Fazenda usa estratégia nutricional para buscar quase 80% de prenhez em primíparas

Propriedade do interior do MS também se beneficiou com aumento de peso à desmama e melhor acabamento de carcaça das fêmeas descartadas

Um estudo conduzido em uma fazenda de ciclo completo no interior do Mato Grosso do Sul serviu para desenvolver uma estratégia de suplementação de novilhas e primíparas para que as categorias apresentassem taxa de prenhez mais próxima à das multíparas. O levantamento faz parte da dissertação de mestrado da médica veterinária Bruna Catussi, que concedeu entrevista ao Giro do Boi nesta terça-feira, dia 1º.

Catussi falou ao programa do desafio da reconcepção das primíparas. “A primípara tem essa característica, ela é muito nova, vai ser emprenhada em torno de 24 meses, vai parir com 36 e vai estar em fase de crescimento e ela tem uma alta demanda energética”, apresentou.

Na Fazenda Mater, em Santa Rita do Pardo, no MS, a estratégia para aumentar os resultados em taxa de prenhez passou pela implantação da IATF com ressincronização e suplementação tanto no pré-parto das novilhas como no pós-parto para facilitar a reconcepção. O estudo foi feito em 420 fêmeas Nelore e tratou do problema de uma forma real, ou seja, com um custo que tornasse a solução viável, aplicável à realidade das fazendas brasileiras, destacou Catussi.

“Sempre foi um gargalo da pecuária em si. E na Fazenda Mater não era diferente. Nós sempre fomos muito preocupados com isso. O seo Gerson, pioneiro daqui, que trabalha comigo, meu pai, sempre tratou como um problema, um gargalo. A gente sempre ficava em 50%, 40%. Aí veio a IATF. A gente conseguiu com IATF melhorar um pouquinho e chegar a 60%, mas o índice de prenhez comparado com multíparas foi uma surpresa depois do projeto da Bruna e com alguns manejos a mais”, confirmou Rafaela Maria Sutiro Angelieri Auder, que atua como zootecnista na Fazenda Mater.

Já a nutrição contou com ajuda de um suplemento em bloco, conforme explicou a médica veterinária e mestranda Bruna Catussi. “A gente escolheu utilizar esse suplemento por conta de praticidade. O que ele traz para a gente é a questão da praticidade porque não precisa ser colocado todo dia, como um suplemento convencional. Ele pode ser colocado apenas uma vez por semana ou a cada dez dias para o gado, então a gente tem esse uso da mão de obra reduzido e a gente não perde (o suplemento) com chuvas, com vento. Ele tem uma boa palatabilidade, isso leva o gado a consumir bastante a quantidade adequada”, informou.

Uso do suplemento em bloco foi um dos pontos da estratégia nutricional para aumentar a taxa de prenhez das novilhas e das primíparas.

O uso da monensina também foi preponderante para elevar os resultados. “Como o pasto está seco nessa época do ano, a monensina ajuda nesta questão de ruminação e de saúde do rúmen e potencializou os ganhos com essa categoria”, acrescentou Bruna.

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Os resultados alcançados foram expressivos, conforme listou Rafaela. “Na primeira (estação de monta usando a estratégia), em 2018/19, a gente teve 70,5% (em taxa de prenhez). Em 2019/20 70,9% das novilhotas (emprenharam). E agora, nesse ano, a gente está esperando 72% em três IATFs”, projetou. No caso das primíparas, a meta é um pouco mais audaciosa para 2020/21: 78% de prenhez.

“A fazenda costumava fazer apenas uma inseminação e depois colocava para repasse com touro. E aí, nas primíparas, que a gente sabe que é essa categoria que precisa de mais estímulo hormonal para responder, a ressincronização foi essencial para gente fechar um índice bacana com essa categoria”, justificou Bruna.

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Mas a taxa de prenhez não foi o único indicador que apontou o sucesso do novo sistema implementado para a cria da Fazenda Mater. “Além disso, teve também a questão dos bezerros na desmama, que foram mais pesados. E foi legal que a gente também conseguiu analisar que as primíparas que não ficaram prenhes puderam ser abatidas, então elas não precisaram ficar na fazenda durante a seca para serem terminadas. Já estavam com acabamento perfeito e isso foi muito interessante”, completou Rafaela. Na propriedade, o peso médio dos bezerros das novilhas suplementadas foi 10 kg superior à média anterior de peso à desmama da categoria.

Peso à desmama 10 kg superior à média anterior foi um dos benefícios da estratégia reprodutiva e nutricional utilizada na Fazenda Mater.

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Como um dos objetivos do estudo foi encontrar uma solução aplicável à realidade das fazendas brasileiras, Bruna comentou a viabilidade da replicação deste sistema. “Eu acredito que seja extremamente interessante, mas tem que ter estratégia. Se a gente não pensar em uma estratégia nutricional para essa novilhas chegarem com aporte nutricional adequado e uma condição corporal adequada, a gente vai acabar perdendo dinheiro. Então eu acho que se fizer uma estratégia desde a desmama até o momento em que ela é inseminada, a chance de sucesso é grande”, sustentou.

“Para você diminuir a idade (à primeira concepção) dessas novilhas, precisa de atenção muito grande para ela. Ela emprenhar a primeira vez é fácil, mas para ela reconceber e manter esse escore corporal, já que ainda está se desenvolvendo, você precisa de um aporte nutricional muito forte. Essa redução de idade das novilhas é importante? É importante para uma fazenda, isso é precocidade. E é como o professor Bento fala: você pode ter genética, mas se você não tem boia, você não tem a demonstração do genótipo desse animal. Então você tem que ter atenção nutricional, principalmente”, reforçou Rafaela.

Novilhas prenhes na Fazenda Mater: manutenção do escore corporal foi decisivo para boa taxa de reconcepção.

“A gente fez toda uma análise econômica levando em consideração o custo desse produto (suplemento em bloco), que é um pouco mais alto, mas o ganho que a gente tem com uso reduzido de mão de obra, já que a gente não precisa repor frequentemente, e o desempenho que ele trouxe a mais (compensaram). Então ele trouxe bezerro a mais no final da estação de monta e a gente teve a estação de monta adiantada porque teve mais vacas prenhes no início, na primeira inseminação. Então colocando todas essas vantagens, a conta fechou e fechou bastante”, valorizou Bruna.

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Confira as entrevistas completas com a médica veterinária Bruna Catussi e com a zootecnista Rafaela Auder no vídeo a seguir:

 

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