Decidindo na hora certa, pecuarista recupera pasto com 50% do custo da reforma

Veja imagens que apontam o grau de infestação das plantas daninhas no pasto e qual a melhor decisão tomar a partir de cada estágio de degradação

O bom gestor é um bom tomador de decisões. A sentença evidencia sua veracidade mais uma vez quando a situação envolve a recuperação ou a reforma de pastagens. O assunto foi abordado nesta terça, 24, em entrevista com o pecuarista e zootecnista Tiago Felipini, especialista em nutrição animal pela Fazu e consultor da Alcance Planejamento Rural.

Felipini apresentou os estágios de invasão de plantas daninhas no pasto e como eles funcionam como um indicador de qual a melhor atitude a ser tomada.

O especialista lembrou ainda que as plantas daninhas são, de certo modo, aliadas do produtor na hora da degradação, pois além de servirem como “termômetro”, também contribuem para que o prejuízo não seja ainda maior, evitando, por exemplo, o início de erosão.

“Você tem que lembrar da frase que eu disse da última vez que estive aqui (relembre no link abaixo). A invasora está aqui para ajudar o pecuarista porque se ela não estivesse aí, se não tivesse nenhuma planta daninha, só o capim raleado, ele estaria suscetível a uma erosão vinda da chuva, causada pelo escorrimento de terra pela chuva. Então essa invasora está aí para proteger ele”, ponderou.

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Confira abaixo os níveis de degradação e qual a melhor atitude a tomar: recuperar ou reformar. Clique nas imagens para ampliar.

Estágio 0 (zero)

No nível zero de invasão de plantas daninhas é quando não há nenhum tipo degradação – sem plantas invasoras nem pragas, como cupins ou cigarrinhas, e o pasto está praticamente impecável. Segundo Felipini, neste estágio o produtor não precisa nem pensar em mexer. Os investimentos podem ficar restritos a uma adubação, quando ele pensa em intensificar o uso da área, ou rotacionar o pasto para otimizar a colheita pelos animais.

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Estágio 1

“Ele está sendo avisado que está errando ou está colocando muito gado, acima do suporte, ou ele não está fazendo reposição de nutrientes, que é uma adubação de manutenção e assim por diante. A gente orienta para ele poupar o pasto, checar a lotação ou vedar a área e fazer a limpeza de plantas invasoras. […] Nesse estágio aqui, ele ainda consegue fazer o controle de invasoras e recuperar a pastagem dele com descanso, com vedação. Não tem muita dificuldade, é um procedimento rápido e fácil. É muito mais barato do que ele plantar, só recuperar”.

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Estágio 2

“Ele tem que analisar com muito carinho esse tipo de situação. Se ele tiver acima de 50% do solo coberto com pastagem, mesmo que ele tenha muitas invasoras, a gente recomenda ainda poupar o pasto, fazendo a vedação e entrando com a limpeza de invasoras. Muitas vezes não (precisa fazer a reforma)”.

O zootecnista destacou que muitas vezes o produtor não tem conhecimento de que mesmo em meio a um pasto com muitas invasoras é possível recuperar sem plantar o capim novamente.

“É comum a gente chegar para fazer o diagnóstico nessa época do ano e o pessoal querer plantar áreas enormes, mais de 50% da fazenda, e depois de a gente visitar o pecuarista, ele se emociona. ‘Nossa, eu ia gastar muito dinheiro e agora não vou gastar mais!’. Porque ele subestima o potencial da pastagem dele. Aqui ele consegue recuperar, diminui o risco de ter erosão e diminui o risco de perder o plantio muitas vezes. Pois ele pode plantar e não chover, ter um veranico prolongado… Ele ia gastar R$ 2.000,00 por hectare e pode gastar R$ 1.000,00 e ter um pasto excelente”, calculou.

“Esse é o pulo do gato. Se a gente usar tecnologia e tiver paciência para fazer inventário dos pastos, pasto a pasto, nós conseguimos economizar 50%. Isso é muito dinheiro! O pecuarista troca de camionete, às vezes ele consegue fazer aquisição de animais que ele está buscando, consegue comprar sêmen, consegue trocar a balanço do curral e assim por diante. Então é preciso ter muita cautela nesse começo de período chuvoso para não gastar dinheiro desnecessário”.

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“É comum no Brasil todo (pecuarista gastar dinheiro desnecessário com reforma quando há alternativa da recuperação). É comum o pessoal ser estimulado a gastar em insumo, a revolver o solo, gastar óleo diesel e máquina sem necessidade. É nesse momento que nós temos que agradecer do fundo do coração as empresas que investiram nas tecnologias dos herbicidas. […] Elas poupam o pecuarista de correr o risco de plantar uma área que não precisa e perder tempo também. Porque a área que você revolve ainda precisa ficar um tempo muito grande (para voltar a ser produtiva) – o dobro do tempo, acima de 100 dias. (Aplicando herbicida) Em trinta dias, no máximo, ele já tem uma pastagem bem diferente, bem recuperada. Mesmo que o solo seja pobre, arenoso, ele já fica com uma pastagem bem diferente porque eliminou a matocompetição. Aí a forrageira consegue absorver (nutrientes)”, explicou.

O especialista lembrou que não são raros os casos que os produtores se espantam com o resultado do controle das plantas daninhas. “Aquela planta que você eliminou vai entrar no processo de apodrecimento e vai liberar nutrientes, libera carbono para a pastagem absorver. Ela vira adubo para a pastagem. É pouquinho, mas é uma quantidade que faz a diferença. Por isso é comum a gente fazer controle de invasoras em áreas de pasto no Cerrado e depois de 30 dias o pecuarista diz que parece que está adubado. […] Mas é porque essa ‘leiteira’ que vai decompondo vira combustível para esse capim e elimina competição por água, por nutrientes”.

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Estágio 3

“O desafio aí é fazer o controle de plantas invasoras de folhas estreitas, de folha fina. Por exemplo, no gramão cuiabano o pecuarista não consegue aplicar o herbicida e eliminar ele sem eliminar a pastagem. Então é o momento que ele vai ter que fazer o preparo de solo e renovar ou reformar. Aí ele vai ter que tirar dinheiro do bolso. Se ele fizer uma reforma de baixo custo, […] de R$ 500,00, que é comum, essa pastagem não vai dar suporte de nenhuma unidade animal por hectare ao ano. E ele vai colocar duas UA, provavelmente, e ele vai ter um processo de degradação precoce, acelerado. A pastagem vai durar um ano e meio a dois anos, ou seja, ele joga dinheiro fora. E aí entrar no ciclo da pobreza. Ele planta o pasto, dali a dois anos precisa plantar de novo. Aí começa a falar que está ficando caro. Não está ganhando dinheiro. É o clássico o barato sai caro”.

Importância da reposição de nutrientes

O produtor e zootecnista comentou a relevância de retornar ao solo o que o pecuarista tira em produção de carne. “O pasto é um atleta de alta performance e aí você quer que ele produza em alta performance sem repor nutrientes para ele. E ele começa a passar fome”, alertou.

A partir daí, uma série de reações ocorre até que se chegue no estágio da erosão (gráfico acima). “Quanto mais degrada o pasto, mais caro fica para recuperar. E a reposição de nutrientes é fundamental nesse processo. Tem alguns pecuaristas que repelem, dizem que não vão adubar pasto. Então ele tem que produzir pouco! Para poder perpetuar o pasto, precisa combinar com ele: ‘eu não vou gastar com você, mas também vou produzir pouco. Vou colocar pouco boi na área’. Aí ao invés de colocar cinco ou seis bois na área, vai colocar meio boi por hectare em média por ano. Ao invés de produzir 12 arrobas por hectare ao ano, que seria razoável, vai produzir quatro”, comparou.

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Assista a entrevista com Tiago Felipini na íntegra no vídeo a seguir:

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