Pesquisador lista os grandes erros que cometemos com o solo brasileiro

Pagar para errar? Agrônomo com mais de três décadas de atuação no IAC alerta para uso inadequado de tecnologias, que leva a erros primários com o solo

Você sabe quais são os erros primários do manejo de solo e que mais custam caro ao produtor rural? O engenheiro agrônomo Afonso Peche Filho, mestre em engenharia de água e solo e doutor em ciência ambientais, atuando há mais de três décadas como pesquisador do IAC, o Instituto Agronômico de Campinas, escreveu recentemente um artigo para promover um debate a respeito destes equívocos, que ele chama de “Estratégias autoprejudiciais na agricultura brasileira”.

“Os resultados negativos estão vinculados ao uso inadequado de tecnologia. Quando a gente acessa tecnologia, quando o produtor compra tecnologia, ela é extremamente cara e ele passa a não usar adequadamente. A gente diz que ele paga pra errar. À medida em que você compra uma tecnologia, você acessa ela, ela também exige de você uma certa competência para poder potencializar tudo que ela oferece. A gente tem uma certa dificuldade de administrar estas questões e tem determinadas tecnologias que exigem mais habilidade do que outras. Nesse mundo tecnológico, ela acaba influenciando de certa forma ou diretamente no resultados da propriedade”, explicou Afonso.

Saiba quais são os três maiores gargalos do manejo de solos do Brasil

“Não é difícil encontrar uma máquina de última geração produzindo resultados negativos. É comum encontrar áreas irrigadas com processos erosivos avançados pelo uso excessivo de água. Na pecuária tem-se uma convivência passiva entre a alta genética e a degradação das pastagens. Muitas são as áreas com sistemas agroflorestais instalados de morro abaixo”, ilustrou o pesquisador do IAC em seu artigo.

Veja abaixo a lista destes principais erros de manejo de solos no Brasil:

– Aquisição e uso de fertilizantes sem realizar análise de solo;
– Aplicação de corretivos e fertilizantes a lanço sem regulagem adequada e sem monitoramento da qualidade na uniformidade e regularidade de deposição;
– Revolvimento profundo do solo antecedendo períodos de chuvas intensas;
– Exposição do solo em períodos de sol intenso;
– Escarificação/subsolagem cruzada.
– Mobilização do solo morro abaixo;
– Eliminação de práticas conservacionistas;
– Pouca manutenção de práticas conservacionistas;
– Semeadura /plantio morro abaixo;
– Semeadura cortando terraços;
– Semeadura com fertilizante químico misturado com a semente;
– Escolha de cultivares suscetíveis a nematoides;
– Pulverização sem conferência de vazão, produtos inadequados, não uso de adjuvante;
– Colheita sem monitoramento de perdas;
– Falhas grotescas no armazenamento;
– Altas perdas no transporte.

Qual o jeito certo de coletar amostras de solo para análise?

Afonso acrescentou também que a dificuldade de acesso a assistência técnica é um dos problemas que agravam e ajudam a tornar estes erros mais constantes. “Uma grande dificuldade é que não praticamos efetivamente uma assistência técnica e nem um modelo de extensão que encare esse desafio de frente. Infelizmente só o tempo vai corrigir esse problema da agricultura brasileira”, opinou o agrônomo em seu artigo.

Afonso fez um convite para quem quer ter acesso às publicações técnicas do IAC, o Instituto Agronômico de Campinas, órgão vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. As cartilhas, artigos, comunicados e similares estão dispostos na área de Informações Tecnológicas do site do IAC.

Acesse também:

Erosão ameaça segurança alimentar, hídrica e energética; como evitar?

12 etapas para você se tornar um craque do manejo de pastagens

Como saber se minha pastagem está degradando?

No vídeo abaixo, é possível assistir na íntegra a entrevista com Afonso Peche Filho:

 

Sair da versão mobile