Um estudo conduzido em uma fazenda de ciclo completo no interior do Mato Grosso do Sul serviu para desenvolver uma estratégia de suplementação de novilhas e primíparas para que as categorias apresentassem taxa de prenhez mais próxima à das multíparas. O levantamento faz parte da dissertação de mestrado da médica veterinária Bruna Catussi, que concedeu entrevista ao Giro do Boi nesta terça-feira, dia 1º.
Catussi falou ao programa do desafio da reconcepção das primíparas. “A primípara tem essa característica, ela é muito nova, vai ser emprenhada em torno de 24 meses, vai parir com 36 e vai estar em fase de crescimento e ela tem uma alta demanda energética”, apresentou.
Na Fazenda Mater, em Santa Rita do Pardo, no MS, a estratégia para aumentar os resultados em taxa de prenhez passou pela implantação da IATF com ressincronização e suplementação tanto no pré-parto das novilhas como no pós-parto para facilitar a reconcepção. O estudo foi feito em 420 fêmeas Nelore e tratou do problema de uma forma real, ou seja, com um custo que tornasse a solução viável, aplicável à realidade das fazendas brasileiras, destacou Catussi.
“Sempre foi um gargalo da pecuária em si. E na Fazenda Mater não era diferente. Nós sempre fomos muito preocupados com isso. O seo Gerson, pioneiro daqui, que trabalha comigo, meu pai, sempre tratou como um problema, um gargalo. A gente sempre ficava em 50%, 40%. Aí veio a IATF. A gente conseguiu com IATF melhorar um pouquinho e chegar a 60%, mas o índice de prenhez comparado com multíparas foi uma surpresa depois do projeto da Bruna e com alguns manejos a mais”, confirmou Rafaela Maria Sutiro Angelieri Auder, que atua como zootecnista na Fazenda Mater.
Já a nutrição contou com ajuda de um suplemento em bloco, conforme explicou a médica veterinária e mestranda Bruna Catussi. “A gente escolheu utilizar esse suplemento por conta de praticidade. O que ele traz para a gente é a questão da praticidade porque não precisa ser colocado todo dia, como um suplemento convencional. Ele pode ser colocado apenas uma vez por semana ou a cada dez dias para o gado, então a gente tem esse uso da mão de obra reduzido e a gente não perde (o suplemento) com chuvas, com vento. Ele tem uma boa palatabilidade, isso leva o gado a consumir bastante a quantidade adequada”, informou.
Uso do suplemento em bloco foi um dos pontos da estratégia nutricional para aumentar a taxa de prenhez das novilhas e das primíparas.
O uso da monensina também foi preponderante para elevar os resultados. “Como o pasto está seco nessa época do ano, a monensina ajuda nesta questão de ruminação e de saúde do rúmen e potencializou os ganhos com essa categoria”, acrescentou Bruna.
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Os resultados alcançados foram expressivos, conforme listou Rafaela. “Na primeira (estação de monta usando a estratégia), em 2018/19, a gente teve 70,5% (em taxa de prenhez). Em 2019/20 70,9% das novilhotas (emprenharam). E agora, nesse ano, a gente está esperando 72% em três IATFs”, projetou. No caso das primíparas, a meta é um pouco mais audaciosa para 2020/21: 78% de prenhez.
“A fazenda costumava fazer apenas uma inseminação e depois colocava para repasse com touro. E aí, nas primíparas, que a gente sabe que é essa categoria que precisa de mais estímulo hormonal para responder, a ressincronização foi essencial para gente fechar um índice bacana com essa categoria”, justificou Bruna.
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Mas a taxa de prenhez não foi o único indicador que apontou o sucesso do novo sistema implementado para a cria da Fazenda Mater. “Além disso, teve também a questão dos bezerros na desmama, que foram mais pesados. E foi legal que a gente também conseguiu analisar que as primíparas que não ficaram prenhes puderam ser abatidas, então elas não precisaram ficar na fazenda durante a seca para serem terminadas. Já estavam com acabamento perfeito e isso foi muito interessante”, completou Rafaela. Na propriedade, o peso médio dos bezerros das novilhas suplementadas foi 10 kg superior à média anterior de peso à desmama da categoria.
Peso à desmama 10 kg superior à média anterior foi um dos benefícios da estratégia reprodutiva e nutricional utilizada na Fazenda Mater.
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Como um dos objetivos do estudo foi encontrar uma solução aplicável à realidade das fazendas brasileiras, Bruna comentou a viabilidade da replicação deste sistema. “Eu acredito que seja extremamente interessante, mas tem que ter estratégia. Se a gente não pensar em uma estratégia nutricional para essa novilhas chegarem com aporte nutricional adequado e uma condição corporal adequada, a gente vai acabar perdendo dinheiro. Então eu acho que se fizer uma estratégia desde a desmama até o momento em que ela é inseminada, a chance de sucesso é grande”, sustentou.
“Para você diminuir a idade (à primeira concepção) dessas novilhas, precisa de atenção muito grande para ela. Ela emprenhar a primeira vez é fácil, mas para ela reconceber e manter esse escore corporal, já que ainda está se desenvolvendo, você precisa de um aporte nutricional muito forte. Essa redução de idade das novilhas é importante? É importante para uma fazenda, isso é precocidade. E é como o professor Bento fala: você pode ter genética, mas se você não tem boia, você não tem a demonstração do genótipo desse animal. Então você tem que ter atenção nutricional, principalmente”, reforçou Rafaela.
Novilhas prenhes na Fazenda Mater: manutenção do escore corporal foi decisivo para boa taxa de reconcepção.
“A gente fez toda uma análise econômica levando em consideração o custo desse produto (suplemento em bloco), que é um pouco mais alto, mas o ganho que a gente tem com uso reduzido de mão de obra, já que a gente não precisa repor frequentemente, e o desempenho que ele trouxe a mais (compensaram). Então ele trouxe bezerro a mais no final da estação de monta e a gente teve a estação de monta adiantada porque teve mais vacas prenhes no início, na primeira inseminação. Então colocando todas essas vantagens, a conta fechou e fechou bastante”, valorizou Bruna.
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Confira as entrevistas completas com a médica veterinária Bruna Catussi e com a zootecnista Rafaela Auder no vídeo a seguir: