Nesta quinta, 09, o professor da Faculdade de Medicina Veterinário e Zootecnia da USP Enrico Lippi Ortolani, médico veterinário mestre em patologia clínica, doutor em parasitologia livre docência e pós-doutor pelo Instituto de Pesquisa Moredun, em Edimburgo, na Escócia, falou ao Giro do Boi sobre uma das principais ameaças sanitárias às fazendas de pecuária brasileiras, a tuberculose.
A doença, que não tem tratamento para os animais, pode infectar suínos, ovinos, aves, bubalinos, bovinos e até os seres humanos, além de levar a prejuízos financeiros causados por queda em produtividade, tanto no corte quanto no leite. De acordo com o professor, além do cuidado das agências de defesa agropecuária estaduais, alguns dos principais destinos internacionais da carne brasileira, como Rússia e China, monitoram a sua ocorrência, o que também reforça a importância dos cuidados.
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“Quanto mais velho for o animal, maior a chance de ele ter tuberculose, porque mais tempo ele vai ter de contato, se estiver em uma fazenda com problema, e aumentar a frequência da tuberculose. Vejam que em animais com até um ano, você não encontra a doença. […] Entre dois e três anos você vai encontrar uma frequência muito baixa, mas, por exemplo, se você abate uma vaca, se você abate um boi mais erado, a chance aumenta de você ter quadros de tuberculose”, disse o Ortolani, comentando estudo que identificou o problema.
Segundo o veterinário, rebanhos leiteiros também têm mais risco de ocorrência da tuberculose, com um dos fatores agravantes sendo a maneira com que são criados, em instalações mais fechadas e mais sombreadas. “Se você considerar um animal de gado de corte como risco 1 e comparar, por exemplo, com um animal de gado de leite criado extensivamente, […] mais do que triplica o risco nesta fazenda. […] E se você tem uma criação de gado de leite criado intensivamente, fechado, confinado, isso aí vai lá para o alto”, alertou, baseando-se em outro estudo apresentado na entrevista (assista pelo player abaixo).
O professor apontou para o risco ainda de o pecuarista que não tem histórico em sua fazenda trazer animais adquiridos de propriedades que têm a doença e não oferecem testes. “Veja aqui um fator interessante, isso é um estudo feito em Rondônia mostrando que fazendas que não tinham tuberculose, mas que (tiveram) ao comprar em leilão de fazenda que tinha tuberculose. Principalmente se o pecuarista comprou vaca, que tem mais chance, pode ser mais velha e estar contaminada, aumenta-se o risco em sete vezes. Então você tem que saber a procedência dos animais, principalmente se a sua fazenda não tem o problema. Às vezes você está levando de graça um problema, trazendo animais de uma fazenda que você não conhece ou animais que não foram testados para tuberculose”, advertiu. Para estes casos, Ortolani disse que é necessário exigir o exame negativo de tuberculose das fazendas vendedoras.
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O especialista destacou que a doença é crônica e causada por uma bactéria resistente que prefere ambientes úmidos, com sombra, e que podem, dependendo do local, sobreviver por até 90 dias em pasto nas fezes ou onde o sol não bate. “O sol é o melhor desinfetante”, revelou.
Caso não seja possível incidir luz solar sobre determinado local, Ortolani recomendou que se faça o uso de água sanitária ou outro desinfetante à base de cloro em estruturas como curral e, principalmente, nos bezerreiros.
Ortalani disse que até 90% da disseminação da tuberculose ocorre pelo ar, então animais em espaços confinados têm mais chance de desenvolver a doença. As cercas entre fazendas também podem apresentar risco pela convivência eventual dos animais. Além disso, é possível que um bezerro se contamine pela teta da vaca ou que um animal possa beber água de bebedouro sujo, com fezes e/ou água estagnada, por exemplo, e adoecer.
O professor da FMVZ/USP listou quatro fatores que podem aumentar o risco de ocorrência de tuberculose:
– Quebra de resistência e alto estresse;
– Menor produção de anticorpos;
– Primeiras seis semanas pós-parto;
– Entrada no confinamento.
Ortalani, então, resumiu qual deve ser a “lição de casa” do pecuarista para erradicar a doença de seu rebanho. “Comprar animais garantidos, se forem idosos que não tenham tuberculose, ao comprar bovinos mestiços leiteiros, você tem que usar o teste da tuberculina, é fundamental. Perguntar a si mesmo ‘será que crio meus animais em lugares insalubres, como muita sombra, com muita coisa assim? Será que a minha boiada tem convivência com a do vizinho?’ Aqui estão os pontos principais”, finalizou.
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Veja a entrevista completa com Enrico Lippi Ortolani no vídeo a seguir: