Nesta quarta, 24, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o mestre em genética e melhoramento de plantas e doutor em agronomia Cícero Beserra de Menezes, um dos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo responsáveis pelo desenvolvimento de uma nova cultivar de sorgo granífero, o BRS 3318.
Em sua participação, Menezes apresentou um contexto do cultivo de sorgo no Brasil. “O sorgo, na verdade, é um cereal parecido com o milho em termos de planta, mas diferente em várias outras características. Ele é originário da África, onde é bastante usado para alimentação humana, o que é um pouco diferente do seu uso aqui no Brasil. No Brasil e nos Estados Unidos, ele é mais usado para a alimentação animal. Não que não possa ser usado na alimentação humana, mas ele traz outras opções”, comentou.
Conforme explicou o agrônomo, a nova cultivar não é, entre os tipos de sorgo, a mais indicada para a produção de silagem. “O sorgo é uma cultura muito diversa, esplêndida, que precisa de mais divulgação dos seus benefícios. Hoje eu trabalho com o sorgo granífero, que é o tipo do híbrido do qual a gente está falando (BRS 3318), mas o sorgo é uma cultura muito diversa. Também tem um tipo de sorgo forrageiro, que serve para a silagem porque é uma planta mais alta do que o granífero. Temos também um tipo de sorgo para a bioenergia, geração de etanol ou de biomassa para energia de segura geração. O quarto tipo é o sorgo vassoura, que é utilizado em algumas comunidades, principalmente Paraná e Tocantins, para fazer vassoura”, diferenciou.
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O uso do sorgo no Brasil pode atender, por exemplo, produtores que buscam uma alternativa ao milho na safrinha por ser mais tolerante à seca, conforme sustentou o pesquisador. “O uso do sorgo é o mesmo do milho, então todo o nosso sorgo produzido no Brasil serve basicamente para alimentação de aves, suínos e bovinos. Por que a gente divulga, ou ao menos tenta divulgar mais o sorgo? Por que ele tolera mais seca do que outros cereais. Mais tolerante à seca do que o milho, por exemplo. Então por ele tolerar mais essa seca, ele tem uma janela maior de plantio. Ele é usado na segunda safra, quando as chuvas vão reduzindo. […] Não que ele não possa ser plantado no verão, mas ele perde em produtividade para o milho no verão. Quando as chuvas começam a reduzir, o sorgo começa a ter vantagem em relação ao milho”, justificou.
Na Embrapa Milho e Sorgo, as pesquisas para desenvolver a nova variedade de híbrido de sorgo duraram cinco anos, em que a cultivar foi testada em ambientes diversos com clima diferentes. “Todo programa de melhoramento começa sempre com um número elevado de híbridos […] e a gente vai refinando eles. […] Depois os híbridos são reduzidos para um número menor e nós avaliamos em mais locais”, destacou.
Menezes salientou as características da nova cultivar de híbrido de sorgo. “Ele tem uma produtividade muito interessante, muito boa comparada à nossa média nacional e por isso a gente fala que ele serve para dar mais uma opção ao produtor. […] A nossa média nacional de produtividade […] está em torno de três toneladas por hectare. […] Nos nossos ensaios, ele sempre esteve acima de quatro toneladas. Teve ensaios em que colhemos até sete toneladas por hectare. Não vamos generalizar e dizer que ele é o melhor de todos no mercado, mas ele é uma opção muito boa, o produtor deve procurar testar”, sugeriu.
Conforme observou o doutor em agronomia, as qualidades do novo híbrido se encaixam nas necessidades do produtor brasileiro de sorgo, que é plantar na segunda safra quando as chuvas são mais escassez e a lavoura, portanto, precisa tolerar mais a seca. “Esses híbridos lançados para a segunda safra precisam ter uma estabilidade maior. Eles precisam suportar ao mesmo tempo a seca e, em algumas as regiões, um pouquinho de frio”, declarou.
Conforme consta em conteúdo recentemente divulgado pela Embrapa, o “BRS 3318 é um híbrido simples recomendado para as regiões Centro-Oeste e Sudeste. A cultivar apresenta uniformidade, ciclo superprecoce, estabilidade de cultivo e tolerância à seca”, consta no artigo “Novo híbrido de sorgo com alta produtividade de grãos está em oferta para contratos de cooperação técnica e licenciamento”.
O pesquisador ponderou que duas empresas nacionais já foram apontadas como vencedoras da primeira licitação para o licenciamento da comercialização do híbrido. A partir de agora, as empresas fazem ajustes próprios e testes em outras áreas, selecionando produtores para que possam validar mais informações e produzir sementes.
O agrônomo ponderou que, uma vez disponível no mercado, o produtor deve dosar o uso da nova variedade em suas lavouras. “A gente nunca recomenda que um produtor saia plantando […] Ele deve ir testando, colocando numa área, por exemplo, de dois hectares ao lado da sua lavoura e aos poucos ir usando, testando. Todo ano é recomendado que o produtor teste um ou dois híbridos novos para ele ir se acostumando com o que tem no mercado e evitar plantar só porque o vizinho planta, ou que ele escutou que alguém plantou na cidade. Ele precisa testar muito bem dentro das suas condições porque não é só a genética que faz a produtividade, também tem o manejo de plantas daninhas, de doenças, de adubação. É um conjunto para a alta produtividade”, considerou.
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Confira no vídeo a seguir a entrevista completa com Cícero Beserra de Menezes: