Embora seja um dos principais produtores (2º maior) e exportadores (1º) de carne bovina do mundo, o Brasil ainda enfrenta obstáculos para atingir todo o seu potencial na pecuária de corte. A Embrapa, por exemplo, estima que, nacionalmente, apenas 15% dos animais que vão para abate têm o acabamento ideal de carcaça, principalmente em à cobertura de gordura subcutânea.
Mas a própria empresa de pesquisa buscou uma alternativa simples e eficiente para ajudar o pecuarista, e consequentemente toda sua cadeia produtiva, a aumentar sua produtividade, eliminando a subjetividade da avaliação das carcaças com o boi em pé. Em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, 29, o mestre em ciências veterinárias, doutor em melhoramento e reprodução animal e pós-doutor pela Usask (Canadá) e UFPel Luiz Pfeifer, pesquisadora da Embrapa Rondônia, apresentou o Sagabov.
Trata-se de um conjunto de duas réguas articuladas (clique na foto abaixo para ampliar) e que, em contato com a garupa do bovino, formam um ângulo e, conforme sua configuração, aponta se o animal está com cobertura de gordura ausente ou escassa (cor vermelha), mediana ou uniforme (cor verde) ou excessiva (cor amarela).
Segundo a Embrapa, o animal deve estar contido no tronco individual para a realização do manejo, que é rápido. O Sagabov deve ser encaixado “entre última vértebra lombar e a primeira vértebra sacral”, informou a entidade de pesquisa, “e ser lentamente fechado até que suas réguas estejam em maior contato possível com a pele do animal”, conforme consta no material de divulgação oficial do dispositivo.
“A carne brasileira ainda pena bastante na questão de produtividade e um desses itens que a gente não consegue atingir é acabamento de gordura na carcaça, esse acabamento de gordura subcutânea. […] Essas oscilações a gente vê lá no próprio açougue mesmo, na bandeja em que a gente compra a carne. Ora a carne tem um nível de gordura, maciez bom, ora já não está tão bom assim. Então nós, como consumidores, também sentimos. É todo um processo que tem que mudar, olhar para as bonificações. O produtor que não manda animais de qualidade acaba perdendo estas oportunidades de bonificar. Por fim, a indústria acaba tendo muito mais restrição nos locais que vai colocar a carne, é uma questão em que todos ganham na cadeia”, declarou Pfeifer.
“A ideia é instrumentalizar o produtor, e o conceito é sempre fazer algo simples e que tenha o resultado imediato. E onde a régua apontar a seta dela, já quer dizer alguma coisa para o produtor, por isso a gente fez até um farol vermelho, verde e amarelo. A ideia é massificar isso porque se todo animal que for mandado pro abate tiver em condições boas, o nosso rendimento vai ser muito maior, o benefício para o produtor vai ser maior e o benefício para a própria indústria frigorífica, que vai receber animais de maior qualidade e dando maior rendimento até no uso da planta frigorífica. Então a ideia foi fazer um dispositivo que qualquer um que embarcasse um boi pudesse usar e ele se aplica à rotina do embarque porque o embarque é uma coisa muito dinâmica, muito rápida, e é muito rápida de ser feita esta avaliação”, disse o veterinário exemplificando situações de uso.
No caso de o produtor usar no momento do embarque, caso ele encontre um animal com gordura ausente ou escassa, ele pode, por exemplo, decidir não comercializar aquele indivíduo para que tenha mais tempo em engorda até atingir o ponto ótimo de abate. Nos animais de gordura excessiva, serve como alerta para ajustar a dieta da terminação.
“Ela acaba também sendo uma ferramenta de manejo porque se ele fechar uma carga de 23, 30 animais, quais são os animais que eu vou enviar desta carga? Então já pode saber quais são aqueles animais que vão dar melhor acabamento e melhor rendimento no frigorífico também. Certamente a indústria vai preferir este tipo de produtor que já está enviando animais de maior qualidade”, projetou.
Além de ser melhor para o próprio pecuarista, que pode tanto validar seu sistema de produção e engorda como projetar o rendimento das carcaças que está produzindo, a novidade aumenta a eficiência da indústria. “A planta frigorífica, no caso, fazendo uso do máximo de seu potencial. […] Abater um animal com gordura ausente é o mesmo valor e o mesmo tempo de desmonte de abater um animal com condição adequada. Só que no final do dia você vai ter muito mais carcaças abatidas com animais adequados. É uma ferramenta que veio realmente para trazer um ganho em todos os elos”, frisou.
Por ora, o dispositivo está calibrado para uso em zebuínos das categorias vacas e machos castrados. O próximo passo é disponibilizar a tecnologia para outras categorias, como bois inteiros e animais cruzados F1 Nelore x Angus. “Agora a gente ainda está no processo de desenvolver uma ferramenta específica para estas outras categorias, novilho, por exemplo, e as F1 cruzadas”, reforçou.
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O pesquisador informou que a tecnologia é aberta para que qualquer indústria interessada possa fabricar. Em seu lançamento, a fábrica da Prático de Garça, localizada no município paulista de Garça, a mesma que está comercializando o Vetscore, já desenvolveu seus primeiros protótipos e espera-se que em fevereiro seja disponibilizado ao mercado a um valor que, segundo o veterinário, deve custar em torno de R$ 20.
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“Entretanto o Sagabov foi lançado no mercado para que qualquer empresa que tenha interesse em produzir possa produzir a régua, desde que, logicamente, mande um protótipo para a gente e a gente aprove”, salientou. As informações sobre o dispositivo podem ser solicitadas diretamente ao e-mail do pesquisador da Embrapa Rondônia, luiz.pfeifer@embrapa.br.
Veja a entrevista completa com Luiz Pfeifer pelo vídeo abaixo:
Foto: Renata Silva / Divulgação Embrapa Rondônia