“Trabalho com confinamento o ano todo. A suplementação dos animais no cocho impacta no consumo de água no dia a dia? Eles bebem menos? E após inserir o alimento, qual o coproduto suja mais o bebedouro do gado?”, disse em mensagem ao Giro do Boi o pecuarista Ailton Lyra Marquez, de Mozarlândia-GO.
O Giro do Boi Responde que foi ao ar nesta sexta, dia 02, tirou a dúvida de Ailton. Quem atendeu o produtor foi o médico veterinário Fernando Loureiro, especialista no assunto.
Conforme elucidou Loureiro, os consumos de alimento e o de água são diretamente proporcionais, ou seja, quando o gado bebe mais água, o consumo de suplemento aumenta.
“Eu começo a resposta citando um trabalho que foi tese de mestrado do Ânderson Panzera, realizado no Grupo Mantiqueira, em Mato Grosso. O grupo tem um dos maiores confinamentos na região do Vale do Araguaia e ele fez um trabalho avaliando limpeza de bebedouro todos os dias comparando com a limpeza do bebedouro a cada três dias. Isso impactou diretamente no consumo voluntário, o consumo espontâneo de água. E esse consumo de água se traduziu em maior consumo de matéria seca, maior consumo de dieta total no cocho. E, lógico, esse maior consumo de dieta total também se traduziu em maior ganho de peso”, confirmou Loureiro.
“Quanto mais água os animais bebem, melhor eles vão comer, ingerir a dieta, seja de capim ou, no caso do confinamento, a silagem com a composição de concentrado, a dieta total dos animais”, reforçou.
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O veterinário lembrou que, embora tenha que ponderar a variável de conversão alimentar, de modo geral o maior consumo de alimento aumenta também o ganho de peso do gado. “E comer mais é o que a gente quer na grande maioria dos casos. Lógico que tem o fator de conversão alimentar, mas quanto mais os animais comem, no geral, mais eles nos respondem com esse ganho de peso adicional”, frisou.
E foi o que aconteceu no estudo do pesquisador Ânderson Panzera. “O Ânderson, no confinamento do Grupo Mantiqueira, fez essa avaliação e eu vou mostrar os dados para vocês. Os dados já foram publicados na revista DBO e estão disponíveis para que todos possam acessar essa matéria, mas também é o trabalho de tese de mestrado do Ânderson”, pontuou.
Na sequência, Fernando revelou os números obtidos no trabalho de Panzera. “Lavando o bebedouro todos os dias, os animais passaram a ingerir 42 litros de água, […] bem acima dos 28 litros que eram observados quando os bebedouros eram lavados a cada três dias. Esse consumo de água a mais também teve impacto observado na leitura de cocho – um consumo maior de dieta total, de matéria seca, elevando de 11,7 para 13 quilos por animal ao dia. […] Isso se traduziu em 280 gramas a mais de ganho médio diário por animal por dia. Isso é mais do que suficiente para pagar todo o investimento num maior consumo de matéria seca, nos funcionários que vão ter que lavar com bastante frequência os bebedouros. E veja bem, aqui a gente está falando de confinamentos de 300 animais, 3.000 animais, 30.000 animais. Lavar o bebedouro todos os dias vai impactar em maior desempenho dos animais, um maior ganho”, analisou Loureiro, projetando ganhos expressivos em escala.
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O especialista também citou porque a diferença de consumo de água ocorre quando o bebedouro é limpo com maior frequência. “Tudo que o animal consome, ele carreia na boca, até por ser um ruminante – tudo o que ele ingere volta para ser mastigado. Então ele traz na boca os restos dos alimentos que acabam caindo dentro do bebedouro, seja farelo de soja, milho, a própria silagem, o capim, o feno, enfim, o que tiver sendo servido. Além disso, tem o crescimento de algas, de lodo. Os animais também podem se virar no momento de beber água e acabar sujando o bebedouro com esterco. Essa é a necessidade de lavar, os animais querem e precisam beber a água mais limpa possível”, relacionou.
“Esse é um trabalho científico, não é mais um achismo ou empirismo: lavar o bebedouro impacta no resultado geral”, concluiu Loureiro.
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Confira a resposta completa do veterinário pelo player abaixo: