Qual o impacto da escrituração zootécnica no gerenciamento de uma fazenda de gado de corte?

Saiba como começar o projeto de escrituração zootécnica dentro da propriedade e exemplos de itens a serem anotados; indicadores devem balizar as tomadas de decisão

No complexo sistema de produção de uma fazenda de gado de corte, são inúmeros os fatores que determinam se o pecuarista terá lucro ou não. Mas não há como fazer a gestão financeiro ou prever a margem sem o controle dos indicadores de todo o rebanho. É justamente esta lacuna que é preenchida pela escrituração zootécnica,

O QUE É ESCRITURAÇÃO ZOOTÉCNICA?
De acordo com a Embrapa, “escrituração zootécnica consiste no conjunto de práticas relacionadas às anotações da propriedade rural que possui atividade de exploração animal; é o mecanismo de descrição formal de toda a estrutura da propriedade: localização, acesso, área, relevo, clima, divisões, pastagens (nativas e cultivadas), benfeitorias, máquinas e equipamentos, funcionários, rebanho e suas categorias, práticas de manejo geral, alimentar, sanitário e reprodutivo, insumos, produtos e comercialização, anotações contábeis, etc. Em um sentido restrito, escrituração zootécnica consiste nas anotações de controle do rebanho, com fichas individuais por animal, registrando-se sua genealogia, ocorrências e desempenho”.

O Giro do Boi desta quarta, 04, tratou do assunto em entrevista com o médico veterinário Mauro Oliveira Júnior, titular da consultoria Ciclo Rural. O especialista falou sobre a importância da adoção da prática nas fazendas de gado de corte e deu exemplos práticos de impactos positivos na lucratividade da propriedade.

“O que o pecuarista precisa fazer? Começar. De qual maneira? Pode ser uma planilha de Excel ou um caderno de anotações, desde que as informações que a gente coloca no computador ou no papel sejam confiáveis. […] Lógico que quanto melhor for a nossa maneira de anotar, menos erros o pecuarista vai ter. […] Tem que começar por uma simples anotação: quando que esse bezerro nasceu? É um macho ou uma fêmea? Parece que a gente está falando que é um negócio tão simples, mas tão simples que ninguém faz ou a grande maioria não faz. É macho ou é fêmea, qual é o tamanho desse bezerro, qual é o número da vaca, qual é o número do bezerro? Será que esta vaca pariu o ano passado? Ela teve ou não retenção de placenta? […] Pese, anote! Parece ser difícil, mas conforme a gente vai pegando o ritmo de serviço, isto fica muito fácil de a gente fazer na fazenda”, enalteceu o veterinário.

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O consultor sugeriu que é a partir deste levantamento que o pecuarista toma suas decisões, como quais touros usar, qual o tipo de acasalamento a ser feito, quando começar a estação de monta ou quais matrizes descartar, atendo-se ao exemplo da reprodução por conta da aproximação da estação de monta.

Mauro lembrou de um exemplo de uma fazenda que, ao implementar a escrituração zootécnica, descobriu que seus bezerros de cedo, nascidos em agosto, pesavam em média 35 kg a mais do que bezerros do tarde, nascidos em dezembro. “Pesou 35 kg a mais e ninguém sabia disso. Quando o fazendeiro descobriu, como a gente soube disso? Anotando”, destacou. “A gente consegue, por exemplo, antecipar a estação de monta aumentando a lucratividade do fazendeiro. Se é com venda de bezerro com que ele trabalha, já na desmama a gente consegue aumentar o lucro”, apontou.

“A gente precisa anotar. Aquele pecuarista tradicional de invernada é coisa do passado. Tem números mostrando que daqui a 20 anos 60% dessa turma vão estar fora do mercado. Então se você, pecuarista, ama a pecuária como nós amamos, se não quiser em 20 anos ser parte destes 60% que estarão fora do mercado, vamos trabalhar”, aconselhou.

Veja a entrevista completa no vídeo abaixo:

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