Criador comprou fazenda em brincadeira de bar e virou referência na criação de Sindi no RN

Pecuarista conta como superou as adversidades da região, como escassez hídrica e de alimentos, para se tornar uma selecionador de sucesso da raça zebuína

A trajetória de Jesualdo Marques Fernandes como pecuarista começou ao acaso, quase como por sorte. Em uma “brincadeira de bar”, Jesualdo acabou comprando sua Fazenda São Geraldo, em Governador Dix-Sept Rosado, município ao lado de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e superou a seca severa da região para se tornar um dos mais expoentes pecuaristas na criação de gado Sindi do Nordeste e do Brasil.

Nesta terça, dia 25, Jesualdo compartilhou sua história e contou como superou as adversidades em entrevista ao Giro do Boi.

HISTÓRIA INUSITADA

“Eu sou natural de Malta, Paraíba, uma pequena cidade do interior da Paraíba, lá do Sertão. E sou filho e neto de agricultores e fui morar em Campina Grande estudar, trabalhar, mas nunca deixei minhas raízes, sempre indo para o campo, sempre gostei disso. Depois de muito trabalho e estudo, eu ingressei no serviço público, na advocacia pública, hoje estou concursado como procurador do estado do Rio Grande do Norte desde 1994, vim parar aqui em Mossoró por determinação […] e terminei ficando por aqui mesmo. […] Essa propriedade que eu tenho, a Fazenda São Geraldo, foi adquirida em 1996, início de 1997, numa brincadeira de bar”, surpreendeu Jesualdo.

O selecionador detalhou a divertida história. “Eu terminei por comprar de um primo meu por uma brincadeira de bar e está dando certo. Estou na atividade como hobby, mas que tanto me agrada. […] Tomando uma cerveja com esses dois primos, um proprietário e o outro na mesa do mar, um olhou pra mim e disse que estava querendo vender, o outro disse pra eu comprar a propriedade dele. E um disse para o outro pra vender a propriedade para mim. Terminou que eu não tinha dinheiro, mas ele parcelou em 25 vezes, a terra era muito barata na época e aí deu para comprar”, recordou.

O COMEÇO

O próximo passo foi encontrar uma raça que pudesse prosperar na região de muita escassez hídrica e, consequentemente, de alimentos. “Eu já havia tido um primeiro contato com a raça Sindi lá em 2003. Eu comprei uns animais do leilão da Universidade Federal da Paraíba. […] Os animais eram lindos e se adaptaram muito bem à fazenda e à região, mas entre esses animais, para minha infelicidade, o touro era infértil e eu fiquei desgostoso, terminei por vender todos. E aí quando foi em 2009 eu soube de um plantel que tinha aqui na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte, […] de uns 30 animais entre machos e fêmeas e ali estavam muito debilitados diante da estiagem, da escassez de pasto na região, e eu acabei por comprar esses animais”, lembrou o pecuarista.

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DESAFIOS

Desta vez a dificuldade foi maior por conta da escassez de alimentos e da condição dos animais. “Na época eu tinha uns cercados lá de capim Andropogon, mas isso era no final do ano e estava muito, muito seco! […] Uma vaca era tão magra que as costelas delas todas apareciam, toda a ossada estava aparecendo, e a gente colocou o nome dela até de ‘Teclado‘. Então eu coloquei esses animais nessa bagaceira de capim Andropogon toda seca e me chamaram de louco, acharam que iam morrer todos. Eu botei um sal proteinado manipulado na própria fazenda para esse gado e com 50 a 60 dias não tinha mais nenhum ‘teclado’, estavam todos os animais cobertos de carne. Os animais sobreviveram todos!”, disse Fernandes.

Foi então que o pecuarista ‘empolgou’ e decidiu entrar para o rol de selecionadores que fazenda a criação de gado Sindi. “Já em 2010, 2011 foi que eu entrei no gado puro, comecei a aquisição dos primeiros animais registrados, comprei sete novilhas […] e fomos garimpando animais que foram a base do meu rebanho”, informou.

ORIGENS

Atualmente, o plantel da Fazenda São Geraldo é conhecido por selecionar um gado Sindi muito próximo de suas origens paquistanesas, conforme caracterizou Jesualdo. “Hoje temos animais dessa genética do Nordeste, sempre voltada para esse gado mais rústico. […] E é esse gado que a gente busca. […] Mas a gente tem animais que a gente sabe que são descendentes desses animais da importação, então a gente procura seguir essa linha de preservação e resgate dessas genéticas da importação. Por isso muitos falam que a gente tem um plantel POI. Não é bem assim, mas a gente procura resgatar esses animais mais próximo dessa genética do que foi importado, que é o Sindi original do Paquistão”, detalhou.

CARACTERÍSTICAS

O criador destacou a longevidade produtiva da raça mesmo em condições adversas. “É muito comum, e já teve por aqui no plantel, vacas de 18, 19 e 20 anos com crias ao pé. […] Então o Sindi tem realmente essa longevidade. Falando de touro, esse touro mesmo que eu estou falando, que é base do meu plantel, cobriu vacas até os 18 anos. Eu tenho filhos dele de monta natural com 18 anos e ele morreu aos 19 anos. E um dos touros que você mostrou já está com mais de 13 anos e tem uma vitalidade fora de série. Ele estava em plena forma com quase 14 anos de idade. Então isso no Sindi é muito comum”, observou.

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Libido do touro a campo e longevidade das matrizes são características da criação de gado Sindi, conforme pontuou Jesualdo.

MANEJO ALIMENTAR

Além de encontrar a genética ideal para a criação na propriedade em Governador Dix Sept Rosado-RN, o produtor também deve de procurar alimentos alternativos para o sucesso de sua criação, uma vez que os piquetes de Andropogon não resistiram a mais um período de estiagem mais severa que a média.

CAPIM

“O Andropogon eu produzo ao longo desse tempo todo de fazenda e eu já testei várias coisas. E já plantei o Andropogon e deu muito bom, o problema dele é que ele não suportou esse último ciclo de seca que a gente teve, que foram alguns anos com índice pluviométrico bem abaixo da média. Esse ciclo veio castigando muito com o gado e o capim não aguentou, ele terminou morrendo. O Andropogon, para cá, se a gente tiver o índice dentro da média histórica, de pelo menos 500 a 600 mm, com um bom manejo, dá certo na nossa região”, disse.

“Agora o sorgo eu sempre plantei. Eu sempre trabalhei com sorgo fazendo silagem com o grão também. A gente planta três tipos de sorgo na propriedade. Tem o sorgo para grãos, um sorgo para silagem e agora esse sorgo Sudão, que é para a gente usar justamente na época das chuvas, com o pastejo direto”, comentou.

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Sorgo Sudão serviu como alternativo para pastejo direto na Fazenda São Geraldo, em Governador Dix Sept Rosado-RN.

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O casamento da genética ideal com alimentos alternativos tornou a Fazenda São Geraldo um exemplo de criação de gado Sindi no Nordeste, com um rebanho composto já por 160 cabeças Sindi PO e com animais do criatório comercializados para estados além do Rio Grande do Norte, como Minas Gerais, Maranhão, Pará, Ceará, Paraíba e Piauí.

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Veja pelo vídeo a seguir a entrevista completa com o pecuarista Jesualdo Marques Fernandes, referência na criação de gado Sindi:

 

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