Nesta segunda, 03, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o doutor em zootecnia Gustavo Rezende Siqueira, pesquisador da Apta, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O especialista celebrou que, ao passo que os mercados tanto interno quanto externo aumentam suas exigências sobre a carne bovina brasileira, o setor produtivo responde. “A gente tem visto ainda mais, cientificamente falando, uma grande evolução principalmente no Brasil começando a falar muito mais da cria, das fêmeas e falar um pouco mais de macho no que diz respeito a confinamento, eficiência, melhoria de uso de insumos”, elencou o pesquisador entre as principais evoluções.
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Gustavo citou a crescente demanda da China, em destaque no final de 2019, como um dos fatores catalisadores para a transformação. “A gente sempre falou que o acabamento é muito importante, a idade dos animais também muito importante, e a pesquisa, juntando com o mercado no ano passado, o que a gente viu? Agora que a gente tem um cliente forte, a China, exigindo idade, com isso abater animais jovens se tornou cada vez mais importante. E isto é mais complexo do que necessariamente colocar um pouco mais de acabamento, você tem que mudar todo o sistema de produção. Então são cenários: eficiência da cria, encurtar a recria, que é o que já vem sendo feito, e eficiência na terminação”, resumiu.
O doutor em zootecnia lançou os principais fatores que podem fazer o produtor aproveitar o potencial da pecuária tropical brasileira para produzir a arroba de baixo custo e alto lucro. “A primeira coisa que a gente tem que pensar é que se você está na pecuária a pasto, que é pasto o ano inteiro e você não vai fazer confinamento ou coisa deste tipo, 80% ou mais da sua meta de ganho de peso são feitos nesta época (nas chuvas). Então é fundamental para o lucro da fazenda. A arroba produzida na seca a pasto vai ser cara, ela é muito mais cara do que a das águas, então agora é a hora de aproveitar muito o potencial do pasto. Você tem que manejar bem seu pasto, tem que olhar pro seu pasto como uma cultura, manejar ele, pensar na entrada, saída, ajuste de lotação, […] Se faça de boi, vá até o pasto e tente colher o pasto que você está oferecendo pro seu boi e veja se aquilo está fácil ou difícil de ele consumir. […] Aí a gente usa estratégia das águas potencializando o ganho. Se o animal já está ganhando peso com pasto, […] aí eu vou entrar com suplementação adicional”, revelou.
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A suplementação das águas, conforme ensinou o pesquisador, é variável conforme os objetivos de cada pecuarista. Ele pode intensificar para abater antes da entressafra ou preparar os animais para uma futura entrada em confinamento, e também varia se precisar estar preparado para terminação no primeiro ou segundo ciclo. Siqueira indicou que o produtor ofereça suplementação aditivada de consumo de 100 a 120 gramas com outros elementos, como nitrogênio e farelo, para estimular consumo, o que pode fazer com o animal tenha até 120 g de ganho diário adicional com custo reduzido.
“Muitas vezes a gente até acelera o animal um pouco mais agora pra abater em abril ou maio, aproveitar o potencial de produção de pasto, fazer um boi com uma arroba de baixo custo, ou seja, de alto lucro. Não é só baixo custo, é alto lucro! E aliviar a fazenda pra ela passar bem a seca. […] Se eu vou terminar um boi, eu tenho que tratar um pouco mais desse animal. […] No Brasil, em que a gente tem a maior parte dos animais abatidos inteiros, se a gente não tratar, não dá o mínimo do mínimo de acabamento. É um produto ruim, que a gente não quer colocar no mercado”, advertiu.
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Gustavo comparou o mineral aditivado com o tempero da comida. “Sem mineral, você não aproveita o máximo dos ingredientes que são bons. […] Às vezes você vai em um restaurante em que a comida é muito mais simples, mas o tempero é muito melhor. Você fica muito mais satisfeito, usa muito melhor aqueles nutrientes, aquela matéria prima que foi dada. Então eu digo que um suplemento de águas é o tempero de uma boa comida”, frisou.
O pesquisador aconselhou que o pecuarista faça um mudança de mentalidade para encurtar o ciclo do boi dentro da porteira e dê o acabamento necessário no prazo estabelecido, ou seja, com o animal ainda jovem para que tenha qualidade de carne. “Em vez de botar carimbo de mês de nascimento no gado, põe um carimbo da data de abate nele, […] É a data de validade do boi”, descontraiu.
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O pesquisador da Apta comentou ainda as pesquisas direcionadas à nutrição de fêmeas para desafiar as “precocinhas” à reprodução aos 14 meses. “A gente acredita que a fêmea é a categoria que nós mais vamos evoluir nutricionalmente nos próximos anos […] A gente deixou a fêmea muito pra trás”, lamentou Siqueira. O zootecnista ressaltou que o criador de fêmeas tem que ter dois grandes targets, ou alvos, para melhorar sua eficiência: emprenhar as novilhas com 14 a 15 meses e fazer isto de modo que ela possa parir bem perto dos seus dois anos de idade e possa reconceber. Dando as condições ideais para estas fêmeas, o pecuarista ou terá uma matriz de ótima qualidade ou, no caso de ela não superar o desafio da reprodução, poderá ser destinada com alto valor agregado a programas de qualidade de carne.
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Antes de encerrar sua entrevista, Gustavo aproveitou para fazer convite para dois eventos importantes no calendário de 2020 da Apta. O primeiro deles é o Configem, Conferência sobre Silagem para Gado de Corte nos dias 7 e 8 de julho em São José do Rio Preto-SP. O encontro vai tratar do uso de silagem dentro dos sistemas de produção, na suplementação de vacas, sequestro de bezerros e ainda diferentes usos dos grãos na silagem para aproveitar todo o potencial nutritivo. A programação do evento está disponível pelo site do Configem.
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Já no dia 19 de agosto acontecerá na própria sede da Apta, polo regional da Alta Mogiana, em SP, no município de Colina, a terceira edição do Beefday, um dia de campo bienal que conta com palestras e discussões técnicas sobre alternativas capazes de aumentar a produtividade da pecuária em diferentes sistemas. A programação e as inscrições estarão disponível em breve pelo site do evento, e pelo próprio portal da Apta.
Veja a entrevista completa com o mestre em zootecnia Gustavo Rezende Siqueira, pesquisador da Apta, pelo vídeo abaixo: