“Filho de Barretos”, pecuarista desbravou MT e quer mudar a história do Nelore no estado

Pecuarista e presidente da ACNMT Aldo Rezende Telles revelou que a associação vai em breve dar início à maior prova de ganho de peso da história de Mato Grosso

Um “filho de Barretos”, como ele próprio se identifica, criado no interior de São Paulo, calejado pela experiência como pecuarista em Goiás e consolidado como selecionador de Nelore em Mato Grosso. Hoje, terça, dia 17, o convidado especial do Giro do Boi foi o pecuarista Aldo Rezende Telles, proprietário da Fazenda Brejeiro, em Brasnorte-MT, e presidente da ACNMT, a Associação de Criadores de Nelore de Mato Grosso. Além de contar sua história como produtor, Telles falou sobre os desafios que tem para ser um pecuarista eficiente e contruir uma parte da evolução do Nelore brasileiro.

Trabalho, dedicação, e determinação”, destacou Telles ao ser questionado sobre os pilares para o sucesso. “Se você junta tudo… Até há poucos dias me perguntaram como seria possível atingir o sucesso financeiro. É uma coisa muito simples. É só você pegar as suas qualidades… E a 11ª é a sorte, que vem de lambuja”, brincou o produtor.

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Telles lembrou de suas origens. “Eu sou filho de Barretos (SP). Meus pais moravam em Barretos, depois mudaram para Goiás, em Porangatu. E eu fiquei em Barretos trabalhando e estudando até os 21 anos. E com 21 anos eu mudei para Porangatu para iniciar o meu trabalho na pecuária. O meu pai era um pequeno proprietário em Porangatu”, recordou.

“Então, na verdade, nós somos filhos de pequenos produtores e netos também de pequenos produtores em Barretos. Nós já nascemos na pecuária, mas de pequena escala. […] A gente ama o que faz e luta muito. Há poucos dias eu fiz 71 anos e Deus me deu uma coisa muito importante que é a saúde. Então eu digo que trabalho o máximo que eu posso. O meu trabalho é o meu lazer. A gente conseguiu alguns resultados também através dessa determinação, que é muito grande”, compartilhou Aldo.

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A evolução de Aldo como criador acompanhou a consolidação do Nelore como principal raça do rebanho bovino brasileiro. “Isso é uma coisa maravilhosa. Nós temos até uma pequena história para contar do crescimento do Nelore. Nós estamos há 50 anos na atividade de pecuária, nós passamos por Goiás, ficamos por lá 22 anos, em Porangatu, […] e de lá viemos para Mato Grosso. Lá, eu consegui ter bons resultados, cheguei na presidência de sindicato rural de 1991 a 1994, fiz um trabalho marcante. Nós vimos que a natureza de Mato Grosso é mais favorável e nós resolvemos mudar para Mato Grosso para poder multiplicar as nossas terras, o nosso gado. Outra coisa importante: na minha mudança de Barretos para Porangatu, um ex-prefeito de Porangatu, naquela época, em 1971, foi lá em Barretos e comprou o gado chita. Era um gado praticamente vermelho, roxo, amarelo, não tinha o gado Nelore. Ele foi em Porangatu e comprou sete touros Gir e dois touros Nelore. Eu acredito que há 50 anos esses dois touros Nelore foram os primeiros a chegar ao norte de Mato Grosso. Você vê o rendimento dessa raça. E hoje nós temos de 80 a 85% do Nelore porque ele é o melhor, ele tem a melhor adaptação, é a melhor mãe, então ele é um animal muito produtivo que traz resultados para o criador”, contou Aldo.

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“NÓS GOSTAMOS DE TECNOLOGIA”

O produtor detalhou o sistema de produção de suas propriedades, sempre em evolução para seguir o compasso da atividade. “Nós trabalhamos com ciclo completo. A gente tinha uma quantidade boa de gado PO, mas nós contratamos uma empresa de assessoria e essa empresa avaliou que a gente tinha que melhorar a rentabilidade da fazenda e então a gente diminuiu um pouco o gado PO e aumentou o gado comercial. Hoje estamos com semiconfinamento e confinamento e, por último, instalamos na fazenda um pivô central em 150 hectares porque nós somos apaixonados pelo feno. Para a gente ter um feno de boa qualidade durante o ano todo, nós tínhamos necessidade de um pivô para que a forrageira produzisse mais e desse um feno de melhor qualidade. Isso está sendo inaugurado agora na nossa fazenda. Ainda temos lá a integração. […] Nós gostamos de tecnologia e estamos aqui na Nelore mostrando aos produtores de Mato Grosso, aos criadores de Mato Grosso, que a intensificação é muito viável, é produtiva. Você vai conseguir precocidade, você vai ter mais resultado. E quando você não tem números, que era o meu caso há três anos, você às vezes economiza pensando que vai ganhar dinheiro e, na verdade, você tem que investir para poder ganhar mais”, ponderou.

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RECONHECIMENTO

A busca constante por melhoria, abrindo mão de algumas convicções, inclusive, rendeu frutos ao pecuarista. “Quando eu estou participando (do Circuito Nelore de Qualidade) como presidente da Nelore Mato Grosso, eu tenho que mostrar que o que faço dá resultado. Por isso nós participamos das duas provas, tivemos a felicidade de, em Juara, pegar a medalha de prata para bois e tivemos a felicidade de pegar medalha de bronze para fêmeas. Participamos com dois lotes. E em Diamantino nós participamos só com um lote de 108 bois e conseguimos a medalha de prata, mostrando para o pecuarista, para o produtor de Mato Grosso, que não basta falar, a gente tem que falar e fazer. Então mostramos precocidade, dos nossos animais, 67% foram de dois e zero dentes e deram 24,16@ em Juara e 23,7@ em Diamantino. Nós ficamos muito felizes por essa resposta do nosso gado, mostrando que nós temos uma boa genética na nossa fazenda”, celebrou.

“A gente ama o que faz e luta muito”, contou Aldo Telles em sua entrevista ao Giro do Boi

MUSA DA CARNE

Afirmando ser um grande fã do programa Giro do Boi, Aldo revelou que se inspirou em uma entrevista que foi ao ar pelo programa para conduzir uma transmissão ao vivo pelas redes sociais da Nelore MT, que teve grande repercussão.

“A visibilidade do Giro do Boi é muito grande. Depois do doutor Nabih (Amin El Aouar, presidente da Nelore do Brasil), que é o fã número um do seu programa, eu sou o segundo. Eu sou seu fã, sou fã desse programa e a gente traz algumas novidades do Giro do Boi para mostrar aqui na Nelore. Há alguns dias nós fizemos uma live com a Miss Carne’, Jade Soller, que fez uma entrevista contigo e nós gostamos demais e fizemos uma live com ela, que também teve audiência muito boa porque ela mostra que a carne é necessária. Mostramos tudo que tem na carne, os minerais para a nossa saúde, que quem não come carne tem muita dificuldade para ter uma boa saúde e nós demos para ela, a partir daquele momento, o título de nossa musa da Nelore de Mato Grosso. A Jade é uma pessoa muito especial, que defende o nosso negócio, o negócio de todos vocês”, ressaltou Aldo.

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MAIOR PROVA DE GANHO DE PESO DA HISTÓRIA DE MATO GROSSO

A qualidade da carne, aliás, é tema importante para o atual presidente de Nelore MT, tanto que a associação está conduzindo uma série de testes de desempenho com diferentes categorias para analisar produtividade e características da proteína vermelha.

“Nós fazemos um trabalho em equipe, acabamos de terminar uma prova com 180 novilhas (veja mais detalhes pelo link abaixo). Elas entraram com 212 kg e chegaram ao abate com 15,6@. Foi um sucesso, superou todas as marcas, foi um experimento feito com acompanhamento técnico e também da UFMT, com doutorandos, […] estudantes, estagiários, formandos, alunos, pessoas para ajuda a perseguir o nosso desenvolvimento. […] E estaremos iniciando agora, até o final do mês, a maior prova da história de Mato Grosso. 540 animais Nelore. Uma coisa muito importante é que nós teremos a participação de 18 produtores, cada um com 30 animais, e nós faremos esse abate lá na etapa de Diamantino do Circuito Nelore de Qualidade 2022, um abate especial para a Nelore de Mato Grosso. E esses 18 produtores estarão nesta competição, lutando pela premiação, mostrando o resultado um trabalho que é muito importante para nós, e que estamos no início, que é o trabalho de sequestro de animais. Então nós faremos numa pequena área a engorda de 540 animais que estão chegando na fazenda agora com 7,5@ e nós queremos abater daqui 13 meses com 21@. Isso é o sequestro de animais, o objetivo desta prova”, antecipou.

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O trabalho duro rendeu homenagens não só dentro do campo, mas também fora das porteiras, conforme mostrou um recado especial exibido durante a entrevista com Aldo Rezende Telles.

“Estou aqui também para homenagear o amigo Aldo Telles, presidente da Nelore Mato Grosso. Um homem de fibra, desbravador, visionário e que desde que entrou para a Nelore Mato Grosso, está realizando um trabalho fantástico, de fomento da raça Nelore, de fomento da carne vermelha e com toda as ações da Nelore de Mato Grosso, como o programa de ganho de peso, e especialmente a valorização do nelorista de Mato Grosso e de todo o país. Parabéns, Aldo, parabéns, Mato Grosso!”, disse o médico cardiologista, pecuarista e presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil, Nabih Amin El Aouar.

“A gente fica muito feliz e isso aduba a nossa vontade. Eu estou na Nelore de Mato Grosso para doar dois anos da minha vida que eu possa transmitir o que sei, porque na nossa fazenda nós aplicamos todas as tecnologias e conseguimos grandes resultados. Então como presidente da Nelore, pela oportunidade que eu tive, essa honra de representar os neloristas de Mato Grosso, que têm o maior rebanho PO do Brasil, eu quero me doar e fazer um trabalho mostrando que também na pecuária comercial a gente pode evoluir muito”, afirmou.

O presidente da Nelore MT deixou o portal neloremt.org.br à disposição do produtor interessado em se filiar. “Agora nós acabamos de iniciar 14 novos sócios e a nossa meta é ter um aumento de pelo menos de 50%. Nós estamos, graças a Deus, com nossa credibilidade, nós estamos tendo um apoio muito importante dos pecuaristas e das empresas, mas como nós estamos vivendo um momento de pandemia, nós temos dificuldade para trabalhar e estamos andando um pouco devagar. Mas no ano que vem, se Deus nos ajudar, nós teremos um ano mais saudável, passando essa fase difícil, e eu tenho certeza que nós vamos conseguir um crescimento muito maior. Eu estou percebendo que o pessoal quer participar aqui com a gente das palestras, participar dessas provas e, para isso, tem que ficar sócio, é uma das exigências. E como o pessoal está com muita vontade, eu acredito que vai crescer muito a Nelore de Mato Grosso para nós nos unirmos e termos uma entidade muito mais forte para conseguirmos reivindicar mais coisas para a nossa raça e para a nossa pecuária de Mato Grosso”, concluiu Aldo Telles.

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É possível acompanhar a entrevista completa com o pecuarista e presidente da ACNMT pelo vídeo a seguir:

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