Giro do Boi responde 18 dúvidas sobre formação e manejo de pastagens

“Sem capim, sem pasto não se faz pecuária. Então é fundamental que o pecuarista encare o pasto como uma cultura”, destacou agrônomo Wagner Pires

O programa Giro do Boi desta terça, 29, atendeu 18 telespectadores com dúvidas sobre formação e manejo de pastagens. Para esclarecer pontos importantes, o convidado foi o engenheiro agrônomo Wagner Pires, pós-graduado em pastagens pela Esalq-USP, consultor do Circuito da Pecuária e autor do livro “Pastagem Sustentável de A a Z.

Sem capim, sem pasto não se faz pecuária. Então é fundamental que o pecuarista encare o pasto como uma cultura”, frisou Pires antes de iniciar a “consultoria”.

Leia na sequência a sessão completa de perguntas e respostas:

– A minha propriedade tem atividade de pecuária de cria de corte. Terreno acidentado. Estamos atualmente recuperando e reformando pastagem sempre utilizando as recomendações dos experientes profissionais que participam do Giro do Boi, inclusive as ricas dicas do Wagner Pires. Aproveito aqui para solicitar uma ajuda do Wagner: Estamos no momento reformando um pedaço bem inclinado de pasto de Brachiaria decumbens. Nós ainda temos o privilégio de utilizar a boiada para arar o pasto inclinado. Eu queria saber o que ele acha da Brachiaria MG13 – Braúna, da Matsuda, para aplicar neste terreno? E o que ele acha dessa Brachiaria MG13 para terrenos acidentados, como este da foto (imagem abaixo)? (Benedito Pereira, Maria da Fé, sul de Minas Gerais)

Wagner Pires: O MG13 é uma braquiária muito boa, já plantei dela, tive um bom resultado e eu recomendo para você. O único cuidado que eu vou lhe sugerir com ela ou com outras: como o seu terreno é inclinado, aumente a quantidade de semente um pouco para você ter uma formação satisfatória. O fato de você arar com tração animal está corretíssimo, é a melhor forma, você está fazendo tudo certo. Então faça a semeadura, procure semear no momento certo para você ter uma boa formação e você vai ter um bom pasto. A curva de nível é essencial e é a forma de você dividir o pasto. Evite dividir cerca abaixo porque aí o boi começa a caminhar junto e provoca erosão.

– Começamos há pouco tempo a mexer com gado e estou em dúvida em questão da divisão do nosso piquete. Qual a divisão que seria melhor para facilitar a rotatividade, como tamanho, quantidade de módulos, estrutura e quantidade de cabeças? (Flávio, de Sorriso-MT)

WP: Você tem que fazer as divisões iguais. Para você montar um rotacionado, é recomendado a partir de quatro divisões. Elas têm que ser aproximadamente iguais, você deve escolher um tamanho que o seu lote, o lote que você está acostumado a trabalhar, vá consumir aquele capim em aproximadamente 7 a 10 dias. Esse é o início. Outra coisa: o distanciamento da água até o extremo do rotacionado não deve ultrapassar 300 metros. Esses são os detalhes principais para você montar o seu projetinho de rotacionado.

– Estou pensando em plantar Mulato II, mas me falaram o capim Prima é top. (Dilmar Castilhos, de Jaquirana, Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul)

WP: Mulato II é muito bom. Você tem aí alta probabilidade de geadas e o Mulato II, uma das características dele, é uma tolerância muito boa à geada. Eu já acompanhei trabalhos, situações muito críticas de geada e enquanto a braquiária e outras gramíneas estavam patinando e sofrendo com a geada, o Mulato II já estava despontando.

– Além da Humidicola e Quicuia, qual capim usar em área de encharcamento? Aqui o Mombaça é muito bom, porém ele entra em dormência e a praga entra. (Igor, da região do Bico do Papagaio, no Tocantins)

WP: Humidicola e Quicuia são a mesma coisa. Essa dormência é natural. Ela não é bem uma dormência, ela germina, mas ela tem que formar ramas, ela tem que fechar, e isso leva um tempo e as invasoras vem. Veja bem, você tem outras alternativas, mas não de semente. Você tem o Canarana para área encharcada, você tem o Tangola, você tem o Bengo. A Setária é um material de encharcamento, tolera encharcamento e semente. Você teria essas alternativas. O Mombaça tolera umidade, mas não encharcamento, então ele poderia ficar nas beiradas.

– Minha fazenda está localizada agreste de Pernambuco. Na seca, o capim em sua maioria morreu. A Estrela Africana foi a única que sobreviveu, de maneira impressionante. O que você acha dessa grama? Sou produtor de leite. (Gilberto Azevedo, com propriedade em Bom Conselho, agreste pernambucano)

WP: Qual é o problema? Falta de raiz! Se não tiver raiz no seu capim, todo o capim vai morrer. Você vai resolver com fertilidade. Você tem que melhorar a fertilidade da sua fazenda com fósforo, nitrogênio e cálcio, que são os nutrientes responsáveis pelo enraizamento. Então você tem que melhorar a fertilidade, fazer um bom manejo e aí, meu amigo, o resultado vai ser bom. Mas a Estrela Africana é muito boa, bastante agressiva e tem uma tolerância à seca.

– Eu queria saber qual capim é melhor terra arenosa. Posso jogar calcário para matar o mato? (Lucas Reis, de Barreiras-BA)

WP: Calcário não mata nada. Ele corrige a acidez e melhora a disponibilização dos nutrientes. O fato de o solo ser arenoso não interfere, pelo contrário. As gramíneas gostam do solo arenoso, mas elas gostam de fertilidade. Então trabalhe melhor a fertilidade, comece com calcário e a partir daí você vai melhorando o nível de fósforo e tenho certeza de que você vai ter bom resultado.

– Estamos abrindo uma área no Mato Grosso, terra bem arenosa. Será a primeira formação na área. Qual a pastagem mais indicada para este solo arenoso? (Elton José da Silveira Nantes, de Tesouro-MT)

WP: Faça uma análise do seu solo. Comece do início: calagem e depois fósforo. E aí você pode optar tanto por um Panicum como também por uma Braquiária. As braquiárias são bastante agressivas e têm uma boa tolerância a solos arenosos. Mas nada impede que você plante até o Massai, desde que a fertilidade permita.

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– Tenho feito calagem no Cerrado com incorporação (grade), mas tem alto custo e preciso parar o pasto por bom tempo. É possível fazer a calagem sem incorporação? O pH do solo é de 4. Qual a dosagem recomendada? (Paulo Lesse, com propriedade em Ribas do Rio Pardo-MS)

WP: Para recomendar a dosagem, a gente precisa ter a análise na mão. Mas é possível, sim, você joga o calcário por cima da terra e ir corrigindo isso aos poucos. O cuidado que você deve tomar é o seguinte: aplique o calcário em três partes. Um terço em um ano, mais um terço no outro ano, mais um terço no outro ano porque o calcário é muito lento para descer. Se você jogar a dosagem total, você vai alcalinizar a superfície do seu solo e vai estragar. Se você jogar parcelado, beleza, você continua o teu processo.

– Como fazer silagem de soja? Tem informações sobre silagem em sacos plásticos? (Jerônimo David Dias de Campos, de Novo São Joaquim-MT)

WP: É possível! Isso dá para ser trabalhado, já tem silagem de soja no mercado. Também dá para fazer (com sacos plásticos). E aí o que eu recomendaria? Você entrar em contato com as empresas de inoculantes, que eu não sei se tem inoculante já para silagem de soja. É muito importante avaliar o tipo de soja que você vai plantar. Mas dá para fazer.

– Iniciei um confinamento onde plantei 14 hectares de Capiaçu e estou engordando novilhas. Nesta primeira etapa, servimos o Capiaçu verde e colocamos ração. Minha pergunta seria se posso misturar ureia para aumentar o ganho de peso e de que forma? (Milton, de Maringá-PR)

WP: Dá para fazer, sim! Mas vá misturando gradativamente porque o animal precisa de uma fase de adaptação ruminal. Você está trabalhando com uma das melhoras gramíneas para este objetivo, que é o Capiaçu, então não vamos estragar a dieta. Vá colocando devagarinho e o gado vai se acostumando. Tem que ter adaptação. E não pode molhar a ureia porque senão vai dar toxicidade!

– Qual o melhor tipo de pastagem para se utilizar aqui na minha região? (Bruno, médico veterinário de Joinville-SC)

WP: Você pode plantar, inclusive, as nossas braquiárias, você pode plantar os panicuns. Em Santa Catarina tem muita área de Panicum plantada. Então não tem problema. Apesar de Santa Catarina já se enquadrar numa região de clima temperado, as nossas gramíneas tropicais têm esta adaptação de clima. Então pode escolher! Agora trabalhe a fertilidade e cuidado com os capins mais de crescimento cespitoso em áreas declinadas.

– Gostaria de saber se tem capim precoce de inverno/primavera que dá para plantar no começo de março mesmo com temperaturas acima de 20 graus e capim de verão ou perene que possa ser plantado em setembro com temperaturas abaixo de 20 graus? […] Tudo para altitude acima de 1000m, geadas no inverno, solo pobre, morroado, poucas áreas planas. No Brasil existe forrageiras para resolver os vazios forrageiros das Serras do Sul? (Ademar Sutil Vieira, da Serra Catarinense)

WP: Uma gramínea mais rústica, no caso braquiária, o próprio Marandu seria uma alternativa. Mas cuidado porque ela precisa de calor para se desenvolver e germinar, então se ainda tiver muito frio, aguarde.

– Tenho 30 hectares de capim Mombaça. Na minha região, o capim não está crescendo. Eu plantei ele em dezembro. Quando entra época de chuva, ele cresce rápido. Qual dica e que produto para eu utilizar no capim Mombaça? Usei muito ureia, adubo MAP. (Adriano Alves dos Santos, de Janaúba-MG)

WP: No final das águas, faça uma pulverização com produtos que vão aumentar o enraizamento do seu capim, vão estruturar a sua planta para atravessar o período de seca, que é crítico aí na região de Janaúba e a planta sofre, a pastagem sofre. Então você tem que dar estrutura de tecido de reserva. Se você fizer isso, com certeza a sua pastagem vai dar uma melhora rebrota na seca e vai ter um rápido rebrote.

– Em divisas de propriedades, qual a distância mínima para se plantar pinos e eucaliptos? Existe uma distância mínima a ser respeitada? (Junior Fontana, de Curitibanos-SC)

WP: Eu tenho uma experiência no Rio de Janeiro na Fazenda Boa Fé, em Macaé. Eles desenvolveram um trabalho muito bem feito com silvipastoril com 15 metros entre um renque e outro de eucalipto e deu muito certo o trabalho deles e o resultado foi muito bom. Então eu sugiro a você.

– Tenho uma propriedade no sudoeste da Bahia. Vamos implantar um sistema rotativo de pastagem e hoje no local temos o capim Urocloa. A minha ideia é plantar o MG12 no local e trabalhar com irrigação. Me falaram também do Zuri. Qual é a melhor opção? O problema é que o Urocloa deita demais e acaba sendo muito pisoteado. (Menando Silva, da região da Caatinga, às margens do Rio de Contas, em Brumado-BA)

WP: Você tem luz à vontade, alta temperatura, então a água é imprescindível e vai fazer explodir. Se você irrigar o MG12, com certeza você vai ter um resultado fantástico. Então eu acho que pode entrar com força mesmo que você vai conseguir um bom resultado.

– Uma área de morro bem íngreme e com bastante cascalho, terra de Cerrado e um pouco arenosa. O capim Agreste, nativo do Cerrado, está formado nesta área. Qual o capim mais indicado? O Andropogon? A Brachiaria decumbens é uma boa opção? (Tonico, de Palmeirópolis-TO)

WP: O Andropogon para terra cascalhada é top! Inclusive a gente tem um Andropogon hoje híbrido, que é o Tupã, e é muito bom esse material, muito diferenciado em termos de qualidade e eu recomendo para você. Faça uma semeadura com ele e eu tenho certeza que você vai ter uma pastagem muito boa nessa área sua.

– Dá para plantar Colonião em terra arenosa? (Isidro de Oliveira, de Pirenópolis-GO)

WP: Colonião mesmo, o verdadeiro, a gente já nem acha mais. Se você tem um Colonião na sua fazenda, você pode fazer um trabalho, sim, em área arenosa, não tem problema. O único problema do Colonião é manejo. Nós temos panicuns hoje que são muito melhores de manejo, como, por exemplo, o Quênia.

– Estou com uma ‘derrubada’ de dois hectares, o solo é de pedra, de baixa fertilidade. Qual a melhor cultivar? (Marcos Gabriel, da região do Semiárido no oeste baiano)

WP: Seria a Decumbens. É a mais rústica de todas. Mas, meu filho, vamos melhorar a fertilidade! Olhe o preço que está o boi! Vamos trabalhar!

Antes de encerrar sua participação, Wagner Pires respondeu ainda “pergunta bônus” de um telespectador, Vinícius, que pediu cadeira cativa para o consultor responder todos os dias perguntas dos telespectadores sobre manejo de pasto. “Eu tenho uma dica melhor: é só comprar o meu livro, o Pastagem Sustentável de A a Z que vai diminuir as perguntas”, brincou. A obra do especialista pode ser adquirida pelo site de sua consultoria, o Circuito da Pecuária.

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Se você tiver dúvidas a respeito de manejo de pastagens, envie sua pergunta para o especialista no link do Whatsapp do Giro do Boi, pelo número (11) 9 5637 6922 ou ainda pelo e-mail girodoboi@canalrural.com.br.

Veja a respostas completas no vídeo a seguir:

 

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