Mesmo com tragédia familiar, empresária se tornou "rainha" da laranja e do Tabapuã

Sarita Junqueira Rodas, presidente do conselho administrativo do Grupo Junqueira Rodas, perdeu a irmã para o câncer e assumiu os negócios após a morte do pai

A jovem Sarita Junqueira Rodas já havia perdido, após uma batalha contra o câncer, uma de suas duas irmãs quando o seu pai, Fábio Rodas, faleceu em 2008 devido a um ataque cardíaco. Para tomar conta dos negócios da família – o Grupo Junqueira Rodas -, a empresária, aos 25 anos, encontrou forças nos ensinamentos do próprio pai e na perseverança de sua mãe Tereza e sua irmã Renata para tocar a companhia e sustentar seu valor como referência na produção de cana-de-açúcar, laranja e genética da raça Tabapuã. Nesta quinta-feira, 04, Sarita concedeu entrevista ao Giro do Boi para contar sua história inspiradora.

“Meu pai nunca deu a opção para ele próprio desistir. Ele só parou porque a vida chegou ao fim. Então quem sou eu pra não ter forças de continuar, não é? Se ele conseguiu, até depois da perda da minha irmã, achar forças para ir atrás dos objetivos que ele tinha, eu tenho obrigação de hoje estar aqui continuando o que ele deixou. Ele sempre falava o seguinte ditado: se as coisas estão difíceis, acorde mais cedo e durma mais tarde, porque nada vence o trabalho”, contou Sarita.

Após a partida de seu pai, Sarita assumiu as rédeas do grupo. Mas a empresária ponderou que somente os laços familiares não garantem que tudo dê certo. “Só quem conheceu entende o quanto ele era inspirador, forte, resiliente e dedicado, competente. Isso não se passa com genética, mas com exemplo, com história”, disse Sarita.

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O Grupo Junqueira Rodas hoje é grande produtor de cana-de-açúcar, um dos principais criatórios da raça zebuína Tabapuã na Fazenda Água Milagrosa e no ano passado quebrou seu recorde de produção de laranja, que chega até os mercados europeus.

“A minha história de vida é relacionada a pecuária e à citricultura, que eram as duas coisas que os meus pais faziam. Meu pai veio da citricultura e casou com a minha mãe, pecuarista. Então desde sempre a gente ia pro Mato Grosso do Sul, onde a gente tem unidade, meu pai tinha pecuária lá, e aqui no estado de São Paulo a gente tinha citricultura e ele sempre foi um apaixonado pela pecuária. A raça Tabapuã, especificamente, eu conheci há 15 anos quando meu pai comprou a (Fazenda) Água Milagrosa. […] É um Zebu brasileiro totalmente adaptado, desenvolvido mesmo no Brasil, e quando meu pai comprou, todo mundo se apaixonou pela docilidade da raça. A gente criava no Mato Grosso do Sul outras raças, mas o Tabapuã conquistou nosso coração porque ele é muito dócil”, disse Sarita.

Sarita falou sobre os desafios da grande responsabilidade pelos negócios do grupo. “Muitas vezes a gente tem vontade de fraquejar. Os desafios são tão grandes, a gente fica tão perdido que acha que talvez desistir pode ser um caminho. Mas a minha mãe, inclusive tem grande parcela disso, e ela muito sofrida depois da perda da minha irmã e do meu pai, falava: ‘se eu estou aguentando, quem são vocês para não suportar?’. Ela falava para mim e pra minha outra irmã. Então a gente nunca se permitiu desistir. A gente fica às vezes cansada, desanimada”, revelou.

A empresário disse, no entanto, que nada cura este desânimo como o tempo. “Nada como um bom travesseiro para trazer um ânimo no outro dia. Agora nesses momentos atuais, inclusive, tivemos muitos dias difíceis, assim como teve no começo, mas a gente dorme e no outro dia acorda com a certeza de que o nosso compromisso com o mundo, principalmente, é muito maior do que qualquer cansaço. E não tem nenhum trabalho fácil, então não adianta eu desistir desse porque o próximo também vai ter dificuldade. É melhor eu ficar nesse porque eu já conheço os caminhos”, afirmou.

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A empresária também encontra na a força de que precisa para as tomadas de decisão. “A gente é muito religioso, na verdade tem muita fé. Somos cristãos e temos a mais absoluta certeza de que nenhuma folha cai do céu sem ter um propósito maior. E se as coisas com a gente aconteceram assim, por mais que muito difíceis, muito tristes, a gente tem uma missão para cumprir aqui e a família é grande. Meu pai e minha mãe têm oito netos, uma bisneta, eu tenho obrigação de fazer esta transição entre o meu pai e os meninos para que as coisas continuem crescendo depois. Eu não tenho esta oportunidade de desistir, e acho que o melhor caminho para não fraquejar é ter a certeza de que você não tem oportunidade de desistir, é sua missão, pega e segue”, disse com convicção.

Sarita fez comentários ainda sobre os desafios da produção de alimentos em meio à pandemia de coronavírus e demonstrou orgulho pela sua missão. “A gente que produz alimento é igual ao médico, a profissionais da saúde. A gente não pode se dar ao luxo de desistir porque a humanidade precisa do que a gente faz. […] Nós somos setor essencial, a gente não pode sentir medo, a gente não pode desistir, a gente não pode parar, a gente tem que achar forças para continuar e o principal para isso, no momento, na minha opinião, é se cuidar para manter a saúde nossa, dos nossos colaboradores e da nossa família bem.

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Nas propriedades do grupo, Sarita disse que adotou uma série de medidas para evitar a contaminação, como aumentar o número de viagens de ônibus que levam funcionários das cidades para as unidades para possibilitar o distanciamento entre as pessoas, uso de máscaras, álcool em gel e até mudou a forma de bater o ponto para um de reconhecimento facial que pode ser feito sem o toque.

“Tem uma pessoa conhecida do meu filho com quem estive conversando esses dias e ela estava fazendo faculdade em Portugal e veio embora porque faltava comida. Brasileiro não passou por isso nenhum dia. A gente não sabe quais são realmente as dificuldades de um país que não produz. A gente reclama, mas a gente tem no fundo é que agradecer. Ele veio embora, já está no Brasil há três meses porque ele ia ao mercado e não tinha o que comprar – não é que não tinha dinheiro, não tinha o que comprar! Aqui a gente fala que as pessoas passam fome por questão financeira, isso com uma questão de solidariedade se resolve. O pior é quando não tem nem o que doar, nem o que comprar, nem o que comer – e isso é graças a um Brasil que planta e cria”, ressaltou.

Sarita deixou uma mensagem antes de encerrar sua participação no Giro do Boi. “O principal recado para o momento é que as pessoas entendam que a hashtagO agro não para’ é bonita, mas para o agro não parar a gente precisa cuidar das pessoas, cuidar de quem planta, de quem cria, e dos colaboradores, que ajudam quem planta e cria. É o principal ponto de agora para o Brasil continuar alimentando o mundo – a gente precisa cuidar da nossa saúde e da saúde dos nossos colaboradores. […] E não desista porque as dificuldades passam”, concluiu.

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Veja a entrevista completa no vídeo abaixo:

 

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