Transformar o que seria lixo a ser descartado e até um problema de logística de uma propriedade rural, ou agroindústria, em riqueza para o solo da própria fazenda ou para outros produtores rurais. Esta é o objetivo de um laboratório da Embrapa Solos que está simulando e acelerando o processo de compostagem em biorreatores para ajudar empresas e fazendas com a destinação correta de seus resíduos orgânicos.
O assunto foi tratado em reportagem da série especial Embrapa em Ação, gravado na sede da própria Embrapa Solos na capital Rio de Janeiro. O pesquisador da unidade Caio de Teves, engenheiro agrônomo, mestre em engenharia de produção e engenharia ambiental e doutor em agronomia, falou sobre a iniciativa em conteúdo que foi ao ar pelo Giro do Boi nesta sexta, 17,
“A compostagem é uma técnica de tratamento de resíduos orgânicos, vamos incluir aí o esterco dos animais, resíduos agroindustriais, que têm como produto final o fertilizante orgânico que a gente vai usar no solo para melhorar as condições de fertilidade do solo e da lavoura. O composto orgânico oriundo da compostagem é muito usado em hortaliças, em frutíferas. […] A compostagem tem um papel muito importante porque hoje os resíduos agroindustriais são gerados em um grande volume num ponto específico. É um confinamento, é uma agroindústria, só que aquela área que faz o entorno destes pontos de geração de resíduo, ao longo dos anos, perde a capacidade de absorver esse esterco, estes resíduos na forma de adubo porque há uma saturação do solo. Então a compostagem tem uma função de tratar este resíduo, colocar esse resíduo numa condição melhor para transporte, ou seja, ganhar um alcance maior para uso, porque você perde volume, você concentra nutrientes, você consegue diminuir a umidade natural que este resíduo tem, então você tem um custo menor e consegue um alcance maior no transporte deste material”, resumiu o pesquisador.
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Entretanto, para aproveitar a oportunidade, é preciso entender o processo de transformação pelo qual passam os resíduos orgânicos até que virem fertilizante. “A compostagem exige conhecimento. Precisa estudar compostagem. Tem muito mito sobre a compostagem, às vezes, na internet, em alguns materiais mais simples. É preciso estudar”, frisou Caio.
Para cumprir esta etapa de entender a complexidades das reações para ajudar produtores de resíduos que queiram fazer sua compostagem, a Embrapa Solos montou um laboratório com uma série de biorreatores que aceleram as reações químicas em ambiente controlado.
“Melhorar a qualidade das informações sobre o processo de compostagem, que é um bioprocesso, ou seja, bio porque tem atividade biológica, tem microrganismos agindo ali para degradar este resíduo orgânico. […] Todo acompanhamento aqui de temperatura, da respirometria, oxigênio, CO2, amônia e metano é online, em tempo real a gente tem estas informações. Lembrando que a compostagem é um bioprocesso aeróbio, ele é completamente oposto à biodegradação anaeróbia, que gera metano e a gente aproveita metano como energia. Este é um outro lado da biodegradação, é a biodegradação aeróbia, que tem como função não gerar metano num primeiro momento, mas gerar o fertilizante orgânico”, detalhou de Teves.
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Com o laboratório, o estudo desta processo todo é facilitado porque não há necessidade de formar grandes pilhas ou leiras de resíduos para analisar o que ocorre com todo aquele volume, ou seja, a análise ocorre em escala menor. “Fazendo isto a gente consegue fazer estudos mais aprofundados, avaliações mais aprofundadas do processo de compostagem. Nós conseguimos avaliar uma mistura nova, um resíduo novo que se quer testar com bastante rapidez. Em 24 horas eu tenho uma resposta sobre isso. A gente também pode testar, comparar inoculantes novos, inoculantes microbianos, aditivos que você queira testar, por exemplo, para reter a amônia que é perdida durante a compostagem, que é um ‘calcanhar de Aquiles’ da compostagem. Se você quer testar um manejo diferente ou um aditivo diferente, uma mistura diferente, primeiro você pode testar nos biorreatores com muito mais velocidade e num volume muito menor de resíduo”, disse o agrônomo.
O pesquisador da Embrapa Solos ainda apresentou uma parceria entre a instituição e o Rancho São Francisco de Paula, que produz hortaliças em Teresópolis-RJ, e que está ajudando a propriedade a aproveitar os seus resíduos do processamento para comercialização do excedente.
O contato para mais informações sobre estes estudos pode ser feito com o pesquisador pelo e-mail caio.teves@embrapa.br.
Veja a reportagem completa da série Embrapa em Ação no vídeo abaixo: