SANIDADE ANIMAL

Cisticercose bovina pode estar com dias contados com vacina da Embrapa

Primeira vacina contra a cisticercose bovina avança em fase de testes e pode proteger o rebanho, reduzir prejuízos e garantir carne mais segura ao consumidor. Assista ao vídeo

Cisticercose bovina pode estar com dias contados com vacina da Embrapa
Cisticercose bovina pode estar com dias contados com vacina da Embrapa

A cisticercose bovina, doença que causa grandes perdas econômicas e sanitárias à pecuária nacional, pode estar prestes a ser controlada com uma solução inédita: a primeira vacina desenvolvida no Brasil contra a doença, conduzida pela Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS). Assista ao vídeo abaixo e confira os detalhes desta nova tecnologia.

Em entrevista ao programa Giro do Boi, o imunologista e pesquisador Flabio Araújo, coordenador do projeto, explicou que a vacina está em estágio avançado e promete interromper o ciclo do parasita, causador de uma das zoonoses mais preocupantes do setor.

“Nosso objetivo é impedir o desenvolvimento dos cisticercos nos animais vacinados, o que traz benefícios diretos à produção e à saúde pública”, afirmou.

O projeto da vacina é fruto de uma parceria entre a Embrapa, a Fiocruz-MS e três universidades federais (UFMS, UFMT e UFG), com apoio financeiro do CNPq.

A pesquisa usa DNA recombinante com proteínas TSA-9 e TSA-18, reconhecida pela comunidade científica internacional por sua eficácia.

Prejuízos à pecuária e impactos à saúde pública

Cisticercose bovina: pedaço de carne com cisticerco calcificado. Foto: Divulgação/Embrapa Gado de Corte

De acordo com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), a cisticercose bovina gera prejuízos superiores a R$ 100 milhões por ano no Brasil.

Estados como São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul lideram os índices de ocorrência, com até 3,34% de prevalência em carcaças inspecionadas.

Com a legislação brasileira mais rigorosa desde o Decreto nº 10.468/2020, basta um único cisticerco viável ou calcificado para que a carcaça seja condenada ou submetida a tratamentos por calor ou frio.

Isso afeta diretamente a rentabilidade do produtor e a imagem da carne brasileira no mercado internacional.

Entenda o ciclo do parasita e como ele afeta o consumidor

A doença é causada pela Taenia saginata, conhecida como “solitária”. A larva (cisticerco) se desenvolve nos bovinos e pode ser transmitida ao ser humano por meio do consumo de carne mal cozida ou mal inspecionada.

A tênia adulta pode atingir até quatro metros e se alojar no intestino humano, fechando um ciclo que começa no pasto e termina no prato.

Os ovos da tênia podem sobreviver de quatro a doze meses no ambiente. Quando depositados em locais sem saneamento, contaminam pastagens, onde são ingeridos pelos bovinos. O parasita se desenvolve no músculo dos animais, prejudicando a qualidade da carne e colocando em risco a saúde do consumidor.

Enquanto a vacina não é liberada para uso comercial, as orientações preventivas continuam sendo fundamentais: cozinhar bem a carne, usar água tratada, garantir higiene nas instalações e, principalmente, evitar defecar a céu aberto, prática ainda comum em áreas sem saneamento básico.

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Vacina, diagnóstico e conscientização: um tripé para o controle

O projeto da Embrapa aposta em um controle sustentável, combinando vacinação e diagnóstico preciso. Algumas das proteínas estudadas também estão sendo testadas para uso em kits diagnósticos rápidos, o que pode acelerar a identificação da doença no rebanho.

Além da inovação tecnológica, os pesquisadores também investem em conscientização da população, com palestras em escolas públicas e produção de conteúdo informativo.

“É fundamental explicar que saúde humana, animal e ambiental estão conectadas. Por isso adotamos o conceito de Saúde Única (One Health) no projeto”, destaca Flabio.

Uma das ações é o podcast “Cisticercose em Foco”, com sete episódios disponíveis no YouTube e Spotify, conduzidos pela jornalista Thayssa Maluf. O conteúdo é voltado a pecuaristas, estudantes, técnicos e qualquer pessoa interessada em entender o impacto da doença.

Expectativa é de impacto positivo na economia e na imagem da carne brasileira

Se for aprovada, a vacina brasileira contra a cisticercose bovina poderá ser um divisor de águas na pecuária nacional.

A medida não apenas reduz perdas financeiras, mas fortalece a imagem da carne brasileira diante de mercados exigentes como o europeu, onde normas sanitárias são cada vez mais rigorosas.

“Trabalhar com prevenção é mais eficaz e mais barato. Estamos falando de um avanço que pode mudar o jogo para o pecuarista”, afirmou Flabio.

A expectativa é que os testes clínicos avancem nos próximos meses e que a vacina esteja disponível em breve para uso comercial, após os trâmites legais junto aos órgãos de registro.

Enquanto isso, produtores devem seguir as recomendações sanitárias e manter a rastreabilidade e a inspeção de seus rebanhos em dia, como forma de garantir segurança jurídica, qualidade do produto e saúde dos consumidores.

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