Dois princípios para você corrigir a queda de produtividade em plantio direto

Popularização do plantio direto no Brasil fez com que produtores deixassem de lado pilares importantes que garantem a sustentabilidade do sistema

Em mais um episódio da série especial Embrapa em Ação para que foi ao ar nesta sexta, dia 19, o pesquisador da unidade Solos Luís Carlos Hernani, engenheiro agrônomo, mestre em energia nuclear na agricultura, doutor e pós-doutor em agronomia falou sobre dois dos principais erros dos produtores que utilizam o plantio direto e como trabalhar para corrigi-los de forma a tornar o sistema sustentável e, portanto, longevo dentro das fazendas.

Hernani destacou que o sistema tornou-se popular no Brasil na década de 90 por reduzir o custo do produtor com uso de maquinário ao mesmo tempo que diminui o risco de erosão, tornando-se então abrangente no País. Entretanto, ao longo do tempo, com sua popularização, alguns pilares foram abandonados, criando problemas em vários locais pelo manejo inadequado que acarreta em mudanças químicas e físicas no solo.

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Para ajudar o produtor a preencher estas lacunas, a Embrapa, por meio de uma rede de pesquisa, lançou estudos e observações em 12 áreas diferentes do país, localizadas em 12 microbacias dentro de propriedades agrícolas cujo sistema já é utilizado há décadas para validar as orientações a serem repassadas.

Na entrevista ao Giro do Boi, o pesquisador listou alguns dos problemas identificados. “Problemas como, por exemplo, a eliminação quase total dos terraços em algumas áreas, o uso de monoculturas com sistemas radiculares que não vão influenciar adequadamente a estrutura do solo. Então tem ocorrido erosão, tem ocorrido uma estabilidade ou até queda na produtividade na produção das culturas justamente por conta de que os princípios básicos do sistema de plantio direto não têm sido utilizados de maneira total, de maneira global. Têm sido usados apenas em parte. E o uso em parte de uma técnica complexa que é o sistema de plantio direto, que envolve um conjunto de tecnologias, envolve um conjunto de práticas e técnicas que visam o não revolvimento do solo, o uso de espécies diversificadas, a cobertura permanente do solo, isso é meio preocupante”, advertiu.

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Segundo Hernani, o produtor deve usar a natureza como inspiração para conduzir o sistema plantio direto. “O princípio básico do sistema de plantio direto é a busca daquilo que a natureza faz. Analisando a natureza, uma floresta, por exemplo, a Floresta Amazônica, você verifica que existe uma série de espécies ali simultaneamente sendo desenvolvidas, que existe uma cobertura morta bastante generosa sobre o solo, que existe também sistemas radiculares agressivos e abundantes, que existem determinadas características neste sistema natural. Então o sistema plantio direto deve buscar isso também”, comparou.

“Deve buscar uma diversidade de culturas. Tem que ser diversificado o sistema, não pode ser as mesmas culturas todos os anos, tem que haver uma diversificação de culturas em primeiro lugar. Em segundo lugar, deve haver cobertura permanente do solo. Não se pode plantar uma cultura e deixar os resíduos ali esperando a próxima safra. Tem que haver sempre culturas conduzidas desenvolvendo-se ali naquele sistema”, listou.

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O pesquisador ponderou, porém, que a decisão comercial pesa e muitas vezes inviabiliza a rotação de culturas. Neste caso, o que o produtor pode fazer? Hernani respondeu. “Às vezes é impedida porque as culturas comerciais são as mesmas e elas têm que ser plantadas. Então o que nós recomendamos? Recomendamos rotação e consorciação de culturas. A consorciação de culturas é fundamental e se dá principalmente na cultura do milho, que vem imediatamente após a soja na cultura da safrinha. Muita gente vê uma certa dificuldade em fazer isso, mas isso é fundamental para que o solo fique coberto depois que o milho foi colhido. Você tem ali uma cobertura com a forrageira, uma Ruziziensis, um Piatã, um Xaraés, enfim, uma série de forrageiras que podem hoje ser associadas, consorciadas com um milho. Isto facilita a entrada de um outro fator, que é um fator animal, e você pode então fazer o pastejo com animais para terminação utilizando aquela cobertura verde da forragem”, recomendou o agrônomo.

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O pesquisador da Embrapa Solos disse inclusive que as forrageiras consorciadas com o milho podem variar e servir para reforçar a rotação. “O sistema de plantio direto é base para integração lavoura-pecuária, que aí no caso é o animal sendo terminado ali na lavoura, e também lavoura-pecuária-floresta. É claro que existem várias formas de fazer isso e é claro que cada condição climática, de solo, comercial e cultural de cada região vão influenciar no sistema que você vai usar. Você pode consorciar o milho com mais de uma forrageira, então você planta três espécies ao mesmo tempo. […] Você pode plantar uma parte com Xaraés, uma parte com Ruziziensis e consorcia isso com o milho. Aí você tem, ao mesmo tempo, três espécies. Qual a importância disso? Cada espécie no solo, no sistema radicular destas espécies, tem um conjunto de microorganismos que são específicos. É uma diversidade biológica que vai ajudar muito na melhoria da qualidade do solo porque aí que se produz as estruturas, a disponibilização de nutrientes, é aí que se produz toda questão da aeração, a infiltração e retenção de água e até suprimentos para o lençol freático”, concluiu.

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Veja a entrevista completa no vídeo a seguir:

Foto: RRRufino / Reprodução Embrapa

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