Nesta quinta, dia 13 de maio, o Dia do Zootecnista, o Giro do Boi consultou um profissional da área, Matheus Moretti, gestor técnico de bovinos de corte da Agroceres Multimix, para repercutir o artigo “10 mandamentos da boa suplementação de bovinos”, recentemente divulgado pelo blog da companhia.
Em sua entrevista ao programa, Moretti contextualizou cada um dos mandamentos. Confira a seguir:
1 – Suplementar baseado em metas
“A ideia desses dez mandamentos foi trazer para a prática um pouco da suplementação. Então ‘suplementar com base em metas’ é entender que o resultado da nossa operação não é consequência, é um objetivo. Eu estou suplementando para atingir qual objetivo? Eu vou adotar uma estratégia, seja um proteinado, um proteico energético, e o ganho de peso que o animal vai atingir vai ser, claro, uma consequência disso, mas eu tenho que saber qual é essa consequência. É uma questão muito mais de iniciar o planejamento dentro de um objetivo, dentro de uma meta de ganho de peso que eu preciso atingir dentro do meu sistema e aí depois eu vou buscar a estratégia de suplementação que vai permitir chegar naquele resultado. Significa descobrir de trás para frente”.
“O pecuarista tem que entender, na propriedade dele, qual é a sua meta produtiva no ano. Por exemplo, ele quer produzir, no famoso boi 777, as sete arrobas da recria. Ele vai derivar isso em submetas dentro das estações do ano na fazenda. Então qual é a meta de águas, a meta de transição e a meta de seca? Se a meta para os animais é ganhar 400 gramas por dia, isso está bom? Para ganhar 400 gramas por dia no cenário de pastagem que a fazenda tem, qual é o suplemento que ele vai precisar buscar e colocar no cocho para os animais para atingir aquele meta? Então a suplementação nasce da meta que o pecuarista precisa alcançar dentro do seu sistema produtivo. Eu vejo muitas pessoas fazendo contas de suplementação avaliando pontualmente a estratégia e querendo tirar uma fotografia – ‘eu vou tratar com x e ganhar x’. Na verdade, eu tenho que entender que a fazenda é um filme. E esse filme é composto por metas e a gente vai ter que traçar os planos nutricionais em cada momento do ano para chegar nesse resultado”.
2 – Planejar o fluxo de caixa
“Às vezes a gente vê que o produtor que assistiu o programa aqui hoje ficou entusiasmado e vai querer fazer uma suplementação de 1 kg por cabeça ao dia. Isso deve estar girando em mais de R$ 1,00, com certeza, e esse seria o mínimo. Então ele tem que entender que ele vai ter um desembolso a mais por cabeça ao dia. Se ele está acostumado, por exemplo, a dar um sal mineral, a gente está falando de sair de um desembolso de R$ 0,20 por cabeça ao dia para um desembolso de R$ 1,20 por cabeça ao dia. Então ele passa a gastar R$ 1,00 a mais por cabeça no seu sistema produtivo […]. Isso demanda mais caixa na fazenda, então tem que ter entendimento da demanda de caixa mês a mês na propriedade para saber se está de acordo com o planejamento financeiro da fazenda dele porque não adianta ele começar a tratar os animais e lá na frente achar que está gastando muito e parar. Aí o prejuízo é muito maior do que ter começado”.
O que fazer se perceber que vai faltar dinheiro?
“O fluxo de caixa são as entradas e as saídas de dinheiro na fazenda, então ele vai ter como entrada as vendas dos animais e como saída todos os gastos. Aí ele tem que entender esta dinâmica para ver os meses que a fazenda pode estar no negativo e ele vai precisar buscar algum investimento externo ou se pode antecipar o abate de alguns animais. É óbvio que existe um ponto ótimo de abate, mas dentro de uma logística de fluxo de caixa, às vezes a gente tem que equacionar essas coisas dentro da fazenda para poder viabilizar algumas estratégias”.
3 – Ajustar o suplemento para a qualidade do pasto
“A gente tem que entender que, ao longo do ano, existe um período de seca, um período de águas e um período de transição. Voltar à base da suplementação, suplementar significa ‘completar o que falta’. Então eu preciso olhar para o meu pasto entendendo que ele muda ao longo do ano e perguntar : ‘o que está faltando no pasto para eu potencializar a digestão e a fermentação desse capim que o animal consome lá no rúmen?’ E aí eu vou suplementar buscando potencializar os efeitos digestivos lá no rúmen do animal. É essa a baliza que a gente tem que ter e entender as variações ao longo do ano no pasto e corrigir o suplemento”.
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E se o capim é bom?
“Sempre existe oportunidade de melhorar. Se o capim é muito bom, às vezes o que a gente pode pensar – e sempre vai precisar de suplementação mineral, isso é óbvio – é em lançar mão de aditivos ou então aumentar a lotação da minha área e começar a explorar não só mais produção por animal, mas sim produção por hectare, e aí é outra ótica que a gente vai olhar para suplementação. Mas um ponto é fato, sempre existe oportunidade de produzir mais e ganhar mais por hectare ou por animal”.
4 – Utilizar aditivos promotores
“A gente tem que entender que primeiro a gente precisa pôr o rúmen para funcionar. Por exemplo, agora na seca a gente deve entender que o pasto é deficiente em proteína e nitrogênio, então primeiro a gente precisa corrigir a proteína desse capim e isso é obrigatório. Mas, fazendo isso, pondo o rúmen para trabalhar, na minha cabeça não faz sentido a gente não trabalhar com o aditivo promotor. Porque é muito pequeno o custo dele dentro da diária do animal e o benefício que esse aditivo proporciona em termos de desempenho é muito grande. É um pacote tecnológico hoje. Ao falar em suplementação, a gente tem que entender que é muita tecnologia, não é só um farelo que a gente está colocando dentro do cocho. Dentro deste pacote tecnológico, faz muito sentido a gente pensar nos aditivos. Só temos que entender que existem vários no mercado e alguns para situações específicas. Por exemplo, um vai ser melhor no período das águas, outro vai ser melhor no período da seca… Cabe a cada um fazer a lição de casa e entender na sua estratégia de suplementação qual o melhor aditivo para trabalhar. Mas sem sombra de dúvida, hoje todos os produtos que eu trabalho, em todas as formulações que eu trabalho, eu busco sempre colocar um aditivo porque faz muito sentido quando a gente olha a relação benefício x custo”.
5 – Criar uma rotina de fornecimento do suplemento no cocho
“Uma coisa é planejar, outra coisa é executar. Então se eu planejei a suplementação, eu preciso garantir que esse suplemento chegue ao cocho. E a gente sabe que boi é um bicho que gosta de rotina. Então, se eu programei que vou fazer uma suplementação de baixo consumo, eu tenho que ter sempre o produto no cocho para quando o animal chegar lá, ter um consumo muito rápido, dar uma lambida e depois vai pastejar. Esse produto tem que estar no cocho. Se ele chegar no cocho e estiver vazio, ele não vai consumir naquele dia”.
“Com suplementos de maior consumo, isso tem um efeito muito grande no hábito de pastejo do animal. Então ter uma rotina em que eu atrapalhe da menor forma possível o hábito de pastejo do animal, porque senão eu trago esse animal para perto do cocho, ele fica rodeando, e eu atrapalho toda a rotina dele de pastejo. Isso compromete muito o resultado. Então criar rotina dentro de uma fazenda de pecuária é obrigatório. Boi é um bicho que gosta de rotina e todo processo tem que ter rotina”.
6 – Espaçamento de cocho adequado
“O cocho é o prato do boi. Não adianta a gente querer dar comida para o animal se não tiver o prato para ele comer. A gente tem que entender que para cada tipo de suplementação a gente vai precisar de uma quantidade específica de cocho. Para suplementos de menor consumo, fica em torno de 10 centímetros por cabeça. Para suplementos de maior consumo, de 25 a 30 centímetros por cabeça”.
“A gente também tem que entender o comportamento que esse animal tem ao ingerir. Por exemplo, com suplementos de maior consumo, o animal chega e ingere tudo de uma vez. Se não tiver cocho o suficiente para todo mundo, alguém não vai comer. E aí aquele benefício para o meu lote que era trazer maior ganho de peso vai começar a trazer desuniformidade. Tudo isso porque se não tiver quantidade de prato suficiente, um animal está comendo muito e outro está comendo pouco. Então é importantíssimo entender que a gente tem que ajustar o espaçamento de cocho em função da estratégia que a gente adotar”.
“(Em semiconfinamento) A pasto, a gente tem trabalhado também com 30 a 40 centímetros”.
7 – Monitorar o consumo do suplemento pelos animais
“Monitorar é importante para a gestão. Qual era o consumo previsto, qual é o consumo realizado? E aí a partir desses números eu faço a gestão do meu fornecimento. Às vezes, a gente sabe que diferenças de tipo de água e de qualidade de pasto influenciam o consumo do suplemento. Nesses casos eu preciso fazer ajuste da minha formulação para atingir o consumo que eu estava projetando. Por isso monitoramento é fundamental para que esse ajuste possa ser feito”.
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“Por exemplo, a gente chega na fazenda e pergunta se o boi está comendo o suplemento. O pecuarista diz que está comendo muito. Mas qual o número? Se não sabe o número, como sabe se está comendo pouco ou muito? Então tem que fazer checagem, qual era o programado de consumo para aquele tipo de suplemento e qual é o realizado, quanto daquilo está realmente acontecendo. Essa é a premissa básica para a gente entender ajuste de formulação, por exemplo”.
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8 – Avaliação do escore de fezes
“A gente está acostumado a ver escore de fezes no confinamento, mas no pasto elas são um baita indicativo para a gente. As fezes do animal têm correlação direta com o que está acontecendo lá no rúmen. As fezes são resultado do processo fermentativo, então, no pasto, nessa época do ano, a gente gosta muito de olhar para as fezes para entender o ajuste de proteína dentro do suplemento. Aquelas fezes mais ressecadas, mais fibrosas, são indicativo claro de que os processos lá no rúmen, de fermentação desse capim, não estão adequados. Está faltando proteína para a bactéria degradar pela fibra. Então a gente olha nas fezes e elas são um baita indicativo para a gente poder ajustar formulação, ajustar o nível de proteína do suplemento. Eu, particularmente, gosto muito”.
“E uma outra dica de presente para turma que está nos assistindo, se você entrou no piquete com um lote agora na seca, é normal ele dar aquela mexida. Se pelo menos um animal não defecar, tem coisa errada. Pode reparar a partir de hoje! Se você entrou no lote, a hora que você mexe com o gado, um animal vai defecar. Se não defecou, é sinal de que o rúmen não está funcionando direito”.
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9 – O Ganho Médio Diário foi como o planejado?
“Pesar boi, né? Eu até vi o ano passado aqui no Giro do Boi, em algum dos webinários, em um com o levantamento que, […] se não me engano, 30% das fazendas não tinham balança. A gente tem que entender que a fazenda é uma empresa. Se a gente está falando da importância do planejamento, a gente tem que ver o que foi realizado, senão não faz sentido planejar. Se eu não vou ver o que aconteceu, por que eu planejei? E a forma de ver se o planejamento da suplementação aconteceu é pesando o boi”.
“A gente está num mês de vacina, por que não pesar o boi?”
10 – O pasto é o alicerce do sistema
“O Brasil é um país tropical e a base da nossa nutrição é o pasto. Então o suplemento complementa o que falta. Se a gente não tiver pasto, não é no cocho que vai corrigir o ganho de peso do animal. Tem resultados de pesquisas que a gente conhece que apontam que período da seca, com o mesmo nível de suplementação, mas em níveis de qualidades distintos de pasto, existe uma diferença de 70% no ganho de peso. Então, manejar bem pasto é a premissa básica para o sucesso da operação. E o suplemento é a forma de potencializar o ganho de peso do animal. Sem pasto vai ser difícil a gente alcançar bons resultados mesmo com suplementação”.
Assista a entrevista completa com Matheus Moretti no Giro do Boi neste Dia do Zootecnista:
Imagem: Reprodução / Agroceres Multimix