Brasil pode bater recorde na safra de grãos, mas preços devem seguir pressionados

Agrônomo apresentou panorama da safra 2020/21 com expectativa de colheita recorde, fez alertas sanitários e apontou principais regiões para o avanço das culturas

Em entrevista concedida ao Giro do Boi desta quinta, 28, o engenheiro agrônomo Ivan Romano Jarussi, gerente de marketing de cultura soja e milho da FMC Agrícola, apresentou o panorama da safra de grãos 2020/21, apontando estimativas de volumes, preços e os principais desafios sanitários dos produtores. A expectativa é que o país possa colher um recorde estimado de 264,8 milhões de toneladas, conforme divulgou em 13/01 a Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, no seu último levantamento.

Jarussi emitiu sua opinião sobre os motivos que levam ao avanço da produção nacional. “Não só por conta da tecnologia, mas o que veio antes da tecnologia, que é profissionalização. Cada vez mais o produtor está mais antenado, profissional, fazendo direito e aí, sim, a tecnologia vai ajudar muito porque ele faz bom uso da tecnologia em todos os segmentos. Esta para mim é a resposta”, sustentou.

“Hoje você vê inclusive muitos produtores plantando soja e milho, o que antigamente não acontecia. Não são todos, mas hoje já temos 15 milhões de hectares de milho safrinha, ou seja, uma área considerável da soja já vira a segunda safra de milho porque os produtores se profissionalizaram, eles estão entendendo a importância da rentabilidade do sistema. A fazenda é uma empresa, é a única diferença é que é uma empresa a céu aberto, mas é uma empresa que tem que tomar cuidado como qualquer outra”, ponderou.

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O agrônomo corroborou a estimativa da Conab de recorde para a safra a ser colhida. “A gente acompanha não só em contato com o produtor, mas junto a várias empresas que fazem esse tipo de levantamento. E o que eu posso dizer para você é que, sim, é possível ter um recorde. Nós estamos falando de soja produzindo provavelmente mais de 130 milhões de toneladas e o milho mais de 105 a 110 milhões de toneladas, somando as duas safras. Ou seja, só aí nós temos 235, 240 a até 245 milhões de toneladas. Ou seja, é possível, sim, que o número aconteça”, frisou.

O especialista salientou, entretanto, que a área plantada deverá aumentar, o que pode explicar o recorde. “Isso tem muito a ver com o aumento de área. A soja aumentou a área plantada em cerca de 4%, o que é bastante para quem tem um tamanho de área como o nosso. E o milho segunda safra está chegando já a 7% de aumento. Esse aumento de área já impulsiona (para o recorde)”, apontou.

Além de profissionalização, uso de tecnologia e aumento da área plantada, Ivan comentou que algumas das condições adversas observadas na última safra não deverão de repetir, o que favorece a colheita. “Nós temos, sim, uma situação melhor também no Rio Grande do Sul na comparação com o ano passado, nós não temos aquela perspectiva daquela quebra, que foi em média de 30 sacos, 35 sacos. Tudo isso tudo ajuda. É lógico que algumas regiões vão produzir menos do que no ano passado. Você pega região oeste do Mato Grosso, que teve esses problemas de seca no início do plantio, que atrasou plantio… Essas regiões provavelmente produzirão um pouco menos que o ano passado, mas, no geral, no Brasil, pelo aumento da área e por não ter o problema no Rio Grande do Sul, que foi grave na última safra, é bem provável que a gente tenha, sim, uma safra maior”, estimou.

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PROJEÇÃO DE PREÇOS

Em relação aos valores dos grãos, Ivan observou que o cenário se torna mais incerto por conta dos impactos da pandemia, cujo desfecho ainda é desconhecido. “Preço de soja e milho é algo que é bem difícil de falar porque nós estamos em um cenário que vai além do que ocorre normalmente. Nós temos no meio de tudo isso uma pandemia, então isso pode influenciar muito os preços”, refletiu.

“O que a gente sabe é que os preços vão continuar de certa forma pressionados. Eu acho que faltar produto, não falta. Lógico que eu acredito que, à medida que o setor de soja e milho vai se profissionalizando, o Brasil vai disponibilizar a cada ano um recorde novo, a não ser que aconteça algum problema climático considerável. Mas a gente vai disponibilizar produto tanto para exportação quanto para abastecer o mercado interno, que é muito importante. Até porque isso também gera não só abastecimento de carne para o mercado interno, mas também exportação para o Brasil de carne. Então eu acredito que não vai faltar (insumo para engorda de bovinos). A questão do preço é algo que a gente tem que acompanhar, principalmente por conta do momento que nós estamos vivendo”, completou.

De acordo com o especialista, cabe ao produtor – agricultor e pecuarista – se planejar para atender a demanda, uma vez que o cenário é de produtos valorizados para ambos. “A agricultura é algo que flutua muito. […] Tanto na pecuária quanto na agricultura os preços são ditados pelo mercado internacional, então o que não podemos é não ter carne, não ter soja para vender num ano bom. Por isso você tem que acreditar sempre no futuro e sempre apostar. Não tem como a gente adivinhar. Nós demoramos anos para engordar um boi, nós demoramos meses para colher uma lavoura de soja e milho, ou seja, se você para de investir achando que aquele não é um bom momento, na hora que você for comercializar sua lavoura ou seu lote, você pode estar num momento bom e não ter produto”, alertou.

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INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA

“O sistema ajuda, com certeza (a minimizar efeitos da variação de preços). E mais do que isso: dá sustentabilidade para o sistema. Eu falo que a lavoura-pecuária é muito parecida com o sistema soja-milho. O produtor está entendendo que o milho safrinha é uma importante parte da rentabilidade do sistema todo. Quando você faz o sistema integrado, você não pensa só no gado. Você vai investir um pouco mais, lógico, mas você começa a tirar muito mais retorno, você começa a usar melhor a terra, você inclusive melhora até a própria qualidade da terra e você dá sustentabilidade para o sistema e isso é importante. Isso é o que nós temos que buscar em qualquer segmento, não só da agricultura, mas que ele seja sustentável, ou seja, que a longo prazo seja um sistema viável”, explanou.

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Jarussi indicou quais são as regiões do País que ainda devem apresentar avanço da agricultura. “Com certeza o Mato Grosso ainda cresce muito. É lógico que ele já está grande demais, mas ele cresce muito. E é natural que também cresça do Tocantins para cima, para o Norte do Brasil, que é onde estão as maiores áreas para expansão. A gente tem uma limitação muito grande na Região Sul, que já está bem tomada. As principais áreas estão no Mato Grosso, Goiás com pouca coisa, já que também está bem tomado, e aí começa do Tocantins para cima com as regiões com mais disponibilidade de terra”, apresentou.

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MANEJO SANITÁRIO

O agronômo alertou para os principais problemas de ordem sanitária para as lavouras nesta safra. “Como a gente veio de um ano mais seco, acaba tendo menos doenças. Isso não é uma fórmula e também não está regionalizado para o Brasil todo, mas, de modo geral, em anos mais secos, como esse, você acaba tendo menos problema de doenças, pois o ambiente é menos propício, tem menos umidade e normalmente menos doenças”, ponderou.

Ainda assim, algumas adversidades específicas podem se apresentar ao agricultor, conforme analisou. “O que a gente vê em anos mais secos, pelo próprio calor, são os insetos se multiplicando mais e a gente tendo mais problemas. A lagarta veio com força esse ano, em regiões do Sul do Brasil onde a lagarta estava mais controlada ela veio com muita força. E a gente vê no Brasil todo, mesmo na soja Bt, os problemas com Spodoptera, e inclusive já está sendo relatado em soja Bt a presença de falsa-medideira. Não se sabe ainda, e eu ainda não recebi notícia, se é Crhysodeixis ou se é Rachiplusia, eu entendo que deva ser Rachiplusia. Mas se for Rachiplusia, já seria uma lagarta que está se adaptando ao sistema e pode entrar no sistema de soja Bt nas próximas safras. Então num ano como esse, lagarta é problema. Percevejo, por enquanto, ainda está de certa forma dentro de uma população estabelecida, normal. Mas ainda é muito cedo em algumas regiões e o percevejo, se não for controlado na soja, vai entrar com força no milho e, aí sim, ele traz sério problemas fisiológicos, então a gente precisa cuidar muito”, detalhou.

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Assista clicando no player a seguir a entrevista completa com Ivan Romano Jarussi:

Foto: Reprodução / Prefeitura Municipal de Boa Esperança do Iguaçu-PR

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