Chuva abaixo do normal e chance de geada precoce: veja previsão para o outono de 2021

Meteorologista adiantou que produtor pode sofrer com janela de tempo seco na estação, que prejudica o cronograma de trabalho das máquinas no campo

Nesta segunda, 22, o meteorologista e doutor em ciência ambiental pela USP Marcelo Schneider, coordenador regional do Inmet, o Instituto Nacional de Meteorologia, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, fez um balanço do comportamento do tempo na primavera-verão e anunciou as principais previsões para o outono, alertando para a chance de ocorrência de geadas precoces já em maio e também chuva abaixo do normal nos já secos meses de abril e maio.

Antes de trazer a previsão do tempo para os próximos meses, o especialista contextualizou o tempo nas últimas estações. “O grande problema foi até antes do verão, foi aquela primavera que foi horrível de calor, muito seco. Faltou chuva em todo o Brasil e a regra geral foi o atraso do plantio da soja, milho, algodão, arroz… Várias culturas tiveram um atraso, tiveram que esperar a chuva, que começou a vir somente em dezembro. […] E a gente escapou, porque podia ser muito pior. A gente escapou de uma estiagem severa no Sul. Mas entre janeiro e fevereiro começou a chover e choveu bem”, contou.

Veja a interpretação do meteorologista sobre mapas de clima nos últimos meses e ainda a previsão para o outono:

CHUVA DOS ÚLTIMOS 90 DIAS

“Onde choveu bastante foi essa área do Centro-Norte. Lembra dos últimos dias, quando o pessoal esteve muito preocupado ali na região de Alta Floresta, sul do Pará, norte de Mato Grosso? Aquela área em azul significa onde choveu mais nesse verão. Essa é a chuva desde final de dezembro até esses últimos dias. Mostra que choveu também no Sul. Não choveu em tanta quantidade, mas pelo menos melhorou a situação ali naquela área que estava sofrendo com estiagem”.

“Outra região preocupando, que também nessa época quase não chove, é o norte da Bahia, todo o interior, o agreste, o semiárido nordestino. Mas a chuva veio em boa hora, também ali no Matopiba, aquele extremo-oeste, Luís Eduarmo Magalhães, pegando Araguaína ali no Tocantins, sul do Maranhão, aquela tríplice divisa. Então teve uma chuva até razoável”.

“A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que está é parceira do Inmet, avaliou em parceria conosco uns mapas de fevereiro e a produtividade em relação ao ano anterior melhorou bastante, porque o ano anterior foi muito ruim. Teve uma seca mais forte do que esse ano, então, em linhas gerais, tirando esses solavancos de clima, até que foi razoável a questão climática”.

CHUVAS JANEIRO E FEVEREIRO 2021

“Em janeiro já teve uma mancha mais azul, que pega Santa Catarina, Paraná, algumas áreas de Mato Grosso. Essa chuva já veio para possibilitar o plantio da soja, principalmente. […] Esse mapa de janeiro e também de fevereiro mostra que a chuva veio em boa hora, principalmente no centro-norte gaúcho, oeste também, naquela área de Uruguaiana, Santa Rosa das Missões, Chapecó-SC, pegando também regiões do Paraná, aquela área de Toledo, Cascavel, área produtora de soja. E no Norte, como a gente acabou de falar, teve bons períodos de chuva, só que também nessas últimas três semanas teve uma chuva até acima do normal. Mas melhor do que não ter chovido, porque a situação lá em setembro até novembro, dezembro, era bem crítica. Lembra das queimadas no Pantanal? Reverteu aquilo em parte. É isso que mostra esse mapa de janeiro e fevereiro”.

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ANOMALIAS DE TEMPERATURAS ENTRE JANEIRO E FEVEREIRO

“Mostra que esse verão não foi tão calorento, o calor não foi tão abrasivo, não foi tão intenso. Não teve grandes ondas de frio, teve algumas geadas no alto da serra em Santa Catarina, mas mostra que algumas áreas entre janeiro e fevereiro, no centro do Brasil, teve uma temperatura um pouco acima do normal. As ondas de calor não foram tão fortes em função do La Niña, que é aquele resfriamento do Oceano Pacífico. Quando tem La Niña, geralmente não faz o calor tão grande e foi o que aconteceu nesse verão”.

CHUVAS NOS ÚLTIMOS 30 DIAS

“Aquelas áreas mais ao Norte, que tiveram chuva mais abundante, é o que preocupa os agricultores no nosso boletim semanal. Eles ficam preocupados em colocar ou não as máquinas no campo, ficam bem apreensivos se vai ter janela de tempo seco. E a gente vai ver que vai ter, sim”.

LA NIÑA – ANOMALIA DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR

“Essa é a temperatura do oceano. Por que a gente fala tanto do oceano? Porque quando tem La Niña, que é a área em azul lá no meio do Oceano Pacífico, quando tem o azulão forte, ele controla o clima e geralmente traz seca para o Sul e chuva mais abundante no Nordeste. Mas não vai ser o caso. […] A perspectiva para esse trimestre de outono, pegando abril, maio e junho, é de situação neutra. O que quer dizer? Não vai haver uma discrepância tão grande provocada pelo La Niña”.

PREVISÃO DE CHUVAS ABRIL, MAIO E JUNHO

“Em regra, a tendência é de chuva um pouco abaixo do normal no Sul do Brasil e pegando até São Paulo, até o sul de Minas, essas áreas mais entre o centro-sul do Brasil, entre abril, maio e junho. Normalmente o outono é composto por meses com redução de chuvas. Normalmente vai diminuindo a quantidade de chuvas, principalmente entre o final de abril, maio e junho. Então a tendência é que tenha chuvas abaixo do normal. Consequência disso é que o pessoal tenha que se programar porque deve faltar água em algumas áreas durante a estação. Não quer dizer que não vá chover. Principalmente em alguns pontos, como citei da divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, as frentes frias devem entrar durante esse outono, tem uma perspectiva de ter temperaturas mais baixas do que o normal, tem até uma chance de ter geada precoce, principalmente entre o final de abril e maio. Maio está pintando como um mês que o agricultor tem que se preocupar bastante porque deve ter frio mais intenso”.

ANOMALIAS NAS PRECIPITAÇÕES ENTRE ABRIL, MAIO E JUNHO

 

“O mapa de cima mostra a média no canto esquerdo. Em cima abril, maio e junho. Abril é mais ou menos dentro da média, um pouco acima da temperatura média no Centro-Norte. No extremo-sul do Brasil, apesar de mostrar vermelho, deve ter algumas áreas com temperatura já mais baixa naquela região de Santa Vitória, Camaquã, pegando Santa Maria. No sul gaúcho, o agricultor já deve ficar preparado. E em maio, sim, já aponta com temperaturas abaixo da média. Como deve chover abaixo do normal, é bem provável que tenha geadas possivelmente precoces no mês de maio. Junho está mostrando temperatura abaixo da média, mas todo esse centro-sul deve ter um mês de alternância”.

“Apesar de ser mais frio em maio, chovendo menos, […] tem um veranico de maio que a gauchada conhece bem. O veranico de maio é quando tem uma temperatura baixa, depois vem um calorzinho. Vale para o Centro do Brasil também, que é bem típico da região central”.

ANOMALIAS NA TEMPERATURA ENTRE ABRIL, MAIO E JUNHO

“Junho continua com temperaturas um pouco abaixo da média, mas provavelmente junho vai ser um mês bem mais variável. Inclusive tem uma previsão de chuva mais forte, aí dá uma virada no norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, talvez sul do Paraná também. Esse deve ser o primeiro mês com chuva acima do normal – mês de junho. Provavelmente pegando mais a divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina”.

PERGUNTAS DOS TELESPECTADORES

Na sequência, Schneider respondeu dúvidas pontuais de alguns telespectadores. O primeiro deles veio de Igor, que reside na região do Bico do Papagaio, no norte do Tocantins. “Lá está bem de chuva. […] Na média, e no mês a mês, principalmente agora abril e maio, são dois meses finais de chuva, quando costuma chover mais. Havia um temor de que pudesse chover abaixo do normal nessa maior parte da Região Nordeste, mas isso não deve acontecer. Apenas algumas áreas mais do interior, pegando talvez o sudoeste do Pernambuco, mais ao norte da Bahia, algumas áreas mesmo do interior podem ter chuvas um pouco abaixo do normal. Mas essa área a oeste da Bahia, o Matopiba como um todo, pelo menos dentro da média vai ficar, o que é uma ótima notícia para a turma da agricultura”, projetou.

Para Miro Guarnieri, de Montes Claros de Goiás, que perguntou sobre o tempo entre março e abril, o meteorologista adiantou que “em Goiás diminui bastante a chuva. Ao norte da região dele ainda chove um pouco acima do normal, principalmente abril, mas maio já reduz bastante […] e junho também. Então maio e junho com tempo mais seco e chuva um pouco ainda acima provavelmente em abril. Agora já para o final do mês (de março) tem uma chuva razoável. Da próxima semana até o final do mês e início de abril, tem uma chuva boa”, destacou.

Da região de Itapetinga, Na Bahia, Ari Campos também perguntou sobre a previsão. “Também tem essa tendência. Abril um pouco mais chuvoso, mas diminui bastante em maio e junho, seguindo a climatologia. Quanto mais perto do Atlântico, mais para o Oceano, tem um pouco mais chuva, porque são as frentes finais. Nessa época do ano, […] os agricultores que ficam mais para o leste, começa a estação chuvosa, indo mais para o litoral”, anunciou.

O telespectador Maílson Sancho, do Ceará, perguntou sobre o tempo no estado, tanto no sertão quanto nas áreas mais próximas ao litoral. “Quanto mais para o norte do estado, indo para o Oceano Atlântico, tem bastante chuva. Deve até chover bem acima da média, pegando essa região junto ao Piauí, Maranhão, tem chuva bem acima do normal. Indo para o sul do estado, na região do Cariri, tem chuva dentro da média. Provavelmente abril e maio com um pouco mais de chuva e junho, aí sim, diminui bastante”, antecipou.

Afonso Rosalen perguntou a respeito do tempo no norte de Mato Grosso do Sul nos próximos dias. “Tem uma frente fria se formando de novo e agora é época do ano, esse próximo mês como um todo, tem uma semana mais seca e uma mais chuvosa. Mas essas chuvas de março, do final do mês agora e principalmente abril, ainda pegam aquela região. Tem que cuidar depois da virada do mês. Durante abril e principalmente maio e junho, você pode ver pelos mapas, tem diminuição das chuvas. A mensagem para ele, nessa região, é que, se puder, reserve água nos açudes, galões. Na região da fazenda dele, fique bem atento, conte com essa água nessas próximas duas a três semanas porque depois deve secar bem rápido”, avisou.

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Confira pelo vídeo abaixo a entrevista completo com Marcelo Schneider, do Inmet:

Foto: Reprodução / Governo do Brasil

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