É fato que esta última estação das águas demorou além do normal para ter início e boa parte do país ainda está recebendo chuvas, mas para quem está preocupado com a nutrição do rebanho na entressafra, as ações já devem estar com cronograma bem definido. Foi o que alertou ao Giro do Boi desta quinta, 12, o pecuarista, zootecnista e consultor da Alcance Planejamento Rural, Tiago Felipini.
O especialista esteve no estúdio do programa para dizer ao pecuarista que ele pode pagar caro pelo improviso na hora de suplementar na seca. “Pela pesquisa, o ideal é começar a suplementar, no Cerrado, principalmente, a partir de abril, com proteína. Porque o pasto vai demandar, vai ter uma demanda de proteína alta e se ele colocar suplementação proteica para o animal nessa fase, logo no começo da seca, ele vai ter um acréscimo em ganho de peso. E com a pouca (suplementação) que ele der, ele ganha dinheiro. Se ele deixar para fazer isto no final da seca, ele vai dar muita proteína e vai ganhar pouco dinheiro, ou não vai ganhar dinheiro”, advertiu o consultor.
Felipini disse que, embora a entressafra já esteja bem próxima no calendário anual do pecuarista, ainda é possível desenhar uma estratégia que, embora não seja perfeita por conta de ter sido feita em cima da hora, ajuda a preparar a boiada para ser comercializada no auge da entressafra, trazendo retorno financeiro ao invernista.
“Qual o principal erro? O pecuarista tem que parar de fazer para parar de perder dinheiro – e começar a ganhar? Ele deixa o boi voltar o peso, […] ele desmama a bezerrada e coloca a bezerrada pra comer pasto baixo, pasto duro, e aí bezerrada sente o estresse da desmama e ele coloca uma condição muito baixa de qualidade de pastagem. Aí a bezerrada sente e a hora que a bezerrada tá emagrecendo, tá com diarreia, a boiada tá voltando peso, ele começa a tratar. Está tudo errado! O boi tinha que estar no frigorífico já e ele está começando a tratar o boi. Então tem que começar a tratar antes da hora, que vai ser agora, a partir de abril. Ele começa com pequenas doses (de suplementação proteica), que é uma condição barata pra ele tratar, e vai aumentando as doses até chegar no final da seca, que aí vai acabando pasto ele vai aumentando dose”, explicou detalhadamente o zootecnista.
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Felipini também falou em sua participação sobre manejo de pasto. Segundo o consultor, o primeiro passo do planejamento alimentar da seca começa no ajuste de lotação, combinando o volume de cabeças por unidade de área sem que falte comida nem leve os piquetes à degradação.
O zootecnista apresentou um gráfico apontando que mesmo solos com elevada fertilidade natural, com a falta de reposição de nutrientes e elevação da lotação, são punidos com a degradação. Portanto, além da suplementação para os animais, devolver nutrientes ao solo é parte importante deste planejamento nutricional, conforme disse Tiago.
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O consultor apresentou um estudo de caso comparando margem líquida da operação de pecuaristas que adubaram seus pastos com os que não adubaram, com os que arrendaram e com os que compraram terras. A maior margem, de cerca de R$ 700 por hectare ao ano, foi justamente para o produtor que adubou suas próprias terras, enquanto quem não adubou teve margem reduzida em 50% na comparação com o primeiro. Já quem arrendou terras teve uma margem de apenas ⅔ na comparação com os que pecuaristas que adubaram pastos e que comprou terras ficou na lanterna no ranking.
Para Felipini, o estudo de caso comprovou que adquirir novas terras para aumentar rebanho não é o melhor investimento, sendo que a maior probabilidade de construir margem está justamente em investir nas próprias áreas de pasto para aumentar a lotação e produtividade.
PLANTA DANINHA: A MELHOR AMIGA DO PECUARISTA?
Em sua participação, Tiago surpreendeu ao revelar qual é a melhor amiga do pecuarista na fazenda. “Planta daninha é amiga do produtor. Você sabia disso ou não? A melhor amiga do pecuarista chama planta daninha. Porque ela está lá para avisar todo dia o pecuarista que ele está fazendo coisa errada. O pecuarista não sabe disso, ele briga com ela, mas ela é amiga dele!”, brincou.
O consultor acrescentou que a planta daninha serve para o pecuarista observar que o pasto está com mais gado do que suporta ou não está bem adubado.
Na entrevista, Tiago falou ainda da importância de o produtor conhecer a altura indicada de pastejo de cada variedade para identificar os momentos de entrada e saída do gado do piquete. O zootecnista recomendou que o produtor deve voltar com o gado a um pasto vedado depois que 90% de toda a população forrageira de determinado piquete estejam com a altura ideal para o pastejo.
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Dúvidas sobre os pontos abordados na entrevista podem ser enviadas diretamente ao consultor pelo e-mail tiago@alcancerural.com.br.
Veja a entrevista completa com Tiago Felipini no vídeo abaixo.