo menos um pé direito também na faixa de 3,5 a 4 metros porque eu preciso que o ar circule. Não é só pôr e fazer um barracão estreito porque pode ter complicações. Então eu tenho que fazer esse orçamento. […] Claro que cada caso é um caso e por isso eu saliento: tem que ter altura, o direcionamento da sombra é muito importante também. Nós temos que lembrar que o ideal seria cruzar a cumieira, ele (sombrite) tem que ser na direção norte sul para realmente o sol nascer no leste, cruzar, se pôr no oeste e o comprimento da sombra estar de norte a sul porque a gente quer que o sol incida um pouco no chão para ajudar também a secar este chão. Eu consigo trabalhar com essa projeção. […] E não posso posicionar a sombra bem no pé do cocho porque se eu der pouca área e só no pé do cocho, vai todo mundo ficar deitado no pé do cocho e pode até atrapalhar o comportamento digestivo dos animais”, explicou alguns dos principais pontos.

O profissional informou ainda que o tipo de material a ser usado para produzir a sombra pode variar, como placas solares de captação fotovoltaica, placas zinco, telhas de amianto, de barro, o tradicional sombrite vazado, folhas de babaçu e as árvores. No caso do uso das árvores, o agrônomo ponderou que o produtor deve protegê-las do acesso do gado porque os animais podem querer roer o tronco, então elas devem estar em distância segura para evitar o comportamento.

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“A sombra é o importante. O como vai fazer em cada região, a gente vai ter que sentar, fazer conta e olhar o que que tem. Pode ser um desmanche de barracão, pode ser uma folha de zinco que tinha num silo velho…”, insistiu.

Bortolotto destacou que o retorno do investimento na estrutura de sombreamento é relativamente rápido para o confinador. “Tem que, também, ter o pilar do cliente. Se não for rentável, se não remunerar, nós temos que realmente reavaliar. Então nesse caso nós fizemos um investimento em metro quadrado de sombra e mostramos para o cliente que, pelo retorno que os animais deram, o payback seria bem rápido. […] Faça o custo disso que a gente consegue depois diluir pela performance para saber quantos anos precisam para pagar a conta. Todos os estudos que nós já fizemos sempre deu abaixo de três anos, dois anos e meio. Então é um investimento muito vantajoso porque, imagine, com dois anos você já paga a conta da sombra”, projetou

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Assista a entrevista com Felipe Bortolotto no vídeo a seguir:

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