“Falta grão na nutrição dos bovinos no Brasil”, aponta zootecnista

Enquanto pecuarista brasileiro usa grãos na terminação de 1,8% de todo o rebanho, Argentina usa em 3%, Austrália e África do Sul em 4% e México e EUA usam em 9%

Depois de participar como convidado do 5º Webinar Giro do Boi: Terminação Intensiva a Pasto (TIP) – Do Pasto ao Prato, o zootecnista e diretor de marketing da Phibro Animal Health para o Hemisfério Sul, Danilo Grandini, sentiu a necessidade de entender melhor uma informação que fora debatida no encontro virtual (relembre o conteúdo do webinar e baixe as palestras em PDF no link a seguir).

+ 5º Webinar Giro do Boi: Terminação Intensiva a Pasto (TIP) – Do pasto ao prato

Por isso, na sequência, escreveu artigo para a Revista DBO intitulado “De volta à prancheta”, indicando que a pecuária tem ajustes a serem feitos. Na ocasião, o autor escreveu o que segue:

Duas informações me chamaram atenção e ajudaram em um diagnóstico no qual, há muito, penso. Vamos ao primeiro ponto: de 2005 a 2019, ou seja, em 14 anos, no ambiente JBS, o peso de abate saltou de 17,9 para 19,9@ (machos inteiros a pasto) e de 17,6 para 20,6@ (machos inteiros confinados); em 2019, 66% dos machos inteiros de pasto e 87@ dos machos inteiros confinados foram abatidos com até 4 dentes. É um avanço fantástico: animais mais pesados e mais jovens! Mas […] 80% estavam com acabamento de gordura escassa/ausente, o que, na prática, representa um grande desperdício de potencial. Mostra que existe espaço para melhorias, mostra que devemos voltar à prancheta, pois algo foi esquecido“.

Nesta segunda, 03, Grandini voltou como entrevistado convidado do Giro do Boi para detalhar o que sugere como ajuste de sistema de produção para solucionar este desperdício de potencial.

“O bom é isso, que a gente tem número para avaliar o que se produz e para dar um feedback ao produtor. E o que a gente vê é que nós estamos deixando carcaça para trás. Se nós pensarmos que o mundo hoje vive sob uma bandeira grande do tema sustentabilidade, sustentabilidade dentro do sistema de produção é produzir mais em menor tempo e otimizando os recursos. E o boi é um recurso, assim como o pasto, a água e o grão, o boi é um recurso dentro da propriedade. E quando nós vemos que 80% dos animais estão sendo abatidos com gordura escassa ou ausente, alguma coisa está faltando”, apontou Grandini.

O especialista acrescentou que a evolução no peso ao abate tem relação com o avanço da própria genética, mas que para se aproveitar todo o potencial do melhoramento do rebanho, a nutrição deve seguir curva de crescimento semelhante.

Uma das evoluções da nutrição veio com a aceleração da recria, conforme apontou Grandini. “Quer dizer que o pecuarista eliminou um dos principais gargalos da fazenda, que é a seca. Ele praticamente está eliminando a perda de peso na seca, está ganhando peso durante a seca, só que a fase de terminação tem que ser um pouco mais acelerada. Isso que está faltando possivelmente nos planos nutricionais aqui do país”, opinou.

TERMINAÇÃO DE BOVINOS COM GRÃOS: BRASIL X MUNDO
Grandini sugeriu que ajustes podem ser feitos no sistema de engorda para solucionar este problema e preencher esta lacuna de falha na terminação. “Nós temos que repensar um pouco o modelo nosso. Se a gente olhar o resumo é o seguinte: está faltando grão na dieta dos animais. Eu dou uma comparação para você, que é do Brasil com outros países: o Brasil, se a gente considerar 100% do nosso inventário, o rebanho todo, 1,8% do rebanho estão sob regime de grão. Na Argentina, 3% do rebanho estão sob regime de grãos. Na Austrália e África do Sul, 4% do rebanho estão sob regime de grãos. Quando a gente vai para México e Estados Unidos, 9% do rebanho estão sob regime de grãos. Então, de certa forma, apesar de o Brasil ser um enorme produtor de grãos, esse grão ainda não está sendo usado de uma forma estratégica dentro da pecuária e a gente não está tirando proveito do recurso que nós temos. Falta grão na nutrição dos bovinos no Brasil, esse é o resumo da ópera.

No entanto, apesar do diagnóstico e possível solução aparentemente simples, falta uma informação essencial para que o produtor se sinta confortável para aumentar o aporte de grãos na dieta: números nas mãos. Segundo Gradini, o pecuarista tem receio de investir porque não conhece o próprio lucro. “Esse número não está na mão, então é difícil a pessoa tomar uma decisão porque é um investimento […]. Precisa ter número para tomar a decisão”, frisou.

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Intensificar também a gestão será um dos desafios do produtor para transformar sua atividade de modo que ela seja mais industrial, o caminho para que a pecuária siga competitiva, produzindo independente de estratégias de comercialização momentâneas e abatendo boi gordo o ano todo.

Antes de intensificar a produção, intensifique a gestão

Grandini reforçou ainda que o uso de grãos na dieta dos bovinos não está relacionado somente com a terminação em cocho, mas com outros sistemas intensivos que se baseiam na produção a pasto. “De uma forma prática, o animal no pasto começa a perder muita performance depois dos seus 380 a 420 kg. 420 kg é a nota corte para o sistema a pasto. A partir deste momento ele deixa uma idade juvenil, entra para a idade adulta, então há uma mudança drástica de hormônio nesse animal, de forma que ele precisa de mais densidade energética para poder continuar o crescimento. De uma maneira muito prática, o pecuarista aproveita melhor o serviço que ele pode no pasto até 380 a 410 kg e, a partir deste momento, ele deveria, sim, pensar em incluir grão na terminação destes animais”, recomendou.

O zootecnista apontou que esta possibilidade é praticamente única para o Brasil, um diferencial que países concorrentes não têm. “Então é fazer o máximo que pode até 380 a 420 kg a pasto – que é o modelo de sonho dos países mais desenvolvidos: ter pasto à vontade para poder recriar este animal com custo barato – mas a terminação feita com grão, que é lucrativa. Nós não vemos hoje o grão como entendimento de custo, na verdade é uma ‘senhora oportunidade’ para o pecuarista rodar o rebanho, usar mais o que tem, dar giro e aumentar a quantidade de arrobas vendidas na mesma área”, concluiu.

Para Gradini, este ajuste no sistema de engorda fecha o ciclo de sustentabilidade produzindo mais não só por área, mas também por animal.

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Assista a entrevista completa com Danilo Grandini:

Foto: Guilherme Viana / Reprodução Embrapa

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