O Giro do Boi desta segunda, 21, deu início à semana fazendo um balanço do tempo no Brasil ao longo do inverno, estação de extremos tanto em temperatura quanto em umidade, e projetando como ficam as condições ao longo da primavera, cujo início oficial ocorrerá nesta terça-feira, 22 de setembro.
Quem falou ao programa sobre o tema foi o bacharelado em meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas-RS, mestre em ciências atmosféricas e meteorologia e doutor em ciência ambiental pela USP Marcelo Schneider, coordenador regional do Inmet, o Instituto Nacional de Meteorologia, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Schneider começou tratando do comportamento do tempo nos últimos meses. “O calorzão que fez, as temperaturas elevadas – e não foi só nos meses de inverno, foi junho, julho e agosto – ela dominou o Brasil Central. E tem um corredor exatamente onde vinha acontecendo nesses últimos dois a três meses as queimadas ali entre Amazonas, principalmente no sul do Amazonas, pegando o Mato Grosso e passando exatamente por São Paulo, sul do Goiás, toda essa área fez um calor bem atípico. A gente sabe que todo inverno é caracterizado aqui por aquele tempo seco, tem dado temperaturas elevadas, mas ele predominou. Além do tempo seco nessa região, principalmente do norte do Mato Grosso do Sul, ao norte e centro-norte de São Paulo, pegando todo esse interior, teve temperaturas elevadas e baixa umidade. Por isso que no final do mês agosto e setembro agora, com esse calorão que fez 40º C vários dias no Mato Grosso, disparou número de queimadas”
Schneider apontou em gráfico comparação de temperaturas ao longo das estações de inverno desde 2009 no Brasil.
“Tu vê facilmente que as três ou quatro barras são as maiores (imagem abaixo), as que estão mais elevadas em comparação com todas as outras, isto é, temperatura, o desvio, o quanto o calor ficou acima da média. Então nesses três meses, junho, julho e agosto, e também agora em setembro, as temperaturas ficaram pelo menos em torno de 3º C acima da média, ou seja, o calor foi intenso nesses últimos três meses. Tirando aquele vento extremo de frio que durou um ou dois dias. Então esta foi a consequência, inverno muito quente nesta região do Pantanal, com temperaturas elevadas. Nesses últimos 13 anos, de longe foi o período que a temperatura esteve mais elevado para o inverno. Aí se constata, com estes dados do Inmet, que fez muito calor nesses últimos meses”, indicou.
Assim, Schneider explicou o aumento do número de queimadas em parte do País. “Essa parte avermelhada retrata bem e justifica o porquê que teve essa condição de queimada muito acima do normal esse ano em algumas áreas ali no Mato Grosso, bem na área do Pantanal e, principalmente, esta divisa pegando os arredores aí de Cuiabá, região de Poconé, que a gente viu vídeos. […] O que for aquele vermelho mais forte, mais escuro (imagem abaixo), é condição de tempo seco, já é a falta de chuva. O primeiro mapa da esquerda é uma média do último ano. Ele pega lá de setembro do ano passado até agora. O que ele está dizendo? que no último ano faltou chuva, fez seca nesta parte norte do Mato Grosso do Sul, parte ali do centro-norte do Mato Grosso e também ali na Bahia”, confirmou Schneider.
“Se a gente lembrar, no ano passado a gente já vinha tendo algumas queimadas fortes ali na Bolívia, perto ali do Pantanal no oeste. E outra coisa que foi diferente, não digo que é raro, já aconteceu, foi a história dos gafanhotos, que teve esse ano a proliferação. Só que foi bem anômala, justamente pelo tempo quente, não só nesse ano, mas que vinha também acontecendo já no ano passado”, contextualizou o meteorologista.
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Schneider recomendou aos produtores ficarem antenados com as informações meteorológicas, uma vez que as tecnologias atuais conseguem ajudar na tomada de decisões e antecipar problemas, como queimadas em alta intensidade. “Hoje até já tem satélites que conseguem separar quando o incêndio aparentemente vem de uma causa natural, que é até mais raro do que quando ele é propagado ou tem a influência do ser humana. Isso é coisa para debate. É muito importante hoje em dia o agricultor estar junto com a meteorologia, ter os mapas e quando tiver uma condição seca já de antemão ficar bem atento ao manejo do solo”, indicou.
Lembre da entrevista de Schneider sobre o inverno de 2020:
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PRESENTE DE ANIVERSÁRIO PARA CORUMBÁ-MS
A cidade de Corumbá, um dos principais municípios do Pantanal no Mato Grosso do Sul e que celebra neste 21 de setembro os seus 242 anos de fundação, vai ganhar chuva como presente de aniversário, projetou Schneider. “Tem notícia bastante boa para lá. No momento, está chovendo mais para o sul ali do Pantanal, está pegando perto de Porto Murtinho, região ali um pouco ao sul de Bonito, se aproximando de Campo Grande, capital. Deve ter chuva nas próximas horas, e esta chuva deve subir. Nas próximas horas neste decorrer da segunda e também terça-feira, amanhã (22), vão ser os dois dias de presente de aniversário para Corumbá […] .Hoje mesmo tem previsão de chuva e se estende para amanhã”, afirmou. Os volumes, segundo Schneider, devem ficar entre 30 a 50 mm, o que ajuda a aliviar o tempo quente e seco.
CHUVAS NA PRIMAVERA 2020: COMO O TEMPO FICA AO LONGO DA ESTAÇÃO?
Em sua entrevista ao Giro do Boi, Schneider projetou o tempo para a primavera, que começa de forma oficial nesta terça, dia 22/09.
A estação será marcada pela influência do fenômeno La Niña. “A área azul que está no mapa, que pega o Oceano Pacífico, é condição de temperatura do oceano abaixo do normal. Está um pouco mais frio naquela área. E quando acontece isso, ele tem impacto no clima do Brasil. As correntes atmosféricas mudam e tem notícia boa aí para o Centro-Norte e principalmente Nordeste do Brasil, tem condição de chuva. […] A precaução, o grande alerta é para a Região Sul. Em resumo, quando tem La Niña, quando tem esta situação de temperatura mais baixa no Oceano Pacífico, as frentes frias passam mais rápidas e a umidade fica mais canalizada represada no Norte do Brasil”, explicou.
Segundo Schneider, a condição de temperatura abaixo do normal no Pacífico deve se manter até o final de 2020/início de 2021.
OUTUBRO
“As áreas ali do centro-norte do Mato Grosso […] terão chuva acima da média para a estação da primavera, entre outubro, novembro e dezembro. […] Já respondendo para os agricultores, nesta parte de Goiás, parte do Mato Grosso, entre Juína e Juara, parte ali do Nordeste e algumas áreas do Tocantins, centro-norte de Minas Gerais estas regiões vão ter boa chuva. E quando vai começar esta chuva? […] Outubro. Tem também uma expectativa boa de chuva para esta área de divisa do Paraná com São Paulo, o sul do Mato Grosso do Sul deve continuar com uma expectativa de chuva”, apontou Schneider, ponderando que existem áreas de GO, MG e BA que podem sofrer com alguma irregularidade e estiagem ao longo da estação.
“Para o Rio Grande do Sul, para a gauchada, também para os catarinenses e paranaenses, eles têm que ficar em alerta. Tem uma notícia boa: nos próximos dias tem bastante chuva, agora no próximo fim de semana. Este sábado e domingo Rio Grande do Sul e Santa Catarina vão ter chuva, mas depois desse período, deve começar a ficar irregular, ou seja, as condições de La Niña vão começar a afetar”, avisou.
NOVEMBRO
“O mês de novembro vai ser bastante chuvoso em toda parte mais do Centro-Oeste, Sudeste. Se espera grandes volumes de chuva. Pode pegar também o centro-sul da Bahia, oeste do estado, a região sul do Matopiba vai ser bem beneficiada no final de outubro e novembro com volume de chuva. Para Mato Grosso, a expectativa ali perto de Rondônia é ter volumes de chuvas, dias mais úmidos e, em contrapartida, está vendo o mancha laranja no Sul do Brasil? Aquilo ali é tempo seco. Então, agricultor, acione o alerta. Novembro deve ser um mês de pouquíssimas chuvas”, avisou.
DEZEMBRO
“As temperaturas vão estar bem variáveis. Quando vem o La Niña, faz frio e calor. Esse ano, então, a gente vai ter ventos de frio tardio, as temperaturas às vezes baixas para a época e o agricultor deve estar bem atento para estes próximos meses. E o dezembro muda um pouco, tem um tempo mais seco, um pouco de estiagem no Centro do Brasil, mas continua chovendo bastante em Rondônia. Então aviso para o pessoal da pecuária, da logística, para Rondônia, todo o Amazonas, sul do Pará, terá bastante chuva”, apontou.
“A região Nordeste, em média, com La Niña, tem chuva, é beneficiada. Então volta uma chuva regular nestes próximos meses, não só no Matopiba, mas também mais para o final do ano, novembro, dezembro, lá no Ceará”, disse.
Veja nos mapas abaixo (clique na imagem para ampliá-los) as previsões de chuvas e de temperaturas para todo o Brasil ao longo da primavera.
Antes de encerrar sua participação, Schneider convidou os interessados a acessarem o novo portal do Inmet, quem mantém o produtor informado a respeito das condições do tempo com antecedência.
“O agricultor tem várias formas de consultar. Tu vê os links na parte superior ali, tem o tempo, o clima, dados meteorológicos, imagens de satélite, tem os avisos meteorológicos ali no centro da tela atualizados, a previsão numérica, tem também condições de ver o que o modelo numérico de previsão está fazendo, tem os dados ocorridos que a gente sempre cita das estações meteorológicas. O agricultor pelo Brasil inteiro […] pode consultar o que está acontecendo em qualquer estação do Brasil todo e fazer suas análises de chuva, umidade, temperatura e vento”, exemplificou.
+ Acesse aqui o novo portal do Inmet
Assista a entrevista completa com Schneider e a previsão do tempo para a primavera no vídeo a seguir:
Foto: José Cruz/Agência Brasil